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 | L . Adolfo/UFTM/Divulgação
| Foto: L . Adolfo/UFTM/Divulgação

“Beraba, vou postar algumas imagens, mas é melhor você sentar na cadeira para ver, senão é capaz de cair.” A mensagem misteriosa veio por WhatsApp. Beraba é o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), morador de Uberaba (MG), como o apelido indica. O motivo do mistério: as fotos eram de dois ovos de dinossauro muito bem preservados, ocorrência raríssima no Brasil.

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Os ovos esféricos, de pouco menos de 15 cm de diâmetro, foram doados de forma anônima ao escritório do DNPM (Departamento Nacional de Proteção Mineral) de Belo Horizonte. Uma das atribuições do órgão é zelar pelo patrimônio fóssil do país. Um dos funcionários do DNPM, Emanuel Simões, é ex-colega de faculdade de Ribeiro e resolveu alertá-lo sobre a doação sui generis pelo aplicativo de celular.

A primeira parte dessa história foi encerrada nesta quarta-feira (11) com o anúncio oficial da cessão dos ovos ao museu da UFTM em Peirópolis, distrito de Uberaba que abriga algumas das mais ricas jazidas de fósseis de dinossauros do Brasil. Ribeiro e seus colegas devem conduzir um estudo detalhado das peças ­ e, com alguma sorte, uma delas pode até conter restos de um embrião em seu interior.

“Volta para casa”

Embora haja ocorrências de cascas de ovos de dinos em alguns outros locais do território brasileiro, a região de Uberaba é a única na qual ovos dos bichos em bom estado foram achados até agora, diz o geólogo da UFTM. Além disso, segundo informações do doador anônimo, os ovos em questão vieram de uma pedreira de calcário do bairro de Ponte Alta, 30 km a leste de Uberaba. Portanto, ao que tudo indica, a cessão dos ovos ao museu é uma espécie de volta para casa.

O que não dá para saber é quando exatamente eles foram achados. Pode ter sido há décadas, diz Ribeiro. Justamente por causa da riqueza de fósseis em Uberaba, funcionários de pedreiras da região às vezes temiam relatar achados às autoridades, com medo de que houvesse um embargo na extração de calcário. Com isso, é possível que fósseis importantes tenham se perdido. A recuperação dos ovos, portanto, também é um golpe de sorte considerável.

É praticamente certo que os ovos sejam de uma espécie de titanossauro, um grupo de dinos herbívoros, quadrúpedes, pescoçudos e de porte gigantesco que eram o equivalente ecológico dos elefantes no interior mineiro durante a Era dos Dinossauros. Diversas espécies já foram descobertas na região, a maior delas com mais de 20 m da ponta do focinho à extremidade da cauda. Outra de suas marcas registradas é a presença de calombos ósseos ornamentando o couro. A idade mais provável dos fósseis é de cerca de 70 milhões de anos, no finzinho do reinado dos dinos no planeta.

Ribeiro compara os ovos a uma bola de boliche com a superfície cheia de pequenas rachaduras, áspera ao tato. São um pouco menores que um ovo de avestruz, o qual também é mais alongado. ‘O mais bem preservado certamente não chegou a eclodir‘, estima ele.

Um dos planos dos pesquisadores é submeter os ovos a tomografias computadorizadas, o que deve revelar se restos de embriões ainda estão lá dentro.

Outra possibilidade é analisar os isótopos (variantes de elementos químicos) na casca, o que pode trazer pistas sobre o ambiente onde os ovos foram botados e até sobre a temperatura de ‘chocagem‘, o que, por sua vez, traz informações sobre o funcionamento do organismo dos dinos (o consenso hoje é que eles tinham metabolismo de ‘sangue quente‘, não muito diferente do dos mamíferos e das aves atuais). Só isso explicaria o crescimento explosivo dos filhotes, que iam de algumas dezenas de centímetros de tamanho no nascimento a monstros gigantescos em poucos anos.

Bocha

Curiosamente, nas poucas vezes em que ovos de dinossauro em bom estado de preservação foram achados no Brasil, quase sempre a história inclui algum elemento rocambolesco ­como o jogo de bocha, por exemplo. Parece piada, mas é fato: o primeiro ovo de dinossauro achado no país era usado como bola de bocha por operários que trabalhavam na região de Uberaba, conta Ribeiro. Isso foi em 1945, quando a área estava sendo estudada por Llewellyn Ivor Price, um gaúcho filho de pais americanos que é considerado um dos patronos da paleontologia brasileira.

Esse ovo perdeu quase toda a casca de tanto levar pancada, mas as impressões internas ficaram preservadas, e o Price conseguiu fazer um estudo comparativo do exemplar com ovos de titanossauros da França, recorda o pesquisador.

Outra coincidência quase tão estranha quanto a do jogo de bocha acompanhou o achado seguinte, de 1967. Langerton Neves da Cunha, auxiliar de campo de Price, estava escavando um poço no quintal de sua casa em Peirópolis quando achou três ovos, vagamente semelhantes aos de galinha. Outras duas descobertas de fósseis do tipo com estado razoável de preservação ocorreram nos anos 1990.

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