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Todos os dias, Tatiana Aquini, 22 anos, faz o que ela mesmo chama de “exercitar a capacidade de síntese e de escolha”. Celular em mãos, dedo polegar devidamente posicionado, a moça avalia os perfis que a tela do celular exibe e desliza o dedão para a esquerda e para a direita– na verdade, mais para a esquerda do que para a direita, pois é exigente. É através desse breve ritual diário que ela interage com candidatos a um encontro ao vivo.

Tatiana utiliza o Tinder, aplicativo on-line de relacionamentos, há cerca de sete meses. Já perdeu as contas de quantos “Liked” ou “Nope” assinalou para conseguir uns dez “Match” (quando dois usuários curtem um ao outro e podem, então, trocar mensagens). Desses, apenas dois resultaram em encontros do jeito tradicional, ao vivo, cara a cara. Até agora, nenhum namoro. Sem crise.

“Não uso o Tinder como único meio de conhecer alguém, mas às vezes é mais fácil porque você já tem pelo menos uma ideia de como a pessoa é, do que ela gosta, não corre o risco de encontrar com alguém totalmente diferente de você”, justifica. Mas ela reconhece que o Tinder não é exatamente o melhor lugar para quem quer namoro sério.

A sensação de resguardo provocada pela distância física e a grande oferta de possíveis paqueras transformou os aplicativos de relacionamentos não apenas em um novo e vasto campo de possibilidades a ser explorado por milhões de solitários – só o Tinder possui mais de 250 milhões de usuários ativos em todo o mundo – mas também inaugurou um novo mercado, cada vez mais segmentado.

Outra dinâmica

A psicóloga Ana Luiza Mano, da PUC-SP, explica que a popularidade dos aplicativos de relacionamento é representativa de uma mudança comportamental que impacta, claro, a forma como as interações ocorrem.

“Assistimos a uma transformação na dinâmica dos relacionamentos, na forma como as pessoas se comunicam e se conhecem. Mas o desejo original, de encontrar alguém, continua o mesmo. A procura por um par ainda é espontânea, mesmo no ambiente virtual, mas a interação via aplicativos, não”, avalia.

De acordo com a psicóloga Ana Luiza Mano, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia da Informática da PUC-SP, os aplicativos de relacionamentos fazem tanto sucesso justamente porque maximizam as possibilidades de encontrar um parceiro ao elevar a busca direcionada a outro patamar.

Hoje há aplicativos de relacionamentos para todos os gostos e intenções: para evangélicos (Divino Amor); para pessoas como IMC alto (Amor de Peso); para aqueles que já superaram a crise dos 40 (Coroa Metade) e até mesmo para servidores públicos (Namoro Estável – aplicativo com maior número de usuários locados em Brasília).

Mas, se você não se identifica com nenhum grupo específico, pode buscar por aplicativos cujo principal filtro é a intenção: se deseja um relacionamento sério, tente o Kickoff, cujo slogan já avisa que “esse não é um app de azaração”; se está naquela fase “solteiro sim, solitário nunca”, vá de Tinder; se quer apenas pôr fim ao namoro e não sabe como, é possível recorrer ao Binder.

“Está ocorrendo essa migração do ambiente real para o ambiente virtual por causa da facilidade de se encontrar alguém mais parecido. A criação de aplicativos focados em alguma característica, como a sexualidade ou a religião, faz surgir nichos nos quais as pessoas podem encontrar o que procuram com mais rapidez e sem se arriscar”, explica Ana Luiza.

Mas nem tudo são flores. Escolher muito criteriosamente implica excluir de antemão um sem-fim de oportunidades. “Os aplicativos podem limitar nossos contatos. Ao aplicar muitos filtros e escolher demais, a pessoa pode até encontrar o que quer, mas rejeita um universo de possibilidades”, alerta a psicóloga.

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