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Tombamento

Fazenda é patrimônio cultural do Paraná e pode se tornar do Brasil

Em 1983, a fazenda Capão Alto foi tombada como patrimônio cultural do Paraná pela Secretaria Estadual de Cultura. Agora, um processo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tenta tombar o patrimônio como bem cultural nacional.

Por causa do tombamento, o casarão centenário segue alguns critérios para reformas e restaurações. Conforme a coordenadora de patrimônio cultural da Secretaria Estadual de Cultura, Rosina Coeli Alice Parchen, é preciso antes de tudo fazer um mapeamento arqueológico. Por isso, os curadores do projeto de restauração, Fábio Silvestre e Tarás Dilay, conseguiram no Ministério da Cultura, com base da Lei Rouanet, a aprovação de um projeto para o levantamento. Orçado em R$ 591 mil, ele está em fase de captação de recursos com empresários da região.

O imóvel pertence hoje ao agropecuarista Koob Petter. O Ministério Público de Castro viu a necessidade de preservação do imóvel e firmou um termo de ajustamento de conduta com o proprietário para garantir a restauração. Como o projeto é oneroso, buscou-se a Lei Rouanet. O procurador da prefeitura de Castro, Ronie Cardoso, lembra que o imóvel é particular e que por isso a prefeitura não pode investir dinheiro público no local. "Mas estamos dando apoio ao projeto", afirma.

Os curadores Dilay e Silvestre vislumbram o casarão pronto como um dos destinos turísticos para a Copa de 2014. "Ele tem um grande potencial, porque guarda a história e a cultura do Paraná", afirma Dilay. (MGS)

Serviço

A fazenda Capão Alto está localizada no distrito de Castrolanda, com acesso pela PR-151, e funciona de terça-feira a domingo, das 8 às 18 horas. O ingresso individual custa R$ 3 e as excursões de estudantes devem ser agendadas com antecedência pelo telefone (42) 3232-5856.

1704

foi o ano em que surgiu a fazenda Capão Alto, a partir de sesmarias distribuídas a simpatizantes da Coroa Portuguesa. No período colonial, as sesmarias eram terrenos cedidos pelos reis de Portugal aos novos povoadores do Brasil.

Cenário do surgimento do povoamento dos Campos Gerais no século 18, abrigo de uma comunidade de escravos no século 19 e testemunha do avanço do cooperativismo de imigrantes holandeses no século 20, a fazenda Capão Alto, localizada em Castro, nos Campos Gerais, está finalmente mais próxima de uma restauração. Um projeto aprovado pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, permite o levantamento arqueo­lógico da área de 15 hectares. A sondagem é o primeiro passo para o restauro do casarão, construído em 1840.

Veja mais fotos da Fazenda Capão Alto e do casarão

A fazenda é mais antiga que o casarão. Ela surgiu no período colonial, em 1704, quando a Coroa Portuguesa distribuiu sesmarias entre seus simpatizantes. Um deles foi o rico português Pedro Taques de Almeida. Cada sesmaria media 6,6 mil metros por 6 mil metros, mas Almeida deu um "jeitinho" e enviou 22 requerimentos com pedidos de sesmarias ao reino português, cada um no nome de um familiar.

Assim, conta a diretora do Museu do Tropeiro e da Casa de Sinhara, em Castro, Léa Maria Cardoso Villela, Almeida conseguiu uma imensa área, que ia da atual região de Ponta Grossa até o Norte Pioneiro. Como Almeida não tinha interesse em viver na colônia portuguesa, ele concedeu as terras a José de Goes e a Inácio Taques de Almeida. O local onde hoje está a fazenda Capão Alto foi garantido a José de Goes, que lhe deu o nome de Sesmaria da Paragem do Iapó, devido ao rio que corre no meio da área.

Em meados de 1750, a fazenda foi repassada à irmandade carmelita. Nesse período, o tropeirismo já ganhava corpo e o Rio Iapó foi um grande aliado dos viajantes. Léa conta que os tropeiros descobriram um vau (parte rasa do rio) que permitia a passagem da tropa em direção à atual Região Norte do estado e, finalmente, caminho para a feira de animais em Sorocaba (SP).

Nova rota

A passagem, que facilitou a vida dos tropeiros, criou consequências desagradáveis para os padres carmelitas, que não gostaram da movi­mentação das tropas em suas terras. "Eles falaram para os tropeiros que tinha muita terra para o outro lado do rio e que eles podiam ficar lá", conta a pesquisadora. Os tropeiros seguiram a sugestão com tom de pressão e, em 1779, surgiu a freguesia de Castro.

"Os tropeiros percorriam no máximo 45 quilômetros por vez, que era o trajeto feito no decorrer de um dia, e paravam para descansar o rebanho", conta Léa. Dessa forma, cada ponto de parada da caravana fazia surgir um pequeno povoado, que mais tarde se transformava em cidade. "Foi assim que surgiram Piraí do Sul e Jaguariaíva", afirma a pesquisadora.

Hoje, parte dos descendentes dos antepassados que viveram nesses povoados visita o casarão da fazenda Capão Alto. Embora não tenha estrutura para visitação, como banheiros e pontos de venda de alimentação, o casarão recebe em média 3,6 mil turistas por ano, entre excursões de estudantes e visitantes em geral. Quem os recebe é o caseiro e guia João Klempovus Neto. Ele se veste como tropeiro e reconta a história da fazenda. "Eu gosto muito daqui, revivo a história e faço amigos", relata. Na manhã do último dia 12, por exemplo, cerca de 60 crianças do 4.º ano do ensino fundamental de um colégio particular de Ponta Grossa conheceram o casarão.

Relíquias históricas

Ruínas de capela e casa de escravos são resquícios do século 18

Quando os carmelitas adquiriram a fazenda Capão Alto, em meados do século 18, colocaram escravos para trabalhar e morar na região para garantir o cuidado da propriedade.

Já havia no local uma capela construída em taipa (barro amassado) em meados de 1740 e que era ponto de encontro dos cristãos que viviam no povoado. As ruínas da capela ainda existem na fazenda e estão cobertas e cercadas para evitar depredação ou a ação do tempo. Conforme o curador do projeto de restauração, Tarás Dilay, o mapeamento arqueológico mostrará se existe um cemitério no local, já que era costume dos carmelitas sepultar os corpos de seus religiosos próximos à capela.

Outro resquício do século 18 que pode ser visto no local são duas casas onde viviam os escravos e um tronco que era usado para os castigos físicos. Durante mais de um século a fazenda abrigou uma comunidade de cerca de 300 escravos. Dilay lembra que o inusitado é que os negros eram "praticamente livres", porque os padres carmelitas confiavam a eles os cuidados da fazenda e, em troca, eles tinham autonomia para trabalhar e viver no local.

Em 1864, os carmelitas venderam a fazenda para uma companhia paulista. Os escravos estavam incluídos no pacote. "Isso causou uma revolta muito grande, muitos deles fugiram porque não queriam ser subordinados à companhia e formaram quilombos no Paraná", conta o guia João Klempovus Neto.

Fazenda Capão Alto e casarão

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