O que um copo com leite e o fato de você não lembrar mais o que comeu no almoço na primeira segunda-feira de maio do ano passado têm em comum? O cálcio. Foi o que descobriram pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que investigam os mecanismos celulares e moleculares relacionados ao esquecimento. Os resultados da pesquisa foram publicados em março na revista Scientific Reports, do grupo Nature .
“Algumas memórias são marcadas para serem esquecidas. Quando isso ocorre, percebemos um aumento intramolecular de cálcio nos neurônios e a ativação da enzima calcineurina, o que promove o enfraquecimento das sinapses daquela memória e resulta no esquecimento”, resume o professor Lucas de Oliveira Alvares, do Departamento de Biofísica da UFRGS.
Dois anos
se passaram desde o início da pesquisa até a publicação dos resultados em março deste ano na Scientific Reports. Projeto de doutorado do neurocientista Ricardo Sachser, o trabalho é uma parceria do Laboratório de Psicobiologia e Neurocomputação das UFRGS com o Centro de Neurociência Cognitiva da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Ele é orientador da pesquisa de doutorado do neurocientista Ricardo Sachser , que busca exatamente entender como funcionam os mecanismos celulares do esquecimento. “O que sabemos é que, no começo, o sistema de memória é muito promíscuo, retém todas as informações. Depois, vai sendo feita uma seleção do que merece ser lembrado e do que deve ser esquecido”, diz o professor.
A partir desse entendimento, foram realizados testes em laboratório com roedores. Divididos em dois grupos, os animais foram treinados para memorizar a posição de objetos numa caixa. Ambos foram submetidos ao mesmo tipo de atividade e testados sob as mesmas condições ambientais. Mas, cerca de 30 minutos após o treino, um grupo recebeu substâncias que impedem a entrada de cálcio nos neurônios e o outro não.
Novidade
O que os pesquisadores perceberam foi que os roedores do chamado grupo controle – que não receberam a droga – esqueceram as tarefas sete dias após o treinamento. Esse resultado era esperado. A novidade veio com o segundo grupo. Os ratos tratados com inibidores de cálcio apresentaram memorização melhor, reconhecendo os objetos mesmo uma semana após término dos treinos.
O próximo passo agora, de acordo com Alvares, é descobrir como a calcineurina atua dentro dos neurônios. Esse é mais um mistério sobre o processo de formação das memórias de longo prazo e o esquecimento a ser solucionado. Com a resposta a essa questão, fica mais próximo o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de estresse pós-traumático ou para aprimoramento de fármacos que ajudem na fixação da memória.
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