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Vagner Eizing Ferreira Pio, 25 anos, confessou ter sido o mentor do assassinato de Luiz Antônio Paolicchi, seu ex-companheiro e ex-secretário da Fazenda de Maringá | Fábio Dias/Gazeta do Povo
Vagner Eizing Ferreira Pio, 25 anos, confessou ter sido o mentor do assassinato de Luiz Antônio Paolicchi, seu ex-companheiro e ex-secretário da Fazenda de Maringá| Foto: Fábio Dias/Gazeta do Povo

Vagner Eizing Ferreira Pio, 25 anos, confessou ter sido o mentor do assassinato de Luiz Antônio Paolicchi, seu ex-companheiro e ex-secretário da Fazenda de Maringá, ocorrido no fim de outubro deste ano. No entanto, a versão dele quanto à motivação do crime é diferente daquela apresentada pela polícia na terça-feira (29). Em entrevista exclusiva à Gazeta Maringá, realizada na carceragem da delegacia na tarde desta quarta-feira (30), ele disse que, se não se livrasse do então marido, ele poderia ser morto.

Quando chegou à sala onde a entrevista foi realizada, Vagner vestia uma camiseta branca levemente suja, shorts azuis e chinelos. A fisionomia era de alguém abatido – e, por esse motivo, pediu para não ser fotografado. Com tom de voz baixo, revelou que a primeira noite preso foi terrível e que só conseguiu dormir à base de medicamentos. Ele e outros dois dos três acusados presos, o cunhado Eder Ribeiro da Costa e o amigo do cunhado Arthur Vacelai Paulino estão na mesma cela que ele, com mais dez detentos.

A morte de Paolicchi foi pensada, segundo Pio, cerca de um mês antes da execução propriamente dita. Como vivia supostamente sob a vigilância e ameaças do ex-secretário municipal, com quem tinha uma união estável com comunhão universal de bens, ele contou que matou aulas do curso de Direito para ir até Paranavaí, a fim de propor o plano ao cunhado, que aceitou. Paulino e a irmã de Pio, Vanessa Eizing Ferreira, também presa, não teriam qualquer envolvimento com o assassinato.

Pio disse desconfiar que Paolicchi estivesse interessado na indenização que talvez receba de uma ação trabalhista que moveu contra um banco no ano passado. A hipótese do jovem é de que, assim que o dinheiro saísse, o ex-secretário tomaria posse e, então, livraria-se dele, com quem o relacionamento era turbulento. A polícia, porém, afirmou que o acusado teria planejado o crime para receber pensão e ficar com a herança advinda do patrimônio do cônjuge – condenado por um dos maiores esquemas de fraudes do Paraná.

Durante o andamento das investigações do assassinato, Pio afirmou que teve a certeza que, em pouco tempo, seria preso. Para não piorar a própria situação, teria decidido não fugir. Hoje, no segundo dia na prisão, ele se disse arrependido e que, se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente, recorrendo, talvez, à polícia. Aparentemente desiludido em relação ao próprio futuro, ele afirmou apenas que vai esperar pela condenação do juiz para cumprir a pena determinada.

Os quatro acusados foram presos temporariamente na manhã de terça (29) em Paranavaí, onde vive a família de Pio. Com essa determinação, eles só podem ficar 30 dias presos. Se a polícia solicitar a prisão preventiva, os acusados, todos réus primários, permanecerão presos até o dia do julgamento, a não ser que um pedido de habeas corpus solicitado pelos advogados de defesa os coloquem em liberdade.

GAZETA MARINGÁ: como você conheceu o Luiz Antônio Paolicchi?Vagner Eizing Ferreira Pio: Nos conhecemos há mais ou menos dois anos, mas morávamos juntos há dez meses apenas. Nos conhecemos em uma festa em Maringá. Ele me viu e pediu meu telefone para amigos próximos meus. Depois, me ligou e fomos conversando.

De quem foi a ideia da união estável?A ideia foi dele [Paolicchi]. O advogado de Daniel Dantas recomendou que ele fizesse esse documento, porque, por meio do contrato com regime de comunhão universal de bens, ele iria resguardar parte do patrimônio dele ou pelo menos atrasar alguns leilões [dos próprios bens, que, segundo Pio, estavam todos bloqueados pela Justiça]. Ele precisava de alguém [um companheiro] para fazer isso. Ele queria apenas guardar o patrimônio.

