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"Revolução"

Coleta de informações da web é conhecida como Big Data

O fenômeno recente de monitorar e organizar a montanha de dados disponíveis na internet ganhou o apelido de Big Data. Empresas ávidas por decifrar seus clientes e hábitos de consumo tratam o tema como uma "revolução". O hype é fomentado por empresas como o Google e a Microsoft, que já disponibilizam ferramentas capazes de auxiliar a interpretação de informações coletadas em bancos de dados públicos e por meio de pesquisas feitas nos próprios sites.

O pesquisador do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Ulbra (Porto Alegre) Renato Pires dos Santos lembra que ferramentas fornecidas pelo Google, que permitem estudos aprofundados, são parte de uma estratégia para justificar o monitoramento de dados. "Hoje, 90% do faturamento do Google vem da publicidade, que é diferenciada justamente por causa desse armazenamento de informação, o que permite um direcionamento de público muito superior. Ou seja, o Google faz algo questionável e depois divide parte dos dados para minimizar o lado ruim dessa prática", explica.

O argumento de que a massa de dados coletados para estudos estatísticos não tem rosto e, assim, não invade a privacidade dos usuários, é colocado em xeque por pesquisas recentes. Estudo feito na Europa com 1,5 milhão de usuários de celulares mostrou que apenas quatro pontos de referência são suficientes para identificar 95% dos cidadãos – ou seja, quanto mais bancos de dados se cruzarem, maior é a chance de transformar em um rosto o que antes era apenas um número.

O que são algoritmos

São sequências de instruções usadas na programação de computadores, que descrevem o caminho a se seguir para que um sistema ou programa execute tarefas pré-determinadas. Hoje, os algoritmos são usados para decodificar e organizar a grande quantidade de dados presentes na internet e já automatizam a operação de vários sistemas, como o das bolsas de valores, justamente por serem capazes de desencadear diferentes ações conforme diferentes cenários.

A cada clique na internet, uma pegada é deixada para trás. Uma pesquisa no Google ou um simples "curtir" no Facebook geram ainda mais pistas. Relacionadas, elas são capazes de montar um retrato dos hábitos de uma pessoa. E assim, em poucos minutos na frente do computador, vêm à tona os gostos, opiniões e desejos do internauta, desnudado por detetives virtuais chamados algoritmos.

A revelação de que o governo dos EUA monitora em segredo a atividade na internet de estrangeiros evidenciou a facilidade em se obter dados pessoais deixados para trás na navegação em redes sociais, sites e páginas de pesquisa. Conteúdo para tal não falta: em 2012, segundo estudo da consultoria norte-americana Cisco, o volume de tráfego na web girava em torno de 12 mil gigabytes por segundo, quantia que deve mais do que triplicar até 2017.

Para as gigantes da internet, como Google, Facebook, IBM e Microsoft, a rotina dos internautas na rede é uma fonte imprescindível de informação e, consequentemente, de lucro. O que torna o conceito de privacidade na web tão antiquado quanto um disquete de 3,5 polegadas.

Vigilância

Desde a criação do Gmail, por exemplo, servidores do Google monitoram o conteúdo dos e-mails disparados pelos usuários, tanto para evitar spams quanto para direcionar ao internauta a publicidade que mais atende às suas necessidades – tática adotada por dezenas de outros provedores. Por isso, não é surpresa que aquele produto que você namorou antes em vídeos no You Tube e comentou com os amigos surja em um anúncio na sua caixa de e-mails a um preço camarada. Na internet, não existem coincidências.

"É ilusão achar que vivemos num mundo moderno onde há alguma privacidade. Não há mais como fugir. Este monitoramento ocorre desde sempre. A questão é que hoje o usuário da internet deixa rastros mais visíveis", afirma Marlon Souza, diretor da Morphy, agência especializada em tecnologia digital.

A constatação, compartilhada por outros especialistas, é tratada de forma ambígua pelos próprios internautas. Pesquisa feita com usuários de todo o mundo pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit revela que consumidores de serviços como o Google e o Facebook não sabem como seus dados pessoais são usados e reconhecem que a proteção a essas informações é fraca – o que não impede, por outro lado, que continuem fornecendo via internet todo tipo de dado, de hábitos de compras a endereço e fotos pessoais. "No mundo real, ainda estamos longe da violação pessoal retratada em 1984 [livro de George Orwell que mostra uma sociedade constantemente monitorada], mas a privacidade individual está cada vez mais em risco", sentencia o estudo.

201 horas

...é o tempo, em média, que um norte-americano levaria para ler todas as políticas de privacidade dos sites que visita durante um ano, conforme estudo da Carnegie Mellon University, sediada no estado da Pensilvânia (EUA). Segundo a pesquisa, esse tempo seria o equivalente a cinco semanas de trabalho e, assim, custaria US$ 3,5 mil a cada usuário de internet – o que mostra a ineficiência deste tipo de comunicado junto aos internautas.

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