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| Foto: Débora Mariotto Alves/Gazeta do Povo

Os caminhos de Mel e de outras 26 tartarugas capturadas – e devolvidas ao mar – no Litoral do Paraná são rastreados diariamente. O monitoramento faz parte dos trabalhos do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar). Monitorar os hábitos das tartarugas é importante para delinear planos de conservação da espécie, observando a qualidade de vida nos animais.

“As tartarugas funcionam como sentinelas ambientais, a partir delas sabemos se as áreas estão impactadas”, revela a veterinária do projeto Tamar, que é parceiro das ações no Litoral, Daphne Wrobel Goldberg.

Frio e preguiça

Em 2016, terceiro ano de realização da atividade de captura das tartarugas, os trabalhos começaram no dia 17 de maio e vão até o início do mês de junho. Em um período de dez dias, 27 animais passaram pelo procedimento e foram devolvidos ao mar. Em 2014, foram 45 tartarugas durante uma semana. Segundo a bióloga Camila Domit, os dias mais frios registrados esse ano deixam os bichos mais preguiçosos e fica mais difícil fazer a captura.

As tartarugas são retiradas do mar intencionalmente pelos profissionais do Rebimar, submetidos a exames, pesagem, medição e a implantação de anilhas e sensores de rastreamento. Para instalar o rastreador, elas passam por um procedimento semelhante ao de ir à manicure, exemplificam.

“Nós lixamos a carapaça, limpamos, passamos acetona para depois colocar o sensor. O sensor tem menos de 5% do peso total da tartaruga, então é como uma mochilinha que ela não sente o peso”, compara a veterinária.

O sensor de rastreamento pode durar até seis meses – esse período muda de acordo com cada tartaruga. No caso da Mel, o equipamento deve permanecer por quatro meses. “Elas crescem no máximo cinco centímetros por mês, então logo esse equipamento vai cair, mas nesse período já vai ser possível ter uma ideia se elas vem pra cá de férias, se passam apenas um período da vida aqui”, conta a bióloga Camila Domit, coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Resultados

“O que nós já pudemos avaliar, desde 2014, é que as tartarugas, infelizmente, estão mais imunodebilitadas, estão ficando mais doentes. Isso é uma informação bastante preocupante, mas, ao mesmo tempo, que bom que estamos avaliando isso agora para entender o porquê estão debilitadas na região. É cada vez maior a nossa responsabilidade de garantir um ambiente de qualidade para que elas possam se desenvolver”, explica Camila Domit.

Uma das coisas que já se sabe é que para as tartarugas-verdes, o litoral paranaense é importante na fase juvenil. “A gente já sabe que os animais que estão aqui nessa área tem entre dois e dez anos, mas a gente não sabe há quanto tempo eles estão por aqui”, explica Camila.

Os caminhos das tartarugas já encontradas e rastreadas pela equipe podem ser acompanhados pelo site www.seaturtle.org. Das cadastradas para o estudo no fim de maio, apenas uma delas havia se aventurado em águas mais distantes. Foi até Ilha Comprida no dia 26 de maio e começou a nadar “de volta para casa” já no dia seguinte.

Débora Mariotto Alves
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Gazeta do Povo

Pescadores

Os pescadores da região também colaboram com o projeto. Ao capturar os animais acidentalmente, costumam entregar os bichos para a avaliação dos profissionais. “É uma parceria muito importante pra nós. Nessa temporada (que começou em 17 de maio e vai até o início de junho) foram eles que nos entregaram a maioria das tartarugas”, afirma a bióloga.

Mel está entre as tartarugas entregues pelos pescadores. Ainda muito jovem – tem, no máximo, três anos – ela é uma das mais calmas que já foi tratada pela equipe de veterinários, biólogos, oceanógrafos e outros profissionais. “Decidimos chamar de Mel em homenagem a Ilha do Mel, só não sabemos se é a Mel ou o Mel porque nessa idade ainda não é possível definir o sexo”, explica Camila.

Ação conta com apoio do projeto Tamar

O trabalho realizado pelo Rebimar é uma iniciativa da Associação MarBrasil, em conjunto com o Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar, da UFPR, e também conta com apoio do projeto Tamar. “O Rebimar é um conjunto de ações desenvolvidas desde 2010, no litoral do Paraná, voltadas a conservação marinha. Entre as principais ferramentas estão os recifes artificiais instalados em Pontal do Paraná”, explica a coordenadora do Rebimar, Lilyane de Oliveira Santos, oceanógrafa.

Segundo ela, os recifes servem como barreiras que auxiliam na manutenção da biodiversidade. “Há relatos de pescadores de que houve aumento de produção nas áreas entorno dos recifes. Apareceram vários meros, que é uma espécie ameaçada, com essas ações”, afirma.

Além das capturas intencionais, feitas pela MarBrasil, a associação conta com a parceria dos pescadores da região que entregam as tartarugas vindas acidentalmente nas redes aos profissionais. “Eles [os pescadores] não querem pegar tartaruga, eles sabem que pegar tartaruga marinha não traz uma boa imagem, então eles trazem a tartaruga pra gente. Nós estamos tentando avaliar com eles de que forma a tartaruga emalha na rede, qual horário ela mais emalha, qual o tamanho dessa tartaruga que mais emalha, pra que juntos a gente possa pensar em alternativas para o uso dessas redes”, detalha Domit. (DMA)

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