Como era o relacionamento de vocês?Era bom no começo, nas primeiras semanas [da época em que moravam juntos]. Na verdade só aceitei ir morar com ele porque fui demitido do banco e fiquei sem rumo. Não tinha mais como bancar minhas despesas de faculdade e moradia. Não tinha como me manter aqui [Maringá]. Do contrário não teria aceito [o pedido de morar junto] de forma alguma.

Depois das primeiras semanas, a convivência se tornou difícil?Daí por diante sim. Não me deixava sair nem ir para Paranavaí ver meus pais. Todas as [minhas] conversas eram monitoradas e só podia usar o telefone celular dele. Tudo por ciúmes.

Vocês discutiam muito?Discussão, agressão física e moral. Tentei sair do apartamento no primeiro mês. Ele já tinha planejado a união estável e começou a me ameaçar se eu saísse. Dizia que iria me encontrar onde eu estivesse. Ele me deu tapas no rosto, socos. Nunca reagi porque sabia que ele tinha contatos com pessoas perigosas. Tinha muito medo. Fiquei sem amigos e preso no apartamento. Era uma prisão. Só podia ir para a faculdade e voltar com horário marcado. Mais nada.

Antes de ir morar com ele, vocês já namoravam?Não. Éramos apenas amigos. O namoro começou quando fui morar com ele. Era uma vida de casal.

É verdade que vocês tinham um relacionamento aberto?Não. Da parte dele era aberto, mas da minha parte não. Ouvia algumas pessoas dizendo que ele frequentava motéis, saía com garotos de programa e tudo mais. Não podia reclamar de nada.

Você não tinha ciúmes disso?Não. Estava ali extremamente por necessidade. Não tinha outra escolha.

Vocês tinham uma vida de luxo?De forma alguma. A mídia noticiou que ele tinha uma vida de luxo, mas quem entrava no apartamento sabia que não era nada disso. Ele lavava, passava e eu cozinhava. A gente dividia as atividades domésticas. Um dia por semana tinha uma diarista que era paga com muito sacrifício. A vida de luxo existiu antes de conhecê-lo. Ele não abria mão do status que tinha. Frequentemente ligava para as pessoas e dizia que estava viajando, mas, na verdade, estava trancado dentro do apartamento.

A ação trabalhista que você moveu contra o banco onde trabalhou tinha algo a ver com o relacionamento com o Paolicchi?Ele sempre dizia que eu receberia entre R$ 120 mil e R$ 200 mil [com a ação]. Ganhei a primeira instância e o banco recorreu. Está para sair a segunda instância. Mas o interesse dele no dinheiro era nítido, porque ele estava sendo pressionado por pessoas que estavam atrás dele. Ele precisava de dinheiro. Mas a ação eu movi antes de ir morar com ele por iniciativa própria.

A Polícia Civil diz que você é o mentor da morte do Paolicchi. Isso é verdade?Sim. Eu não via outra saída. Ou era isso [assassinar Paolicchi] ou ele iria esperar sair a ação do banco e eu ia ser [Pio interrompe a frase]. Peguei uma conversa dele ao telefone. Não falou meu nome, mas falou em apagar e que tinha de dar um tempo e esperar sair o dinheiro primeiro. Vi o interesse que ele tinha no dinheiro e comecei a ficar com medo porque ele já tinha me ameaçado de morte. Ele tinha interesse em me apagar porque o patrimônio dele estaria resguardado com o contrato de união estável e ainda ficaria com a indenização.

Quando você tomou essa decisão de matá-lo?Foi por impulso, mais ou menos um mês antes da morte dele. Entrei em contato com o Eder, meu cunhado. Contei toda a situação que estava passando e perguntei se ele faria [no caso, executaria o assassinato] para mim. Ele aceitou por causa da situação que eu estava vivendo. Ele sabia que eu era preso no apartamento, que não podia sair, que não podia ligar para ninguém e que tinha de deixar o celular desligado.

Como foi esse contato com o Eder?Eu matei aula na faculdade e fui para Paranavaí conversar com ele. Foi um dia depois de ele [Paolicchi] ter me dado um tapa no rosto.

