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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Professores que atuam em cursinhos pré-vestibulares em Curitiba dizem que a prova de compreensão e produção de textos da UFPR, aplicada no domingo (27), ficou dentro do esperado e com perguntas muito bem aplicadas. Eles não concordam com as críticas contra a questão que pedia para o aluno se posicionar ideologicamente.

As reclamações foram feitas por alguns candidatos após a prova. A questão era composta de um texto de contextualização, com o título “Esquerda, Direita ou Centro”, e pedia para o aluno definir sua posição com base nele, justificando-a. Depois do enunciado havia um alerta sobre a questão. “Importante: Você será avaliado pela consistência dos argumentos escolhidos e pela clareza e organização de seu texto, NÃO pela posição que tomar”, dizia o aviso.

“A política é o assunto que mais cai na prova da UFPR. Mas nunca a política-partidária”, opina João Filipe Magnani, professor de Redação do Curso Acesso. Para ele, a questão foi muito clara ao apresentar os conceitos sobre os campos ideológicos e ao pedir para o aluno se justificar. “Não importa ali seu posicionamento, mas sim se você sabe defendê-lo de forma consistente”, afirma.

Para Magnani, criou-se um mito em torno da UFPR. “Muitas pessoas acham que, já que a UFPR tem sistema de cotas, por exemplo, é preciso assumir esse posicionamento para estar alinhado, mas não há razão nenhuma nisso”, diz. Ele diz que as redes sociais, como o Facebook, têm muitas informações pertinentes para o concurso da UFPR, mas que é preciso saber lidar com as fontes de informação. “É preciso saber a veracidade das informações, checar, procurar o outro lado para se informar.”

Avaliação semelhante é feita por Wellington Borges Costa, professor de Redação do Curso Positivo. “Não há polêmica na questão. É preciso ler, compreender e saber se posicionar com consistência e organização. Você pode inclusive ser de direita no campo conservador, mas de esquerda na esfera econômica”, diz Wella, como é conhecido. Para ele, o fenômeno das redes sociais produziu “uma série de especialistas políticos”, que gostam de dizer que são de esquerda ou de direita, mas que na verdade nem sabem o que os conceitos significam.

Wella lembra ainda outra questão semelhante aplicada pela UFPR no processo seletivo para ingresso em 2007. O conteúdo também versava sobre os conceitos de esquerda, direita e centro, e sobre pesquisa de opinião sobre aborto, maioridade penal e pena de morte. “Ninguém deveria se surpreender com uma questão como essa que apareceu agora”, afirma. Tanto Wella como Magnani dizem que os cursinhos preparatórios discutem esse tipo de posicionamento com os alunos.

Sem direcionamento

O historiador e editor Jaime Pinsky, que havia criticado a prova de Redação do Enem deste ano, disse à reportagem que a prova da UFPR é bem diferente. Em uma análise rápida, Pinsky, professor na Unicamp, observou que o texto de apoio da UFPR deixou claro que a avaliação seria sobre a qualidade argumentativa. “Já para o Enem não houve uma abertura equivalente, a questão com os textos de apoio induzia, conduzia o raciocínio em uma direção determinada. São coisas muito diferentes”, avaliou.

Temeroso

Por outro lado, o professor Francisco Alves Filho, autor da dissertação “A atividade de compreensão de texto no vestibular”, externou preocupação com a questão. “Julgo que a questão pode suscitar a dúvida de se, ao exigir que o aluno se enquadre politicamente, ele esteja sendo forçado a revelar a outrem uma posição que pode julgar pessoal e de fórum íntimo”, observa. Segundo ele, o indivíduo pode querer não expor sua opção política. “Julgo que questões em provas de vestibular podem solicitar que os candidatos opinem sobre fatos do mundo social, mas sem que necessariamente sejam obrigados a falar de si mesmos”, diz Alves Filho, que é professor na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

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