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Praça Nossa Senhora de Salete virou estacionamento para ônibus durante protesto de motoristas | Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo
Praça Nossa Senhora de Salete virou estacionamento para ônibus durante protesto de motoristas| Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

Descaso

Falta de transporte pegou vários usuários de surpresa

Ontem, na Praça Rui Barbosa, os ônibus que chegavam a partir das 10 horas informavam aos passageiros que esse era o ponto final e que todos deveriam descer. Integrantes do sindicato informavam a alguns passageiros e os próprios motoristas e cobradores que a operação estava suspensa.

Muitas pessoas que precisaram usar o transporte coletivo foram surpreendidas. Foi o caso da vendedora Vera Cristiane Borba Cordeiro, de 38 anos. Ela saiu do bairro Tatuquara, onde mora, e ficou ‘presa’ na Praça Rui Barbosa, impossibilitada de chegar ao trabalho, em Colombo. "Isso é uma falta de respeito. Não sou contra a paralisação, mas então que nem saiam da garagem. As pessoas que saíram de casa vão fazer o que?", questionou. Ela conta que, ao sair de casa, perguntou ao motorista e cobrador da linha que usa se haveria a paralisação. Eles não souberam responder. Ao chegar no centro, a surpresa: nenhum ônibus circularia até as 14 horas.

Para Adriane Antonello, de 48 anos, a situação também era complicada. Ela mora no Centro e foi a uma consulta médica pela manhã, e não conseguia chegar ao trabalho, no Água Verde. "Acho justa a paralisação, mas precisa de mais informação", disse.

Subsídio

Por enquanto, integração com a região metropolitana está mantida

Mesmo com o vencimento do atual convênio entre Urbs e Comec no último dia 31, a integração do sistema de transporte coletivo de Curitiba com a região metropolitana está mantida. O documento não define apenas o valor do subsídio repassado pelo governo estadual, mas também é o instrumento jurídico que permite que a Urbs possa gerir o sistema integralmente, inclusive as empresas que são contratadas pelo governo estadual.

Como é um serviço essencial, a Urbs vai manter a operação integrada com base na licitação de 2010, que já previa que ela fizesse a gestão das linhas metropolitanas, que também deveriam ser licitadas pelo governo estadual.

A administração de Beto Richa, por sua vez, não dá qualquer previsão da data de lançamento desse edital e mantém contratos precários com essas empresas. As duas partes ainda não voltaram a negociar a renovação do convênio para 2015.

A Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, serviu ontem de ‘estacionamento’ para ônibus do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana. Uma paralisação convocada pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região (Sindimoc) deixou a pé quem precisou de ônibus entre as 10 h e 14h30. Com salários atrasados, os trabalhadores "cancelaram" a greve geral, mas não abriram mão do protesto. O motivo tem a ver com dinheiro: os atrasos no pagamento dos funcionários têm sido recorrentes nos últimos meses e seriam um reflexo da falta de repasses dos recursos da prefeitura e governo estadual para as empresas, que dizem ficar sem dinheiro em caixa para honrar o depósito dos salários.

A concentração começou nas áreas centrais. Os passageiros que estavam nos ônibus que chegavam em locais como a Praça Rui Barbosa eram orientados a descer e os veículos, com motoristas e cobradores, seguiam para alguns pontos da cidade. Além da aglomeração em frente ao Palácio Iguaçu, onde a categoria buscou diálogo com o governador Beto Richa, era possível ver ônibus parados nas praças Tiradentes, Carlos Gomes, Eufrásio Correia, nas ruas Lourenço Pinto e Pedro Ivo, além do Terminal Centenário.

"A corda estourou, não aguentamos mais. Queremos mostrar para o governo do estado que existe transporte coletivo em Curitiba", afirmou o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira. Além do protesto contra o atraso salarial, Teixeira criticou o governo estadual, que até ontem ainda não havia quitado R$ 16,7 milhões referentes às três ultimas parcelas do subsídio que cobre a diferença entre o valor pago pelo usuário metropolitano e o repassado às empresas.

