Rotina de apartamento trava a infância

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O simples ato de colocar uma meia, cortar as unhas dos pés ou secar o corpo depois de sair do banho tem sido cada vez mais difícil para algumas crianças. É que elas, que deveriam correr, pular corda, jogar bola, andar de bicicleta e brincar de esconde-esconde, estão passando muito tempo sentadas. Ora na frente do computador ou do video­game, ora na sala de aula ou assistindo à televisão."

VÍDEO: Que atividades praticar? A professora de Educação Física Thaís Pereira ensina algumas atividades físicas que ajudam a melhorar a fexibilidade

Esse sedentarismo ocasiona o que chamamos de encurtamento global porque, sem exercício físico, as crianças ficam com as partes musculares e tendinosas comprometidas. Por isso, na hora de se abaixar, por exemplo, elas sentem dor", explica o ortopedista Carlos Aguiar, do Hospital Pequeno Príncipe.

Assustada com a baixa flexibilidade de alguns de seus alunos, a professora de Educação Física Thaís Pereira, da Escola Infantil Ursinho Pimpão, de Curitiba, resolveu tomar uma atitude antes que o problema ficasse ainda maior, comprometendo a fase adulta delas. Ela intensificou os exercícios e alongamentos nas aulas e contatou os pais de algumas crianças para expor o problema. "Venho percebendo essa pouca flexibilidade das crianças há quatro anos. Tempos atrás meus alunos encostavam com tranquilidade a testa no chão quando estavam sentados, bem como tinham uma boa abertura de pernas. Hoje são poucos os que conseguem fazer isso", conta.

Thaís lamenta que as crianças não tenham mais espaço em casa para subir em árvores, saltar obstáculos e correr. Segundo a fisioterapeuta Adriana Maria Barreto Domingues, a inatividade pode ocasionar sérios problemas de coluna no futuro, inclusive com alterações posturais difíceis de serem corrigidas mais tarde.

Susto

Liziane Fagundes de Mello, mãe de Bárbara, de 3 anos, levou um susto quando a escola entrou em contato para falar da baixa flexibilidade da filha. "Para mim, as crianças parecem ser feitas de elástico, porque realizam movimentos que muitas pessoas que treinam diariamente não conseguem", afirma.

Apesar de o ortopedista ter dito que a filha dela estava bem, Liziane resolveu aproveitar a iniciativa da professora Thaís para repensar o estilo de vida da família. "Minha infância foi muito diferente da de minha filha. Eu pulava corda, jogava bola. Hoje meu marido e eu não conseguimos fazer com ela coisas simples como andar de bicicleta. Tudo fica condicionado para o fim de semana, o que nem sempre acontece", diz ela, que já marcou uma aula experimental de Pilates infantil para a filha.

Thaís lembra que a idade ideal para o início do trabalho com a flexibilidade do corpo é entre 4 e 6 anos, "devido a questões fisiológicas e ao processo de desenvolvimento ósseo, que facilita o aprendizado sem fortes desconfortos ou dores."

Vida e Cidadania | 2:16

A professora de Educação Física Thaís Pereira, da Escola Infantil Ursinho Pimpão, mostra alguns exercícios que podem ser feitos com crianças pequenas para que elas não percam a flexibilidade.