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 | Atila Alberti/TRIBUNA DO PARANA
| Foto: Atila Alberti/TRIBUNA DO PARANA

A morte de um adolescente de 16 anos – dentro de uma das cerca de 850 escolas ocupadas por estudantes no Paraná – deixou a comunidade do bairro Santa Felicidade, em Curitiba, em estado de choque nesta segunda-feira (24). Assim que as primeiras informações sobre o assassinato foram divulgadas por meio de grupos de WhatsApp e sites de notícias, pais, vizinhos, alunos e professores se aglomeraram em frente ao Colégio Estadual Santa Felicidade em busca de informações.

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O colégio já havia sido visitado pelo Conselho Tutelar nos últimos dias e nenhuma irregularidade havia sido encontrada. Segundo a Polícia Civil, o desentendimento entre dois jovens – ambos alunos da escola –, após o consumo de drogas sintéticas, teria resultado no esfaqueamento de um deles.

A aflição tomava conta das mães que aguardavam por notícias dos filhos que naquele momento ainda estavam dentro do colégio. Quem acompanhou a ocupação da escola desde o início relatava surpresa com o ocorrido. Era o caso de Diair Aparecida de Jesus, que recebeu um telefonema do filho, de 15 anos, contando que um colega havia sido morto ali. Há poucos dias, ela e o marido doaram tintas e pincéis para a turma pintar o prédio da instituição. “Não era bagunça que eles estavam fazendo”, reforçava ela, entre o pedido à Polícia Militar para que abrisse os portões da escola e o relato desesperado à reportagem. “Meu filho ligou apavorado. Quero que ele saia ou que eu possa entrar com ele. Todos os pais têm que entrar e ficar com os meninos que estão lá dentro”, disse a mãe.

Do outro lado da rua, quem não tinha familiares dentro da ocupação também mostrava comoção. Vizinha da escola, Tânia Mara Rossa lamentava a situação e se colocava no lugar de outras mães. “Fiquei assustada porque meu filho de 22 anos já estudou nessa escola e meu pequeno ainda vai estudar. Penso como está o coração destes pais agora, principalmente os que apoiaram a ocupação”, comentou.

Os alunos da escola custavam a acreditar no que havia ocorrido. “Estava uma paz lá dentro, não dá para entender”, disse um menino de 14 anos. Conforme ele, o movimento havia sido feito de forma muito organizada. “Só entravam com autorização e eram divididos em comissões”, contou. Ainda na porta da escola, havia um cartaz com as regras a serem seguidas do lado de dentro, tais como a revista como medida de segurança e as fitas pretas e amarelas para diferenciar alunos da ocupação e visitantes.

Amiga da família da vítima, a cuidadora de idosos Solange de Souza deixou o trabalho e foi para a porta da escola tentar saber sobre o estado da mãe do jovem morto. Os anos de amizade entre as duas a levavam a imaginar o estado inconsolável da mãe, doceira em uma padaria de Curitiba. “Minha amiga só tinha o filho e ele só tinha ela”, lamentou.

Estudante morto era calmo e estudioso, diz amiga da família

O menino assassinado era um “guri estudioso, querido e calmo”, de acordo com a cuidadora de idosos ouvida pela reportagem, que é amiga da família. Por vezes, Solange, o garoto e a mãe dele almoçaram juntos e o adolescente se mostrava um rapaz preocupado com os estudos.

Filho único, o jovem havia se mudado com a mãe para Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, mas continuava a estudar em Santa Felicidade. O pai morreu quando ele tinha 4 anos. “O menino gostava demais do bairro, dos amigos. A mãe acabou voltando com ele para cá. Faz um mês que se mudou [novamente, da RMC para a capital]”, relatou Solange, que, em meio à confusão, conseguiu falar com a amiga por alguns segundos.

Entre lágrimas, a mãe do adolescente só dizia querer levá-lo vivo para casa. Ela precisou receber atendimento médico antes de ser liberada.

O bom comportamento da vítima também foi lembrado por professores que se sensibilizaram com a situação e foram até o colégio. Emocionados, eles engrossavam os pedidos à polícia para que pudessem fazer companhia aos alunos da ocupação, na tentativa de oferecer um pouco de amparo aos que estavam dentro do colégio.

Do lado de fora, era possível ouvir choro e gritos. “Estamos todos boquiabertos com isso. Esse ano não trabalhei com ele [vítima], mas é só pegar as fichas dele do colégio e olhar. Não era um aluno que dava problema”, observou a professora de Língua Portuguesa Loren Júlia.

O diretor da escola, Luiz Carlos Bueno, foi o último a sair do colégio. Acompanhou toda a desocupação da instituição e a limpeza do sangue da vítima por professores e conselheiros tutelares. “Era um dos melhores alunos que tivemos. Era crítico, político e gostava de se posicionar”, disse o diretor sobre o jovem morto.

No olhar, Bueno carregava a tristeza do dia mais pesado de seus 23 anos de magistério. “Nunca tinha visto nada assim”.

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