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| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

O acidente na barragem de rejeitos no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, (MG), pode ter impactos nas águas dos rios próximos e até dos que são alimentados por esses leitos. Esse é o maior risco ambiental do acidente, segundo especialistas como o oceanógrafo químico e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Júlio César Wasserman, terá que ser monitorado pelos próximos anos.

“É preciso avaliar exatamente quais os compostos químicos presentes nestes rejeitos que vazaram. O mais comum na atividade de mineração é a presença do que chamamos de lixívia ácida e os chamados metais pesados. O maior risco desses materiais é que eles podem afetar a cadeia trófica. Ou seja, eles contaminam as plantas presentes na água, o peixe se alimenta delas e quando o homem come esse peixe, pode também ser contaminado. Mas esse impacto só seria sentido daqui a cerca de dois anos”, diz Wasserman.

O professor afirma que a contaminação não acarreta riscos de vida para as pessoas. Segundo ele, apenas o contato com a lama proveniente do vazamento e a ingestão de água da região não devem ter impactos significativos aos moradores, em caso de contaminação por metais pesados.

“Esses materiais não são absorvidos pelo organismo humano no contato com a pele ou na ingestão de água. Não me parece que seja caso para a população parar de consumir peixe ou água”, afirma.

O professor de Mecânica dos solos e geotecnia a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio Almeida alerta que a contaminação pelo acidente pode chegar a outras cidades da região.

“Se o material derramado chegar aos rios, pode ser levado para outras cidades. O impacto dessa contaminação nas águas só vai poder ser medido após uma análise química desses resíduos provenientes do vazamento”, afirma.

Em entrevista à CBN, o comandante do Corpo de Bombeiros de Mariana, Adão Severino Júnior, afirmou que a lama seria tóxica. “Onde passa, ‘não nasce nem capim’”, - disse ele.

Para o professor da UFRJ, Paulo Rosman, especialista em engenharia costeira, o tipo de barragem usado em Bento Rodrigues é o comum para a mineração. Segundo ele, há várias razões possíveis para o vazamento.

“Existem vários fatores que podem ter levado à ruptura da barragem. Pode ter chovido além do volume previsto no projeto da construção, ou por exemplo, pode ter acontecido o que chamamos de piping, que é quando a água vai ‘encontrando um caminho’ por entre a barragem, que provavelmente é feita de terra, até esse buraco aumentar de diâmetro. O que tem que ser feito é o monitoramento constante pelos órgãos ambientais”, alerta.

Diante da tragédia, o governo colocou as forças federais à disposição do estado para atuarem no local. Na manhã desta sexta-feira, o ministro da Integração, Gilberto Occhi, viaja para o município onde vai acompanhar os trabalhos de resgates. A presidente Dilma Rousseff, que cumpria agenda em Alagoas, foi comunicada do rompimento da barragem antes de embarcar para Brasília no início da noite.

Os batalhões do Exército de Belo Horizonte e São João Del Rey estão de sobreaviso para atuar na busca de sobreviventes. A Defesa Civil Nacional está em contato permanente com o governo do Estado e, havendo necessidade, os recursos federais serão utilizados.

Já o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), vinculado ao Ministério da Integração Nacional, também poderá atuar para evitar novos acidentes.

Segundo a Casa Civil, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) foi acionada para auxiliar nos resgate.

Outros casos

2014: um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos. Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

2009: em 27 de maio, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

2004: uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios. Os municípios mais atingidos pela enchente - Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como “brejo” -que divide o litoral do sertão. Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade. Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.

Fonte: Folhapress
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