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Estação brasileira na Antártida - Comandante Ferraz - em incêndio de 2012. | IA/gs/Handout
Estação brasileira na Antártida - Comandante Ferraz - em incêndio de 2012.| Foto: IA/gs/Handout

O Brasil lançará em outubro a pedra fundamental da nova estação na Antártida e iniciará as obras no próximo verão ártico, em novembro. Ela será erguida na Península Keller, na Ilha Rei George, mesmo lugar da base destruída por um incêndio em 2012. Mas por que investir R$ 330 milhões num continente que é puro gelo e tem temperatura de 75°C negativos no inverno? Não só porque a Antártida é o último lugar do mundo sem dono, há também razões econômicas, ambientais e geopolíticas.

A Antártida é o regulador térmico do planeta, e o que acontece lá pode explicar as secas e inundações por aqui. Em torno de 90% das frentes frias que chegam ao Brasil se formam por lá e muitas nuvens viajam semanas trazendo água do continente que tem a atmosfera mais pura da Terra. Estudar em que condições se dão esses deslocamentos de ar ajuda nas previsões climáticas extremas. Essa é apenas uma das razões pelas quais o Brasil está presente desde 1982 com pesquisas científicas.

Escritório de Curitiba fez o projeto executivo da nova base

A nova estação do Brasil na Antártida terá 4,5 mil metros quadrados e 18 laboratórios no edifício principal, 500 metros quadrados em sete unidades isoladas, heliponto e torres de energia eólica. O projeto executivo, escolhido em 2013 num concurso promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, foi feito pelo escritório Estúdio 41, de Curitiba.

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Com área equivalente à soma dos territórios de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Bolívia, a Antártida é o quinto continente em extensão e o único sem divisão geopolítica. Representa 10% da superfície da Terra e não tem dono. Eis outro motivo para que o Brasil marque presença. Não faltam interessados, mas é difícil identificar o proprietário pois não se sabe quem chegou primeiro ao continente.

Uma alternativa seria entregar a Antártida a quem a colonizasse, mas nenhum país ainda fez isso porque ela é inabitável de forma permanente, devido às condições climáticas. O que tem sido possível é montar estações de pesquisas. Hoje 30 países mantêm ali 40 bases permanentes e outras 20 estações temporárias de verão. A presença das maiores potências econômicas e militares – como Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Alemanha, Índia – não deixa dúvidas sobre o interesse geopolítico pelo continente.

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O Tratado da Antártida, assinado em 1959 por 12 países e que hoje tem 48, suspendeu as tentativas de dividir o continente. Até que se encontre uma solução, o uso do continente é livre para qualquer país, desde que respeite alguns limites, como a proibição de instalação de bases militares, testes de armas, explosões nucleares ou emissão de resíduos radioativos. Não ficou mal para as grandes potências, que por critérios técnicos não teriam direito a um metro quadrado da Antártida.

  • Brasil pretende investir R$ 330 milhões na nova estação Antártida que será erguida na Península Keller
  • Regular térmico do planeta, a Antártida tem área equivalente a soma dos territórios do Brasil, Argentina, Uruguai, Peru, Bolívia e Chile
  • Nova estação ficará no mesmo local ocupado pela base destruída por um incêndio em 2012
  • Com temperatura de 75º C negativos, a Antártida atrai o Brasil por razões econômicas, ambientais e geopolíticas

Seguindo a lógica do sistema que determina a posse das águas territoriais, que seria seguir as linhas longitudinais a partir da Região Antártica, o continente de gelo seria dividido entre os países mais próximos, que estão imediatamente à sua frente. Ou seja, as grandes potências econômicas e militares, todas no Hemisfério Norte, não teriam direito a nenhum naco de gelo antártico. A exceção seriam França e Inglaterra, que mantêm ilhas sob o seu protetorado no hemisfério Sul.

Assim, é conveniente manter uma base para o caso de algum dia o Tratado ser revisto e decidir pela divisão do continente entre os países lá presentes. O Brasil assinou o Tratado em 1975 e passou a fazer parte dos 28 países membros consultivos, que têm o poder de tomar decisões no grupo por realizarem pesquisas científicas relevantes no continente. O Brasil iniciou suas pesquisas científicas em 1982 na Estação Antártica Comandante Ferraz. Desde o incêndio de fevereiro de 2012, os cientistas trabalham numa estação emergencial.

À prova de fogo

A antiga Estação Antártica Comandante Ferraz foi destruída por um incêndio, por isso a nova base foi planejada para evitar novos sinistros e minimizar danos no caso de algum acidente. O projeto compartimenta as áreas de risco. A área de transferência de combustível, por exemplo, que foi onde se iniciou o incêndio da antiga estação, agora está numa área externa e afastada do edifício. Há rotas de fuga alternativas e dez saídas de emergência. Para combate a incêndio, o principal sistema é o de chuveiros automáticos, os chamados sprinklers, mas há casos específicos em que são usados sistemas do tipo watermist (tecnologia de aspersão de água atomizada).

Um gelo só

O gelo cobre 98% do continente antártico durante todo o tempo. Essa camada de gelo, que aumenta e se acumula a cada ano, torna a Antártida três vezes mais alta do que qualquer outro continente, com uma altitude média de 2,5 mil metros. São 25 milhões de quilômetros cúbicos de gelo, 90% de tudo o que existe no mundo e 70% da água doce, o que faz do continente o maior reservatório de água doce do planeta. A temperatura mínima é de 75°C negativos no inverno.

Antártida ou Antártica?

O topônimo Antártica se origina do latim antarticus, derivado do grego antigo, que por sua vez significa “oposto ao ártico”, ou antiártico. Portugal e Brasil adotaram a forma Antártida. Embora vaga, uma explicação seria uma analogia à mítica Atlântida. No Brasil o termo Antártica passou a ser usado com regularidade nos meios acadêmicos a partir da década de 1970, e inclusive batiza o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Hoje, as duas grafias são consideradas corretas.

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