Atualmente, a tarifa integrada custa R$ 2,85 e o valor repassado às empresas por passageiro é de R$ 3,18. O atual convênio venceu no último dia 31 de dezembro e ainda não foi renovado.

Para tentar impedir a greve, a prefeitura de Curitiba anunciou, na quarta-feira, o depósito emergencial de R$ 3,8 milhões no Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC). A verba foi utilizada para quitar parte da dívida de R$ 9,5 milhões acumulada com as empresas de ônibus.

Via sindicato, o Setransp, as empresas disseram que usariam o dinheiro para efetuar o pagamento dos salários atrasados. Com a confirmação dos depósitos, o Sindimoc afastou qualquer risco de greve ou paralisação parcial hoje.

Abuso

Ainda durante a paralisação de ontem, a Urbs pediu à Justiça do Trabalho que interviesse na paralisação de forma a garantir uma frota mínima de 70% em horários de pico e de 40% em horários de menor movimento. Segundo o Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR), os pedidos da Urbs não foram apreciados pela Justiça. A assessoria de imprensa do tribunal esclareceu ainda que o pedido da Urbs perdeu urgência diante do pagamento dos salários e da suspensão da paralisação pelo Sindimoc.

Histórico

Nos últimos 12 meses, quem depende dos ônibus como meio de transporte ficou sem ter como se deslocar em seis ocasiões

Fevereiro e março de 2014 - Durante quatro dias, na véspera do feriado de carnaval, houve greve geral dos motoristas e cobradores em Curitiba e região metropolitana. Sem acordo sobre o reajuste salarial, os trabalhadores cruzaram os braços e quem sofreu foi a população. No primeiro dia (26/02) 100% da frota parou, contrariando a decisão de véspera da Justiça do Trabalho que pediu a manutenção de uma frota mínima. Nos demais dias, a categoria foi obrigada a manter 50% do efetivo nos horários de pico e 30% nos demais períodos. Na manhã de 2 de março, antes de a greve terminar, 68% da frota estava operando.

Abril de 2014 - Um protesto atrasou a saída dos ônibus da empresa São José Urbano. A reclamação era da impossibilidade de defesa prévia dos funcionários em casos de desconto nos salários. A situação só foi pacificada em junho, depois de uma greve que teve a conciliação feita pelo Tribunal Regional do Trabalho.

Maio de 2014 - Atrasos nos pagamentos levaram o Sindimoc a impedir que ônibus saíssem das garagens no dia 8 desse mês, atrasando o início da circulação dos coletivos.

Junho de 2014 - No dia 26 desse mês, data de um jogo da Copa do Mundo em Curitiba, todos os ônibus circularam sem cobrar passagem dos usuários. A "greve branca" durou um dia, apenas. No dia seguinte, porém, nenhum ônibus deixou as garagens, o que afetou o funcionamento do comércio e de diversos estabelecimentos, como hospitais. A greve chegou ao fim depois de uma conciliação do TRT. Ainda no início desse mês, o Sindimoc impediu a circulação de alguns ônibus sem cobradores, em razão da proibição da dupla-função dos motoristas. O caso só foi resolvido em agosto, quando os micro-ônibus passaram a aceitar apenas o cartão-transporte como pagamento.

Agosto de 2014 - Um protesto impediu a saída dos ônibus da garagem Auto Viação São José dos Pinhais, na região metropolitana , no dia 25. Durante duas horas, nenhum coletivo saiu. Os funcionários reclamavam de problemas que estariam enfrentado com a empresa, como assédio moral e punições rigorosas.

Dezembro de 2014 - O mês começou com greve no transporte municipal de Araucária e continuou com paralisações em Curitiba. Usuários do transporte coletivo atendidos por seis empresas ficaram sem ônibus durante uma hora na manhã do dia 22. Os trabalhadores paralisaram as atividades por falta de pagamento do vale. No dia 29, um novo protesto relâmpago, motivado pela falta de pagamento da quinzena dos motoristas, paralisou a circulação dos ônibus no centro de Curitiba.

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