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Habilidade, disciplina e lealdade são requisitos para entrar na Força Samurai | Fotos: Jonathan Campos/ GP
Habilidade, disciplina e lealdade são requisitos para entrar na Força Samurai| Foto: Fotos: Jonathan Campos/ GP

Trabalho deve ganhar maior amplitude social

O sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos de Segurança Pública da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê, acredita que os parâmetros de ações de combate ao tráfico de drogas precisam ser revistos. "Esse trabalho [da Força Samurai] é enxugar gelo." Na opinião dele, é importante que se discuta o combate com maior amplitude social. "Na prática, a importância desse tipo de trabalho é muito pequena", opina.

Bodê ressalta que, quando o assunto é o crack, dois pontos de venda abrem quando um é fechado. Apesar de acreditar que esse serviço deva ser realizado, o sociólogo destaca a necessidade de ações mais eficazes. "Tem que atacar a fonte e não só o varejo. Mas o governo que não fizer esse trabalho vai ser condenado pela população e pela mídia", diz.

  • Equipe é submetida a treinamento especial, que inclui curso de tiros, estratégias e tecnologias

Sons de sirenes, estampido de tiros e berros. Essas são características comuns quando alguém pensa em trabalho de polícia. Porém, o silêncio está entre as principais qualidades de um grupo que tem se notabilizado no Paraná e que com­­­pletou, no fim de setembro, o marco de 1.007 prisões de traficantes no estado: a Força Samurai.Criado pela Polícia Militar (PM) em maio de 2008, o grupo, com pouco mais de 50 integrantes no estado, não tem esse nome à toa. Os pré-requisitos para ingressar na força se assemelham com as diretrizes dos próprios samurais. É preciso ter disciplina, lealdade e uma habilidade incomum, assim como os guerreiros japoneses.

Com essas qualidades, os policiais da Força Samurai tentam fazer a diferença. Pelo trabalho, não ganham nem um real a mais que o salário de qualquer policial militar. Desde a criação da equipe até o final de setembro, foram apreendidas 342 armas, 25,8 mil munições, 315 veículos, 13,6 toneladas de maconha, 279 quilos de crack, 161 quilos de cocaína, 9 quilos de pasta-base e 9 de haxixe, além de 24.132 pontos de LSD (ácido lisérgico) e 356 comprimidos de ecstasy. Para um efetivo enxuto, é um feito e tanto.

A maioria das apreensões foi realizada em pontos de venda de drogas, principal alvo desses policiais. "A Força Samurai foi criada para combater o microtraficante, aquele que incomoda muito a população, que traz a violência e outros crimes", explica o co­­mandante da Agência de Inteligência da PM e da Força Samurai, coronel Milton Isaac Fadel. Nos primeiros meses de trabalho do grupo, os policiais ficaram restritos ao combate ao pequeno vendedor de drogas. No entanto, não foi possível continuar apenas nesses alvos e as incursões contra grandes traficantes ocorreram naturalmente.

Silêncio e sigilo

Para chegar aos traficantes, esses policiais recebem denúncias diárias do telefone 181, o Narco­denúncia, principal fonte de informações do grupo. O telefone faz parte do programa do governo estadual de polícia comunitária e tem sido referência em denúncias contra traficantes no Paraná inteiro. Com a informação, começa a correria. Os policiais se dividem nas atividades, entram em território inimigo e começam a procurar pelos criminosos.

Com carros descaracterizados e sem fardas, ninguém desconfia, mas um policial da Samurai pode estar por perto. E, quando menos se espera, um traficante é preso. Os detalhes das buscas, as técnicas não são divulgadas por segurança, mas uma coisa é clara, o silêncio e o sigilo andam juntos nas operações da Força Samurai, mas, se precisar, os barulhos de disparos podem ser ouvidos quando são recebidos a tiros. Um dos oficiais diz que em 97% das prisões realizadas pela Força Samurai não houve confronto.

Todos os integrantes são escolhidos a dedo

Os profissionais da Força Samurai são escolhidos a dedo pelo comandante. Eles permanecem em treinamento constante de tiros, estratégias e tecnologias. "Há dois cursos por ano, um da parte técnica e outro operacionalidade", conta o coronel Milton Isaac Fadel. Policial com qualquer patente está apto a integrar a força desde que tenha experiência no serviço velado da PM, onde os policiais trabalham sem farda no setor de inteligência da corporação, além de um currículo ilibado.E para que esse currículo se mantenha sem arranhões, oficiais permanecem em vigília e fiscalização permanentes. Fadel conta que um dos policiais que teve seu comportamento sob dúvida em certa ocasião foi afastado da força, num exemplo para qualquer deslize. O policial voltou a integrar as equipes comuns da PM. "E nem havia provas. Já há pelo menos mais dez policiais querendo entrar para o grupo", comenta o coronel.

Para os policiais que integram a Força Samurai, a credibilidade é o principal fator de estar nesse grupo. "É um trabalho eficiente. No mesmo momento que o traficante é preso a gente percebe uma mudança no local. E o respaldo da população tem aumentado", relata um deles, há cerca de seis anos na corporação.

Outro ressalta que a violência está cada vez maior entre os criminosos. "É necessário estar melhorando sempre porque temos de estar um passo à frente das quadrilhas", afirma. Essa violência, muitas vezes pode ser evitada com inteligência, de acordo com eles.

Escolhidos

Os escolhidos da Força Samurai formam equipes menores que trabalham se movimentando em todo o Paraná, inclusive nas fronteiras. Segundo o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guaíra, ligado ao Ministério Público Estadual, Marcos Cristiano Andrade, há ações do órgão que não seriam possíveis sem o apoio dos policiais militares.

"É um trabalho que preencheu uma lacuna. A Divisão Estadual de Narcóticos da Polícia Civil e o MP podem investigar, mas não fosse o trabalho deles, não seria possível executar as operações", elogia. A Força Samurai também colabora com ações da Polícia Federal quando requisitada.

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