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Cresce transplante intervivos; cai casos de doadores mortos

Enquanto os transplantes de rim de doadores mortos caíram de 111, em 1996, para apenas 50, em 2006, os de doadores vivos subiram de 37 para 187 no período. Isso preocupa os médicos. "É uma preocupação porque você está expondo uma pessoa sadia a uma cirurgia e, no futuro, a algum risco", diz o chefe da equipe de transplante de pâncreas dos hospitais Angelina Caron e Santa Casa, João Eduardo Nicoluzzi.

Órgãos como rim, parte do fígado e da medula óssea podem ser doados em vida. Esta prática pode ser o motivo do aumento de 15,6% de transplantes no Paraná, registrado pela Secretaria Nacional de Transplantes.

O aposentado Carmelino Basso recebeu um rim da filha Daniele. Teria de entrar na fila de espera não fosse a filha se oferecer para doação. Era o que ele esperava, mas não tinha coragem de falar. Apesar da cicatriz da cirurgia feita há três meses, Daniele não se arrepende. "É emocionante saber que o pai parou de fazer diálise. Todo dia ele morria um pouquinho."

Há 20 anos Carmelino passou por situação parecida quando a filha mais velha ficou sem enxergar e precisou de um transplante de córneas. "Ficamos quase 30 dias fazendo plantão no IML (Instituto Médico Legal) para alguma família fazer a doação de um parente morto. As famílias não tinham consciência da importância", afirma. Depois da espera, ela recebeu as córneas.

O Paraná não pôde utilizar 82% dos órgãos dos 122 potenciais doadores que tiveram morte encefálica no primeiro semestre deste ano. Do total de notificações feitas à Central Estadual de Transplante, só 22 pacientes com parada definitiva e irreversível do encéfalo tiveram os órgãos retirados. Ainda assim, os números da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) não confirmam se todos chegaram a ser transplantados. O estado tem 4.874 receptores na lista de espera.

A previsão de aproveitamento dos órgãos é de 80% a 90%. Conforme a ABTO, em números absolutos o Paraná está em sexto lugar entre os estados que mais possuem potenciais doadores, mas cai para a décima posição quanto ao aproveitamento. "O Paraná já teve um desempenho melhor, mas ao invés de melhorar, está diminuindo", diz a presidente da ABTO, Maria Cristina Ribeiro de Castro.

Os principais percalços são a recusa familiar (32% dos casos) e a contra-indicação médica (55%). Neste caso, quando há parada cardíaca antes da remoção dos órgãos, aumento da pressão arterial ou quando o doador tem alguma doença transmissível pelo sangue, por exemplo. Foi uma contra-indicação que retardou o transplante de Raquel Fabrício da Silva, 45 anos. Ela espera por um rim há oito anos. "O rim que chegou estava com coágulo."

O assessor técnico da Central Estadual de Transplante, Celso Reis, explica a peculiaridade paranaense.

"Não captamos órgãos não ideais, cuja sorologia, principalmente para hepatites, são positivas", esclarece. Um paciente com hepatite B, por exemplo, não pode doar para outro com a mesma doença. "Já os outros estados realizam o transplante", diz.

Segundo Reis, o estado segue a legislação e é criticado por isso. Ele revela que o estado fez 76 transplantes de órgãos até junho desse ano, contra os 53 do mesmo período de 2006. O Ministério da Saúde esclarece, em nota, que a definição da utilização do órgão cabe a Central de Transplante do Estado e à equipe médica.

Soluções

Órgãos como coração, pulmões, fígado e rins só podem vir de pacientes internados em UTIs e que tiveram morte encefálica. Por isso é importante a notificação dos hospitais à Central para que se inicie a busca de um receptor. Por força de lei, todo hospital com mais de 80 leitos deve possuir uma comissão específica para notificar pacientes em morte encefálica, trabalho que a Central alega ser ineficiente em alguns hospitais.

A coordenadora da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do Hospital Cajuru, Ivana Roseira, rebate as críticas. "Há pouca doação para o número de óbitos que a gente tem, mas não concordo que é por causa da comissão", afirma.

Para o professor titular de Clínica Médica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Faculdade Evangélica de Medicina, Miguel Riella, há necessidade de um novo modelo para que o Paraná possa corrigir distorções, como uma Organização de Procura de Órgãos, cuja criação está sendo discutida há um ano. A organização não-governamental auxiliaria os hospitais na procura de órgãos. "Vamos ajudar o gestor público em uma ação que não está eficiente", aponta.

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