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Criada em 2014, campanha Busão sem Abuso visa estibular a denúncia de abuso e assédio sexual dentro dos ônibus | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Criada em 2014, campanha Busão sem Abuso visa estibular a denúncia de abuso e assédio sexual dentro dos ônibus| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A campanha “Busão sem Abuso”, criada em 2014 para estimular a denúncia de casos de abuso e assédio sexual no transporte coletivo de Curitiba, vai passar por mudanças na nova gestão da prefeitura. Segundo a secretaria municipal de Defesa Social, a iniciativa está em fase de revisão. Isso inclui o planejamento estratégico que compreende desde o nome do programa à forma de atuação. Os problemas nos ônibus continuam e pioraram durante a greve, de acordo com relatos de mulheres ouvidas pela reportagem.

A secretaria de Defesa Social não adiantou detalhes nem confirmou se vai manter o programa definitivamente. Por enquanto, a campanha “Busão sem Abuso” segue como apoio para queixas. Cartazes que orientam as denúncias também continuam espalhados pela cidade.

A pasta ressaltou que a implantação da Patrulha do Transporte Coletivo tem contribuído para coibir casos de assédio dentro dos coletivos da capital. “A mudança significativa que já está sendo aplicada na gestão Greca é a Patrulha do Transporte Coletivo, que já conta com reforço de guardas e viaturas próximos a terminais, estações e até mesmo guardas à paisana”,informou a secretaria.

A Defesa Social acrescentou que, desde que foi implantada – no início de fevereiro –, a patrulha já prendeu dois suspeitos de praticar crimes contra a mulher dentro de ônibus.

Greve no transporte tem aumentado a lotação dentro dos coletivosAniele Nascimento/Gazeta do Povo

Greve, superlotação e assédios

Durante a greve no transporte, as situações abrangidas pela campanha, segundo mulheres ouvidas pela reportagem, têm se tornado mais frequentes. Como uma frota menor circulou pela cidade, os veículos do sistema saíam de terminais e estações-tubo cada vez mais cheios. Essa condição teria facilitando casos de assédio nos coletivos.

Mulheres entrevistadas pela reportagem na terça-feira (21) afirmaram que a greve no transporte público que durou uma semana trouxe um impacto maior do que caos nos terminais e ônibus lotados. A estudante Brenda da Silva Jonch, de 24 anos, por exemplo, conta que, no último domingo (19), estava em um ônibus da linha Tamandaré-Cabral quando percebeu a aproximação praticamente agressiva de um homem. “Não tinha lugar. O ônibus estava bem cheio, esse cara chegou e começou a meio que se esfregar. Minha amiga xingou e ele logo deu um jeito de sair. Ainda bem”, relata.

Desde então, tanto Brenda como a colega decidiram sair de casa mais protegidas. “Achamos melhor andar com alguma coisa que espeta. Ela colocou uma faca de serrinha na bolsa. Eu ando com um ‘bico de pato’”, completa a jovem.

Juliana Szepeilewicz, de 18 anos, também foi vítima recente deste tipo de situação no ônibus. O caso ocorreu nesta terça-feira, durante viagem na linha Santa Felicidade-Santa Cândida. Segundo a estudante, ela não conseguiu se afastar da catraca por causa da superlotação do ônibus e, sem poder segurar nas barras laterais, fez um esforço para agarrar as barras superiores do veículo. Foi quando um rapaz chegou e a encurralou. “Ele tentou segurar em mim, mas começou a me assediar. Na hora eu perguntei: ‘você tem algum problema?’ Ele pediu desculpas, mas eu respondi que ônibus lotado não é desculpa para fazer isso. Tá bem complicado”, lamenta.

No terminal do Maracanã, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a diarista Josiele Ferreira dos Santos relata que a situação não está muito diferente e que o jeito é redobrar a atenção nestes dias. “A gente sabe que sempre acontece, ainda mais assim com os ônibus lotados por causa da greve. Eu tento me esquivar de qualquer jeito, ficar o mais próximo que der das janelas. Independentemente se é alguém novo ou não, toda mulher precisa desconfiar”, diz.

Apesar dos relatos, a prefeitura de Curitiba informou que não houve denúncias ou prisões por causa de assédio dentro de ônibus durante a greve no transporte coletivo.

Secretaria cede lugar para coordenadoria

A Secretaria da Mulher entrou na lista dos sete órgãos extintos pelo governo do prefeito Rafael Greca (PMN) como forma de aumentar o controle sobre as finanças de Curitiba. Ao anunciar o novo secretariado, ainda em dezembro do ano passado, Greca prometeu cortar entre 40% a 50% dos cargos comissionados e das funções gratificadas, além de gastos com despesas como aluguel.

A decisão veio depois de, ainda em campanha, Greca ter gerado polêmica ao questionar o “empoderamento” feminino. Em entrevista antes de vencer as eleições, o então candidato chegou a dizer que “mulher não precisa ser empoderada, e sim ser amada”. Durante sabatina na Gazeta do Povo, ele reafirmou: “Para mim, o amor é mais forte que o poder”.

Agora, os trabalhos então realizados pela secretaria especializada estão concentrados em uma coordenadoria própria. A missão do órgão, conforme a prefeitura, é “melhorar a articulação com a região metropolitana e o atendimento às mulheres em situação de violência, ampliar o diálogo com os movimentos feministas e disseminar as questões de gênero por toda máquina pública municipal”.

Em entrevista à Agência de Notícias de Curitiba no início de março, Terezinha Beraldo Pereira Ramos, a coordenadora de políticas para mulheres na cidade, garantiu que as novas diretrizes do executivo vão contribuir para avanços na área. “Teremos condições de promover bons avanços no setor. Vamos trazer a voz das mulheres para dentro da prefeitura”, declarou à época.

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