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Iniberto, da Emater; a consumidora Joyce; o produtor José Marfil e Gessi Zampieri , da Acopa: comunidade orgânica soma militância e informação | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Iniberto, da Emater; a consumidora Joyce; o produtor José Marfil e Gessi Zampieri , da Acopa: comunidade orgânica soma militância e informação| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Bons ventos

Especialistas apontam as características da cultura orgânica:

Produção pequena

Apenas 2% das 374 mil propriedades agrícolas do Paraná produzem pelo sistema orgânico. O número é pequeno, mas significativo para a agricultura familiar, que deixa de ter contato com agrotóxicos e evita a contaminação do solo. O sistema tem vantagens econômicas para os pequenos produtores, que deixam de se endividar comprando insumos químicos e conseguem vender a produção por preços maiores. No entanto, a menor produtividade e a dificuldade de produção em grande escala impede que o sistema seja adotado por médios e grandes produtores.

Preço

A produtividade menor da agricultura orgânica é uma das razões para os preços mais altos. No entanto, os preços são menores nas feiras orgânicas, onde produtores vendem diretamente para os consumidores. Nas feiras, o valor dos orgânicos é de 30% a 50% mais caro que o dos convencionais. Nos supermercados, o preço pode custar de 100% a 300% mais. Para levar os orgânicos às gôndolas, o agricultor tem que passar por esquemas de venda e atravessadores que acabam aumentando o valor do produto.

Segurança alimentar

A agricultura orgânica pode ajudar populações em risco no acesso a serviços de assistência técnica, crédito rural diferenciado e incentivos governamentais. As comunidades quilombolas, por exemplo, frequentemente estão instaladas em áreas de preservação ambiental. O sistema orgânico pode ser uma alternativa para que produzam tanto para o autoconsumo quanto para a venda de excedentes, diminuindo a dependência dessas populações da ajuda do governo.

Fontes: Iniberto Hammerschmidt, engenheiro agrônomo do Emater; José Marfil, produtor e integrante da Rede Ecovida de Agroecologia; Ângela Martins, presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional e integrante da Rede de Mulheres Negras do Paraná; Eugenio Stefanelo, professor de Economia Rural na UFPR.

Serviço

Confira onde estão as feiras de produtos orgânicos em Curitiba. Ao todo, são 12 pontos de venda, funcionando das 7 da manhã ao meio dia, com exceção do Mercado Municipal e da feira da prefeitura:

Diariamente

Mercado Municipal de Curitiba

Segunda-feira, das 7h às 14h, terça-feira a sábado, das 7h às 18h, e domingo, das 7h às 13h.

Rua da Paz, 608 (setor Mercado Orgânico) – Centro

Terças-feiras

Campina do Siqueira

Rua São Vicente de Paula, ao lado do Terminal de Ônibus

Portão

Praça Hildegard Schmah, entre as ruas Calixto Rasolini e Caetano Marchesini (estacionamento do Museu Metropolitano de Artes)

Quartas-feiras

Emater

Rua da Bandeira, em frente à Emater – Cabral

Praça do Expedicionário

Rua Saldanha de Gama - Centro


Prefeitura

Das 7h às 14h. Rua Papa João XXIII, ao lado da Prefeitura Municipal de Curitiba – Centro Cívico

Quintas-feiras

Igreja do Cabral – Praça São Paulo da Cruz

Avenida Paraná esquina com Rua Bom Jesus

Praça do Japão

Avenida República Argentina esquina com Avenida Sete de Setembro – Batel

Sábados

Jardim Botânico – Praça da Itália

Rua Dr. Jorge Meyer Filho, ao lado da Igreja Nossa Senhora de Lourdes

Passeio Público

Rua Presidente Faria – Centro

Praça da Ucrânia

Avenida Cândido Hartmann esquina com as ruas Padre Anchieta e Capitão Souza Franco – Bigorrilho

Santa Felicidade – Praça Piazza San Marco

Via Vêneto, em frente à Rua da Cidadania Santa Felicidade

  • Veja o que a lei exige em cada uma das etapas da produção de orgânicos

Os amigos da recepcionista Joyce Sponchiado, 70 anos, nem imaginam que convidá-la para almoçar em casa pode acabar em flagrante. Consumidora de alimentos orgânicos desde que morava em Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, Joyce garante que é capaz de abrir uma geladeira e identificar a presença de alimentos que foram produzidos com a ajuda de agrotóxicos. "Esse aqui não. Vamos chegar aos 130 anos", adverte os amigos, enquanto tira de sua frente um maço de rabanetes. "Já convenci a Almira, a Olívia, a Idê e o seu Paulinho. E costumo checar se estão usando mesmo." A recepcionista puxa o assunto sempre que pode e chega a levar hortaliças orgânicas para incentivar colegas de trabalho.

Joyce faz parte do grupo de adeptos da cultura dos alimentos orgânicos em Curitiba. A rede é heterogênea e engloba produtores, cooperativas, consumidores, organizações não governamentais e iniciativa pública. Uma de suas particularidades é a ausência de filtros econômicos e culturais. Embora o consumo orgânico seja uma prática dos mais informados, não raro um pequeno agricultor é parceiro de debates de um catedrático.

