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Henrique Gaede é sócio de um escritório de advocacia que tem preocupação ambiental: “Fomos buscar um projeto de vanguarda” | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Henrique Gaede é sócio de um escritório de advocacia que tem preocupação ambiental: “Fomos buscar um projeto de vanguarda”| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Passo a passo

Para receber a certificação Life a empresa deve cumprir uma série de pré-requisitos.

• Gestão: primeiro são adotados modelos de negócio e consumo menos impactantes para o meio ambiente. Tal qual uma certificação ISO 14 mil, é preciso repensar – e mudar de atitude – na relação com os gastos de recursos naturais.

• Impacto: é calculado o Valor Estimado de Impacto à Biodiversidade (VEIB), a partir da área ocupada pela empresa, da geração de resíduos, do consumo de água e energia e das emissões de gases do efeito estufa.

• Ações: são definidas as atitudes que a empresa precisa tomar compensar o VEIB. São ofertadas várias opções, com pontuações variadas, mas todas têm como princípio a necessidade de realizar ações efetivas, pragmáticas e concretas.

Na prática

Atitude ambiental de vanguarda revoluciona escritório de advocacia

Por que um escritório de advocacia buscaria contribuir com projetos de conservação de áreas naturais? "Sem meio ambiente, a gente não presta o nosso serviço", responde Henrique Gaede, sócio do Gaia, Silva, Gaede & Associados. Depois de investir tempo e dinheiro na formação da equipe, no equilíbrio financeiro e em ações sociais, os gestores perceberam que estava faltando algo para que o escritório cumprisse com todas as responsabilidades – mesmo aquelas que não são exigidas por lei. "Precisávamos de uma atitude ambiental e fomos buscar um projeto de vanguarda", comenta.

O escritório contratou dois funcionários para cuidar dos projetos internos e pagou os serviços da Tecpar. Com o envolvimento dos 118 funcionários, diminuiu em até 3 mil cópias por dia o consumo de papel, incentivando o uso de email, o reaproveitamento do verso das folhas e a reflexão antes do gasto. "Fazer a parte interna é fácil. Até porque reduz custos. Substituir atitudes impactantes é o mínimo. Era preciso avançar. Nosso objetivo não era simplesmente ter uma certificação", diz Gaede.

Além de boas práticas ambientais, o escritório adotou uma área de 200 hectares em Antonina. A Fazenda Santa Maria, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), é composta por uma parte preservada de Mata Atlântica e outra em restauração, além de estar na área do manancial da cidade. Os advogados contribuem com R$ 25 mil anuais para contratação de pessoal para cuidar da área.

Para algumas empresas, pro­te­ger o meio ambiente vai além de separar o lixo e apa­gar a luz ao desocupar uma sala. Um sistema de pon­tos, que calcula quanto foi usa­do de recursos naturais e o que precisa ser feito pa­ra com­pensar a natureza, é o prin­cípio de uma certifica­ção de biodiversidade que surgiu em Curitiba e é pioneira no mun­do. Amanhã, em um even­to no Rio de Janeiro, será entregue a primeira certificação do Instituto Life – Las­ting Initiative for Earth, sigla em inglês para Iniciativa Du­radoura para a Terra.

O Life surgiu em 2009, como anseio de um grupo de ambientalistas que se perguntaram: como engajar o setor privado em ações de conservação de biodiversidade? A secretária executiva Maria Alice Alexandre conta que entre as várias saídas discutidas prevaleceu a ideia de aliar um sistema de certificação por gestão ambiental, semelhante ao ISO 14 mil, com ações efetivas para a preservação de áreas naturais.

O passo seguinte foi criar um método para avaliar impactos e compensações. Apesar de estabelecer todas as regras, o Life não é certificador. O Tecpar, Instituto de Tecnologia do Paraná, é que vai até as empresas para verificar se as exigências foram cumpridas. A iniciativa contou com o suporte de grandes empresas, como O Boticário e Posigraf. Hoje, além do setor privado, organizações internacionais financiam o projeto.

Os custos variam de acordo com o porte da empresa, o segmento em que atua e a quantidade de pontos que precisa atingir para compensar o uso do ambiente. "É compatível com o impacto. Uma mineradora terá de fazer muito mais do que um escritório de advocacia", diz. Como há um acompanhamento anual, a empresa precisa reduzir os indicadores – como gastos com energia e água – para manter a certificação, que tem validade de cinco anos. "Não aceitamos empresas que querem continuar poluindo e que busquem apenas uma ação compensatória, sem mudança de atitude", comenta.

Cada gasto e cada compensação tem pontuações diferentes, definidas a partir de um mapeamento de prioridades. Aplicar em pesquisa e ou em uma ação de educação ambiental vale menos pontos do que cuidar de uma área repleta de espécies ameaçadas de extinção. "Consumir muita água em lugares em que há fartura é diferente de fazer a mesma coisa em locais com baixa disponibilidade hídrica. Assim como a Mata Atlântica – até por restar menos – é mais prioritária do que a Amazônia", explica Maria Alice.

O escritório de advocacia Gaia, Silva, Gaede & Associados, em Curitiba, foi o primeiro a cumprir todos os requisitos. A Itaipu Binacional está em processo de certificação e outras grandes empresas já iniciaram as mudanças internas para se habilitarem. Além de dividir informações com organizações de vários outros países, o Life está se preparando para atuar no Paraguai, no Chile e na Argentina.

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