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 | Fabio Conterno/Gazeta do Povo/Arquivo
| Foto: Fabio Conterno/Gazeta do Povo/Arquivo

O Ministério da Justiça autorizou o retorno de tropas da Força Nacional de Segurança (FNS) a Quedas do Iguaçu. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa, a partir de um questionamento da Gazeta do Povo. O número do efetivo não foi informado nem a data em que os militares irão retornar ao Paraná. O envio das tropas ao município no Oeste do Paraná foi motivado pela morte de dois sem-terra em confronto com a Polícia Militar na quinta-feira (7).

INFOGRÁFICO: saiba onde ficam os assentamentos e os acampamentos do MST que envolvem a empresa madeireira Araupel.

Velório

Um velório relâmpago no assentamento Dom Tomás reuniu centenas de pessoas que se despediram dos sem-terra Leonir Orback, 25, morto junto com Vilmar Bordin, 44, em um confronto com a Polícia Militar na quinta-feira (7). Durante a cerimônia, o MST reafirmou a disposição de ocupar “cada palmo de terra da Araupel”.

O corpo do sem terra Leonir Orback foi velado durante pouco mais de uma hora no assentamento e depois levado para Francisco Beltrão, onde será sepultado. Advogados do MST vão pedir um novo exame de necropsia porque no laudo provisório não constaria um disparo que atingiu a cabeça do sem-terra, apenas no abdome. A reportagem não conseguiu contato com o IML (Instituto Médico Legal) de Cascavel para esclarecer a situação.

O clima na cidade é tenso e as pessoas têm receio de comentar a situação de conflito. A dona de casa Olga Giacomin, que mora na cidade há 30 anos, afirmou que todos estão amedrontados. “Era uma cidade calma e agora tem tudo isso”, diz.

Proprietário de uma empresa para lavar carros, Adilson dos Santos já integrou o movimento sem-terra e classificou o confronto como uma “tremenda covardia”. Para ele, o agravamento do conflito agrário acabará com a Araupel. “E vai acabar com a cidade também, porque sem a Araupel isso aqui vai ficar um deserto”, disse.

A cidade amanheceu tomada por policiais de várias regiões do Paraná. Segundo o tenente-coronel Washington Lee Abe, a polícia ficará no local por quanto tempo for necessário. O assessor Especial de Assuntos Fundiários do governo do Paraná, Hamilton Serighelli, participou de várias reuniões em Quedas do Iguaçu para tentar amenizar o clima de tensão. O superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, esteve presente no velório.

Desde dezembro, a FNS reforçava a segurança na região, a pedido do governador Beto Richa, que solicitou o apoio ao governo federal em função do acirramento do conflito agrário no local. Contudo, o reforço era provisório – pelo prazo estipulado de 90 dias – e venceu no mês passado. Com a saída da FNS, o governo estadual decidiu reforçar o policiamento, enviando mais 100 policiais (o número total não foi anunciado).

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) afirma que a polícia avançou, atirando, sobre um grupo de integrantes. Já a polícia informa que apenas revidou depois de ser recebida a tiros.

Investigação federal

O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, determinou à Polícia Federal a instauração de inquérito para apurar os fatos ocorridos em Quedas do Iguaçu.

O caso também está sendo acompanhado pelo Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil-Paraná e o governo do estado. O relatório preliminar deve ser entregue em dez dias.

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Depoimento

Parte do interrogatório à Polícia Civil de Pedro Francelino foi divulgado para a imprensa, em áudio e em texto já transcrito. O sem-terra afirmou que o confronto teve início depois que um dos integrantes do MST “atirou pra cima e um policial revidou”. Ele, que foi baleado no local, falou com os policiais no Hospital São Lucas, onde está internado.

No trecho divulgado, Francelino diz que estava no local e que participaria de um protesto organizado pelos sem-terra. “Daí chegamos lá, levei foice, que é uma coisa que é ferramenta de trabalho. Chegamos lá um engraçadinho saiu pra fora atirando pra cima e o policial revidou. Foi só isso que aconteceu”, afirmou.

O primeiro tiro, disse Francelino à polícia, “foi do rapaz que morreu, que entrou em óbito lá, com o revólver na mão”. Ele não soube dizer o nome da pessoa pois está “apenas há dois meses no acampamento.” Ao Paraná TV, da RPC, a defesa do MSTafirmou que a divulgação do interrogatório é ilegal.

Já segundo o delegado Julio Cezar dos Reis, os quatro PMs presentes no confronto disseram, em depoimento, “que foram recebidos a bala pelos sem-terra”. Ele disse não saber especificar quantos tiros os sem-terra teriam disparado e se foram apenas para o alto ou contra os carros e os policiais.

O MST rechaça a declaração da PM de que os sem-terra armaram uma emboscada para os policiais. Segundo o movimento, uma das vítimas foi baleada nas costas, o que provaria que não houve confronto. “É a primeira vez que alguém faz uma emboscada e é morto”, diz Antonio de Miranda, porta-voz do movimento na região. Uma caminhonete usada pelos sem-terra ficou marcada com mais de 30 perfurações provocadas pelos disparos. Segundo o movimento, Bordin correu e foi baleado pelas costas.

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