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Apesar de a convenção social na Antiguidade greco-romana desaprovar a passividade do cidadão adulto em uma relação com outro homem, essa norma era frequentemente transgredida. Os próprios amores de Aquiles e Alexandre envolvem dois adultos, apesar de nos casais haver uma divisão entre erastes e erômenos que era independente das idades – sendo o erastes sempre o mais poderoso. "A relação idealizada era uma, mas não havia nenhuma regra formal que impedisse a relação entre dois adultos", pondera o pesquisador Fábio Lessa.

Coisa diversa teria acontecido entre Júlio César e o rei Nicomedes IV da Bitínia. No ano de 80 a.C., o jovem César foi mandado ao reino formar uma frota, mas demorou-se tanto em suas negociações com o rei que se espalhou o rumor de que os dois teriam uma relação amorosa, tomando César a posição passiva. A história lhe rendeu o apelido da "rainha da Bitínia" e anos depois, quando de sua vitória na campanha gálica, seus próprios soldados cantarolavam: "César conquistou a Gália, mas Nicomedes conquistou César". O futuro ditador de Roma não enfren­­­­tou qualquer repreensão.

Com o advento do Império, o que o cidadão perdeu de liberdade na vida pública ganhou na vida privada. Foram registrados os primeiros casamentos entre homens nas classes altas. O casamento era uma cerimônia privada e não regulamentada pelo Estado na Ro­­­­ma antiga. Um imperador, Nero, casou-se com dois homens: o eunuco Esporo, que teve todas as honras de uma esposa de césar, e Dorifóro, com quem tomava a posição passiva. Depois de sua morte, a memória de Nero foi banida, mas em geral punições eram raras.

"A passividade era vergonhosa como a gula ou a fraqueza para o álcool. Um exagero da carne, um desvio moral, mas não uma aberração, como se passou a ver todo tipo de homoerotismo com o Cristianismo. Essas pessoas eram alvo de sátiras em público, assim como o homossexual é ridicularizado nos programas humorísticos da atualidade", compara o professor Paulo Pos­samai.

Problema maior teria o homem com hábitos efeminados – maquiagem, depilação e gestual. Gregos e romanos consideravam as mulheres fracas e incapazes para a política e a guerra, e qualquer hábito de um homem que fosse semelhante ao de uma mulher denunciaria fraqueza e falta de virilidade. A passividade é um exemplo, mas que podia ser negado em público – já a efeminação, não. "Não havia a mínima possibilidade de o homem efeminado fazer carreira na política ou no exército", julga o professor.

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