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Jovens ingleses do programa Global Fellowship, do British Council: seduzidos pelos “bons” clichês | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Jovens ingleses do programa Global Fellowship, do British Council: seduzidos pelos “bons” clichês| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Pesquisa

Confira o que agrada e o que não agrada os estran­geiros que vêm ao país

Ruim

- Violência/criminalidade/assaltos: 22%.

- Pobreza: 18%.

- Falta de segurança/polícia: 15%.

- Trânsito/falta de sinalização: 11%.

Bom

- Alegria do povo: 25%.

- Jeito amigável: 18%.

- Simpatia: 18%.

- Economia crescente, dinâmica, forte e estável: 57%.

*10% dos 2.405 entrevistados, entre 18 e 75 anos de idade, de 27 nacionalidades diferentes não apontaram nenhum ponto negativo no país. Fonte: Embratur/junho de 2009.

Otimismo

Perguntamos aos entrevistados como eles veem o Brasil daqui a 10 anos

"Nos próximos 10 anos eu espero que o Brasil, junto com a Índia e a China, torne-se um ator global mais importante econômica e politicamente. Será mais justo e haverá possibilidades para todos."

Ashvin Babar, 19 anos, inglês.

"Se o Brasil continuar a desenvolver seus negócios, turismo e o trabalho com os pobres para um país mais seguro e mais igual, que permita que crianças tenham educação e oportunidades, então o país pode apenas progredir. Não ser só um lugar mais bonito, mas também uma nação mais poderosa."

Siobhan Jacqueline Randell, 18 anos, inglesa.

"Eu acho que esta vai ser a década dourada do Brasil. O momento econômico é muito bom se você comparar com outras potências econômicas e industriais. Vai ter Copa, Olimpíadas e o investimento estrangeiro está vindo."

Alvaro Stangore, 28 anos, venezuelano.

"Imagino o Brasil como uma potência econômica maior, com muito investimento estrangeiro e com influência de outros países da região. É agora que o Brasil está olhando para América Latina e os resultados virão depois de um tempo. Também acho que as conquistas na indústria e na tecnologia serão importantes, se houver investimentos adequados nos próximos anos."

Maria del Pilar Angulo, 27 anos, colombiana.

Problema comum

Todos sofrem com clichês

Mexicanos têm bigodes enormes e usam sombreiros. Italianos são fanfarrões românticos e falam palavrão. Quem já não ouviu afirmações como essas? Nós não somos os únicos a sofrer com representações estreitas e superficiais da nossa cultura. É o que diz o vice-coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, Antônio Carlos Amâncio da Silva.

Em 1998, ele fez doutorado na Universidade de São Paulo (USP) com a tese Em busca de um clichê – panorama e paisagem no cinema estrangeiro. Depois de 3 mil sinopses e 202 filmes avaliados, concluiu que a visão sobre o Brasil é mesmo estreita na produção cultural que vem de fora, mas que isso é parte de uma produção de massa, que tende a reduzir conceitos inteiros em apenas uma imagem superficial. "O que acontece, porém, é que há um desequilíbrio nessa balança do imaginário. Importamos mais imagem do que exportamos, com isso, acredito, conseguimos entender melhor os norte-americanos, sua pluralidade étnica e geográfica, do que eles a nós".

  • O uruguaio José Gabriel Meirelles, professor da UFPR, mora há 20 anos no Brasil
  • O francês Justin Pageout faz estágio na PUC veio em busca de novas experiências

Samba, futebol, praias e florestas intermináveis. Boa parte do que é divulgado sobre o Brasil lá fora ainda se foca nesses clichês, mas, com o passar do tempo, outras oportunidades, e por que não problemáticas, têm atraído os estrangeiros para cá, o país emergente que tem tudo para dar certo. Nem o Ministério de Relações Exteriores ou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República têm pesquisas específicas a respeito da percepção da imagem do país. A avaliação é mesmo um tanto subjetiva e passa pela conversa que a Gazeta do Povo teve com estrangeiros de diferentes gerações sobre o país. As poucas estatísticas disponíveis são do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Enquanto que os pontos negativos são a violência e a desigualdade social, o saldo positivo fica sempre com o simpático povo brasileiro.

Educação como meio

Há 20 anos, o economista uruguaio e professor da Universidade Federal do Paraná José Gabriel Porcile Meirelles, de 51 anos, veio para cá por uma oportunidade de estudo. Trabalhava em um órgão de pesquisas econômicas de Montevidéu que tinha convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Nos anos 1980, o país já tinha um esquema de pós bem montado e era um dos principais destinos dos uruguaios. Sair de uma ditadura ferrenha e chegar ao Brasil, que naquela época começava a construir sua democracia, foi uma experiência maravilhosa". Fixando-se em Campi­nas, ele escapou dos cenários paradisíacos. "O fato de ser um ambiente altamente intelectualizado também foi fundamental para uma visão mais realista do país".

Meirelles conheceu a esposa em Campinas e mora em Curitiba desde 1995, depois de cinco anos na Inglaterra, onde, confessa, não foi tão bem recebido quanto aqui. Hoje lamenta apenas o esmorecimento dos debates econômicos. "Naquele tempo as questões eram mais ideológicas, como divisão de riquezas. Hoje são mais práticas, como inflação. Mas isso não é só no Brasil."

