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| Foto: Reprodução/Acervo Biblioteca Nacional Digital

No dia em que o presidente Epitácio Pessoa decidiu em 1922 oficializar o "brado retumbante" como hino oficial do Brasil, ele praticamente não tinha outra saída. Afinal, a música já fazia parte da sociedade brasileira há cem anos. Quando a melodia composta em 1822 por Francisco Manuel da Silva uniu-se à letra do poeta Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909, já se poderia prever que o casamento seria perfeito. E duradouro – a canção celebra hoje, 13 de abril, 104 anos de existência.

Com a decisão de Pessoa, o "impávido colosso" finalmente tomava as estratosferas merecidas em pleno ano do centenário da Independência do Brasil. Ainda hoje, a canção é capaz de emocionar alguns. Outros acabam se enrolando com a letra – a cantora Vanusa que o diga.

Independentemente dos tropeços, a letra dividida em duas partes, com as palavras "Brasil" e "Pátria" repetidas sete vezes, ecoa memórias históricas da nação e até projeções de um Brasil ideal. O professor de História do Brasil do Colégio Positivo Paulo Cezar de Oliveira afirma que o intuito do hino é trazer um sentido de unidade para a federação. "O hino, acima de tudo, é a representação de uma nação", salienta.

A primeira parte da canção – composta no estilo parnasiano – é dedicada a metáforas sobre a Independência do Brasil, em 1822. "O início do hino não corresponde totalmente à nova visão da história sobre o assunto, mas relata de forma poética o grito de independência de dom Pedro I", explica o professor.

Além disso, o "raio vívido de amor e de esperança" e o "formoso céu, risonho e límpido" são exemplos claros do papel enaltecedor do hino para o país. Há ainda referências que não necessariamente correspondem à atual realidade da nação brasileira. O "impávido colosso" refere-se a um destemido país de dimensões continentais. "Mas não é tão impávido assim, afinal temos sérios problemas de injustiça e desigualdade que não condizem com essa afirmação", diz Oliveira.

A mesma relação pode ser feita com o verso "Mas, se ergues da justiça a clava forte", encontrada na segunda parte do Hino Nacional. Segundo o professor, esse trecho pode até ser comparado com a atual Constituição Brasileira, de 1988. "Assim como a Constituição prega a justiça e a igualdade, o hino também o faz", salienta.

A segunda parte da canção dedica-se a enaltecer as características geográficas do Brasil, como a frase "Teus risonhos, lindos campos têm mais flores". "Nessa parte, a canção mostra mais as características físicas do país. O objetivo é que o brasileiro se veja no hino", comenta a professora de História Joseli Mendonça, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O autor da letra

Joaquim Osório Duque Estrada era formado em Letras e poeta. Seu primeiro livro foi publicado em 1887, sob o título Alvéolos. Entre 1891 e 1924 colaborou em vários jornais cariocas, entre os quais Correio da Manhã e O Imparcial. Atuou também como crítico literário do Jornal do Brasil. Em 1909, vence o concurso, criado por lei de autoria de Coelho Neto, para "a melhor composição poética que se adapte, com todo o rigor do ritmo, à música do Hino Nacional Brasileiro". Também compôs as peças teatrais e em 1916 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

O autor da melodia

Nascido no Rio de Janeiro, Francisco Manuel da Silva foi maestro, compositor e autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro. Foi nomeado cantor da Capela Real (1809), depois integrou a orquestra da mesma instituição como timbaleiro (1823) e após, como segundo violoncelo (1825) na corte de dom João VI. Também tocava violino, piano e órgão, além de organizar e dirigir conjuntos musicais. Fundou o Conservatório de Música, embrião do Instituto Nacional de Música, que deu origem à Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Homenagem

Neste sábado, a Banda de Música do Batalhão da Guarda Presidencial e Pelotão de Granadeiros, da 5ª Região Militar do Exército Brasileiro, abre a Semana do Exército ao som do Hino Nacional. O evento ocorre às 10 horas na Praça Osório, em Curitiba. Às 20 h o evento será no Teatro Guaíra e exigirá traje passeio completo

A novela da oficialização do Hino Nacional

A marcha triunfal com­­posta por Francisco Ma­nuel da Silva em 1822 foi uma das formas de celebrar a independência brasileira da coroa portuguesa. Em 1831, a canção entrou de vez no gosto popular. Por um século ela foi ouvida e apreciada pelos brasileiros. Nesse período, provavelmente, outras letras eram entoadas junto com a canção. Mas nenhuma se firmava na condição de Hino Nacional oficial do Brasil.

O professor de História do Brasil Wilson Maske, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que, em 1890, um ano após a Proclamação da República, o presidente Deodoro da Fonseca abriu um concurso para a oficialização de um novo hino. "Esse concurso foi ganho por Leopoldo Miguez. Entretanto, a população não gostou e se mostrou contrária à adoção do novo hino", conta o professor. Dessa forma, a composição vencedora de Miguez tornou-se o Hino da Proclamação da República.

Um novo concurso foi feito para dar letra à música composta em 1822. No ano de 1909, o "Ouviram do Ipiranga", de Duque Estrada, sagrou-se vencedor. Mesmo assim, só foi oficializado como Hino Nacional no centenário da Independência, em 1922.

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