A polícia diz que Paolicchi teria uma dívida referente ao tráfico de drogas com Eder. Isso é verdade?Não tenho certeza, mas acredito que não. Desconheço. A motivação era me livrar do Paolicchi antes que ele se livrasse de mim.

Qual foi o envolvimento de Arthur e da sua irmã Vanessa no crime?Não tem envolvimento deles para te falar a verdade. O crime foi entre eu e o Eder. A polícia chegou a entrar na casa do Arthur [em Paranavaí] por causa de uma denúncia de que a arma [usada no crime] estaria na residência dele, mas não encontraram nada. Não sei por que eles estão presos ainda.

E qual o envolvimento do seu pai?Meu pai não sabia de nada. Se ele levou e buscou o Eder [do local do crime] foi sem saber do crime ou da morte. Ele não sabia que eu estava envolvido nisso e o que de fato estava acontecendo. Não contei nada para ele porque tinha medo da reação dele.

Como você planejou a morte?Não tinha um planejamento estratégico. Tanto que, se tivesse, não teria acontecido tudo da forma que aconteceu. Fui para o hospital [para visitar uma avó doente] com o Paolicchi e, assim que desci do carro, Eder já entrou armado e rendeu ele. De lá eles foram para Floriano e não sei mais detalhes de como foi lá. Não quis nem saber.

Quando voltou para o apartamento depois de ir ao hospital, você já sabia que Paolicchi estava morto?Sim. O Eder não me ligou depois. Só imaginei mesmo que ele estaria morto.

Você se arrependeu de ter armado o crime?Muito. Tanto que tentei suicídio dois dias após o crime, mas não deu certo porque fui socorrido. Tomei um monte de comprimidos, dormi por dois dias e fui socorrido pelo Samu. Se pudesse voltar atrás, voltaria e me livraria dele de outra forma. Talvez, registraria um boletim de ocorrência e pediria proteção policial.

Você continuou no apartamento após o crime?Um dia apenas. Umas dez pessoas da família dele [do Paolicchi] foram lá e começaram a levar as coisas dele. Me senti coagido e não tive outra saída a não ser arrumar minhas coisas e ir para a casa de uma amiga. Ela foi trabalhar e fiquei sozinho. Não sabia o que fazer porque estava arrependido da situação. Tinha comprimidos lá e tinha também comprimidos meus. Resolvi tomar tudo em um ato de desespero. Quando acordei já estava em Paranavaí.

Você sabia que era um dos principais suspeitos do crime?Sabia pelas perguntas do investigador e por um mandado de busca e apreensão que a polícia cumpriu na minha casa em Paranavaí dias antes da prisão. Desde o principio já sabia que era suspeito. Você pensou em fugir em algum momento?Não. Não quis fugir porque sei que só iria piorar a situação.

É verdade que sua família não sabia da sua orientação sexual e do casamento com o Paolicchi?É. [Eles] desconheciam totalmente. Só começaram a desconfiar depois do crime. Minha mãe ficou desesperada quando viu meu carro [onde Paolicchi foi encontrado morto] no jornal e achou que era eu que estava morto. O carro era meu desde quando eu trabalhava no banco. É um veículo financiado, com parcelas atrasadas porque não estava trabalhando e não tinha dinheiro para pagar as parcelas. Sobre a orientação sexual, acho que eles aceitaram. Isso foi o que menos pesou nessa história toda.

Como foi passar a primeira noite na cela da delegacia junto com outros presos?Terrível, terrível. Só dormi na base de comprimidos.

Os outros detentos falaram algo a respeito do crime?Eles sabem de tudo porque acompanharam e estão acompanhando [o caso], mas não fizeram nada. Alguns perguntam, mas prefiro evitar e não comentar nada. Nem com o Arthur e com o Eder eu falo dentro da cela. Cada um fica no seu canto.

Como foi sua infância? Nasci em Tamboara, que fica perto de Paranavaí. Morava no sítio. Depois, fomos para Paranavaí e comecei a trabalhar no banco lá. Trabalhei durante um tempo e fui transferido para Maringá. Em Maringá tive uma carreira nos bancos.

O Paolicchi foi seu primeiro relacionamento?Tive outros namorados e namoradas. Relacionamento dessa forma, de casar e morar junto, foi só com o Paolicchi.

E qual sua perspectiva de vida a partir de agora?[sem resposta]

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