Ainda que não necessariamente articulados e agindo de maneiras diferentes, os curitibanos pró-orgânicos defendem a mesma causa. "Não é só a comida que está em jogo. Tem toda a preo­­cupação com o meio ambiente e com novos hábitos. Isso sem contar as relações pessoais cultivadas a partir da conversa direta com o produtor", defende Gabriel Gallarza, 32 anos, consumidor de orgânicos há três.

Eles ainda são poucos. Se­­gundo a Secretaria Municipal de Abastecimento, em 2008, 20 mil pessoas circulavam pelas feiras de orgânicos de Curitiba semanalmente. Mas o grupo cresce. De lá para cá, as vendas no primeiro trimestre aumentaram entre 11% e 15% ao ano. No Pa­­raná, a demanda por esses alimentos cresce entre 30% e 50% anualmente, de acordo com o Instituto Paranaense de As­­sistência Técnica e Extensão Rural (Emater).

O aumento da procura pelos orgânicos é uma boa notícia para Moacir Darolt, engenheiro agrônomo do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Darolt faz o tipo militante em tempo integral. Nem o título de doutor em Meio Ambiente pela Univer­sidade Federal do Paraná (UFPR), nem a presença certa como palestrante em congressos do ramo lhe roubam o prazer de panfletar e propagar os ganhos da cultura orgânica. É autor do livro Agricultura orgânica: inventando o futuro, está escrevendo outro sobre formas de aproximação entre consumidores e produtores, produz guias e cartilhas educativas e ainda cultiva seus próprios orgânicos em uma pequena propriedade.

"Para que o movimento cresça, é importante atingir diferentes setores da sociedade, como a escola e a universidade", afirma Darolt. Segundo o pesquisador, o trabalho não se limita a falar sobre os benefícios da agricultura orgânica para a saúde e para o meio ambiente: o desafio é educar para o consumo. Isso significa diversificar a cultura alimentar, resgatar a noção de épocas dos alimentos e até estimular a produção de hortas em casa, por exemplo. "As pessoas estão acostumadas a comer as mesmas coisas o ano inteiro. Há uma redução na diversidade na cultura alimentar. E é uma redução para culturas com maior nível de resíduos de agrotóxicos."

Orgânicos serão um nicho de mercado

Para o professor de Economia Rural da UFPR Eugenio Stefa­nelo, a produção de orgânicos não vai substituir a agricultura convencional e será sempre um nicho de mercado, podendo chegar ao patamar máximo de 10% da produção total. A menor produtividade e a dificuldade de produção em grande escala impede que o sistema seja adotado por médios e grandes produtores. "Quem vai continuar é o pequeno produtor, com disponibilidade de mão de obra familiar e em função da pequena produção, que tem que ter um plus de preço", explica.

Para atingir a produtividade da agricultura convencional no sistema orgânico, se­­riam necessárias áreas maiores, colocando biomas nativos em risco. Stefanelo lembra também que os dois sistemas apresentam problemas quando mal- aplicados. "A agricultura orgânica mal-feita contamina o lençol freático com coliforme fecal. A convencional, contamina com nitrato", explica. "Temos que tirar da cabeça das pessoas o estereótipo de que a orgânica é boa e a convencional é ruim. As duas dependem das práticas que usam", diz.

Sempre aos sábados no Passeio Público

O Passeio Público é o principal ponto de encontro da rede da cultura orgânica em Curitiba. Aos sábados pela manhã, entre mexericas e tomates, um estande atrai frequentadores de velha e nova data. No espaço, a Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná (Acopa) divulga práticas de alimentação saudável e de comércio solidário. Uma das voluntárias é Gessi Zampieri, encarregada dos passeios e cursos promovidos pela associação.

Enquanto entrega cartilhas, vende camisetas e agenda os passeios promovidos pela Acopa pelas rotas de produção, Gessi atende conhecidos que param na barraca. "Formamos uma família que se encontra todo sábado e toma um chimarrão", conta Gessi, sobre uma conversa que não acontece nos mercados e feiras convencionais.

Além de eliminar intermediários que encarecem os produtos orgânicos, a aproximação entre os consumidores e produtores permite, por exemplo, que o agricultor José Marfil, produtor de orgânicos desde 1994, explique aos clientes o motivo de os preços dos tomates estarem altos entre abril e novembro – a hortaliça está no período de entressafra. Como quem produz também comercializa, a procedência do alimento é garantida.

Outra presença frequente na barraca da Acopa é Ralph Miller, um dos fundadores da entidade. Sobre como conheceu a cultura dos alimentos orgânicos, Miller dá uma resposta de peso histórico: "Quando eu tinha a sua idade, só tinha orgânico", afirma o engenheiro aposentado, nascido em 1921. Ele diz ter visto a introdução dos insumos químicos na agricultura. "Foi a época da célebre ‘revolução verde’. Hoje, vemos que a coisa não é o que se pensava", relembra Miller.

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Interatividade

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