Novos atrativos

As mexicanas María del Refugio Boa Alvrado e Michelle Lee Valen­zuela, ambas de 21 anos, e o francês Justin Pageout, 23 anos, fazem o mesmo caminho que Meirelles fez na década de 1980, mas atraídos por um conceito de certa forma recente: a sustentabilidade.

María e Michelle farão um se­­mestre de Engenharia Ambiental e de Produção da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), respectivamente. O controle de resíduos sólidos – e daí a propaganda de Curitiba como cidade ecológica ainda funciona – é o interesse das duas. "Quero ver como funciona isso aqui e, talvez, levar alguma solução para o México. Lá não há essa preocupação com o lixo", diz Michelle.

Também na PUCPR, Pageout, que é estudante de Engenharia Química na França, está fazendo estágio obrigatório e uma pesquisa com base no biodiesel brasileiro, "que pode ser uma solução para o futuro". Fala pouco do português – não sabia nada quando chegou, há três meses – e diz ter confirmado o clichê do futebol. "Aqui o esporte é quase uma religião. Não sabia da rivalidade com a França. Quando o time francês foi eliminado da Copa todo mundo comemorou. Mas eu sei que isso é só no futebol". Como potência emergente, o país é reconhecido por esses jovens como um lugar para experimentações que podem dar certo.

No caso do norteamericano Philip Michael Young, 70 anos, mais conhecido por Phil Young, da escola de inglês, o Brasil deu certo ainda na década de 1970. Viveu 35 anos aqui e há 13 anos voltou para casa, em Jacksonville, Flórida, de onde administra as seis escolas da rede. Diz admirar o amor do povo pelas coisas intelectuais, o conhecimento da história e a descrença nas regras – um elogio ao chamado jeitinho brasileiro. "Negativa­mente aponto o machismo, o racismo enrustido e o sistema que é mais de castas do que igualitário."

Grande escala

A colombiana Maria del Pilar Angulo, 27 anos, e o venezuelano Alvaro Stangarone, 28 anos, se mudaram há pouco tempo para o Brasil. Ela chegou há um mês em São Paulo, para ficar com o namorado brasileiro. Stangarone chegou em janeiro, mas havia estado em São Paulo em 2005, para sete meses como trainee da AmBev, com passagens por Ribeirão Preto, Curitiba e São Paulo. Ambos estão no início de uma experiência mais profunda no país e têm perspectivas diferentes a respeito. Vindos de lugares da América Latina, reconhecem a violência e a desigualdade social como problemas comuns, mas que aqui são evidenciados por um gigante de dimensões continentais.

Pilar diz que conhecia um pouco do país pela vizinhança com a Colômbia. O Brasil sempre foi um ponto de referência para temas econômicos e de desenvolvimento regional. Também sabia que este é um país muito grande, formado por imigrantes diversos e uma cultura alegre. "A primeira impressão que tive quando cheguei ao país foi a escala das coisas. As ruas, os edifícios, a quantidade de pessoas. Realmente este país é gigante. Também vi, de uma só vez, a diversidade de pessoas, de cores de pele, de sotaque e de clima". Aqui, porém, tem também mais oportunidades de cultura e consumo do que na Colômbia.

Stangarone admite não ter muito conhecimento prévio do país, além das coisas mais famosas, como o carnaval. Supreeendeu-se até agora com o povo. "Sempre tem alguém querendo ajudar, dando dicas para você estar bem".

Experiência "social" no país do futebol

Ao contrário de María e Michelle, que conhecem, por enquanto, apenas o centro de Curitiba, os jovens ingleses do programa Global Fellowship, do British Council, estão tendo uma experiência brasileira bem mais intensa. Há pouco mais de uma semana no Rio de Janeiro, os jovens com média de idade de 19 anos, ainda passarão por São Paulo e, talvez, Curitiba até o fim do mês de agosto. Muitos vieram atraídos pelos "bons" clichês, como Ashvin Babar, de 19 anos. Ele toca na bateria da escola de samba Paraíso, de Londres, e veio para o Brasil por causa da música. "Por meio do samba meus olhos foram abertos para outros ritmos brasileiros, como a capoeira, o pagode e a bossa nova". Mas com a programação – que inclui visitas a organizações não-governamentais, como o AfroReggae, em Vigário Geral, no Rio, e também a empresas que mantém projetos semelhantes – a visão desses jovens sobre o país está um tanto politizada e, talvez, mais realista do que a dos turistas de ocasião.

Economia

Tatenda "Tee" Nyandoro, de 19 anos, veio por sorte e curiosidade. "O destino do programa era o Brasil, que também era uma escolha minha". Como estudante de economia, ele tem uma perspectiva alinhada com a área sobre o país. "O Brasil é uma das economias que mais crescem e esta é uma grande oportunidade de ver na prática todas as coisas que vi na teoria."

A cultura vibrante, as bonitas paisagens e o povo receptivo foram as razões da vinda da colega Siobhan Jacqueline Randell, de 18 anos. Até agora, ela diz ter se supreendido com a diversidade natural e também de classes do país e, é claro, com o povo brasileiro, muito mais "feliz em ajudar", segundo ela, que os ingleses de Londres. No Rio, Siobhan também percebeu a desigualdade social, a praia como um espaço democrático e a periferia da capital fluminense, vejam só, como um lugar "belíssimo".

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