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A UPP da Favela Nova Brasília, atacada por bandidos na segunda-feira no Complexo do Alemão - onde foi morta a soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 31 anos -, poderá ter seu efetivo policial aumentado. Foi o que adiantou ao Globo o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Roberto Sá, que atualmente substitui o secretário José Mariano Beltrame no comando da Secretaria de Segurança. Beltrame está em Washington (EUA), participando de um curso sobre ações antiterrorismo.

Na quarta-feira, a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar identificou quatro criminosos ligados à facção que dominava o Alemão como responsáveis pelo ataque à UPP Nova Brasília. Os policiais divulgaram as fotos dos suspeitos e procuram agora por pistas que levem à prisão de Fernando Cézar Batista Filho, o Alemão; Alan Ferreira Montenegro, o Da Lua; Ilan Nogueira Sales, o Capoeira; e Regis Eduardo Batista, o RG. Ilan Sales é suspeito de ter invadido a 25ª DP (Rocha) para resgatar um traficante de Manguinhos no início deste mês. Os quatro criminosos são do Alemão, mas estariam escondidos no Morro do Chapadão, na Pavuna, onde o Batalhão de Operações Especiais (Bope) fez na quarta-feira uma operação.

O governador Sérgio Cabral fez, em Londres, sua primeira declaração pública, sem ser em nota oficial, sobre a morte da policial. Ele considerou o confronto como um fato isolado e disse que a política de pacificação continuará: "Não há descontrole ou mudanças de rota. Essa vida não foi em vão. Vamos continuar na mesma garantia de paz. Essa foi uma ação terrorista de um grupo perigoso, que está se diluindo e acabando. Há três anos, era o inverso: um policial não podia andar por uma favela do Complexo do Alemão. Isso é um espasmo. O território é nosso."

O Bope, que ocupa o Alemão desde terça-feira, fez na quarta-feira duas operações em busca dos bandidos que mataram a soldado, nos morros do Juramento, em Vicente de Carvalho, e do Chapadão. Foram detidas 12 pessoas, sendo dois menores. Também foram apreendidas uma pistola 9mm, uma granada e uma carabina .30, além de certa quantidade de drogas.Pichações perto da sede da UPP ameaçam a polícia

Segundo o major Ivan Blaz, relações-públicas do Bope, essas ações fazem parte de uma estratégia "para movimentar os criminosos e facilitar o trabalho da Coordenadoria de Inteligência". Ele esclareceu que ainda não tem como afirmar se algum dos presos de quarta-feira, encaminhados para a 39ª DP (Pavuna), tem ligação com o ataque à UPP Nova Brasília. "O que esses criminosos fizeram no Alemão foi um atentado à sociedade carioca. Mais uma vez, um grupo de marginais tenta atacar a sociedade, mas eles receberão uma resposta dura do governo", destacou Blaz.

Na quarta-feira, agentes da polícia iniciaram uma nova perícia na UPP Nova Brasília, que teve movimentação intensa de PMs durante todo o dia. Um suspeito de envolvimento no ataque de segunda-feira foi detido dentro da comunidade pela manhã e encaminhado para a 22ª DP (Penha). Incursões policiais a pé e de moto se estenderam por todo o dia na região.

O diretor da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, disse no início da tarde de quarta em entrevista ao "RJ-TV" que a perícia feita na terça-feira na sede da UPP concluiu que o tiro que acertou a PM Fabiana no tórax entrou de baixo para cima. Ainda segundo ele, se em uma semana não for possível apurar todas as circunstâncias da morte da policial, será feita uma reconstituição do crime. "Ficaremos aqui todos os dias por determinação da Chefia de Polícia", disse Barbosa.

No início da tarde de quarta-feira, foram apreendidos 41 sacolés de cocaína, 25 cápsulas de cocaína, 103 trouxinhas de maconha e R$ 706 em espécie, na Praça do Coqueiro, nas proximidades da Favela Nova Brasília. Três traficantes que estavam com o material conseguiram fugir. Na quarta-feira, todo o comércio da comunidade funcionou, mas os moradores ainda preferiam ficar em silêncio quando o assunto era o ataque à UPP. Nos becos próximos à sede da unidade, há pichações contra o processo de pacificação, incluindo ameaças à polícia.

Na Vila Cruzeiro, favela vizinha à Nova Brasília, outros três homens foram presos à tarde. Até as 19h de quarta-feira, o Disque-Denúncia (2253-1177) havia recebido 42 ligações com informações sobre o atentado. A polícia informou que todas estão sendo checadas.

Pela primeira vez, um presidente da República emitiu nota lamentando a perda de um policial em serviço. No comunicado sobre a morte da soldado Fabiana, a presidente Dilma Rousseff, que está em Londres, chama a policial de heroína e afirma que sua morte "deixa a marca de uma tragédia pessoal, para sua família, e de um sacrifício na luta incessante pela consolidação da paz". Para Dilma, Fabiana "abraçou essa causa e deixou a certeza de que outros braços a sucederão, com o mesmo empenho, para consolidar cada vez mais o sucesso das UPPs". A nota afirma ainda que o processo de pacificação é irreversível: "A paz vencerá. Não há retorno. Transmito minha solidariedade a toda a corporação policial militar e à população do Rio. Deixo em especial minha solidariedade e meu carinho a esta família, nesse momento de tristeza".

Morte de PM gera debate sobre segurança de agentes

A dramática experiência vivenciada por policiais da UPP da Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, com a morte da soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 31 anos, vítima de um tiro de fuzil, está servindo de pano de fundo de uma discussão sobre a segurança dos agentes pacificadores. Especialistas em segurança pública consideram o episódio marcante e importante como aprendizado para novas ações.

Há discordância com relação ao uso de coletes à prova de balas resistentes a tiros de fuzis. O coronel reformado da PM paulista e ex-secretário Nacional de Segurança, José Vicente Filho, considera fundamental medidas urgentes para aumentar a segurança dos policiais de áreas mais críticas que tenham UPPs.

"Pode-se pensar em dotar as UPPs de áreas críticas, como as do Complexo do Alemão, de coletes mais resistentes. Seriam usados quando necessário. Algumas cautelas adicionais também podem ser empregadas, como a blindagem da parte frontal das UPPs e a meia blindagem das viaturas, reforçando as partes laterais e os vidros. Isso é plausível. O problema é que, para muitas polícias do Brasil, o policial é descartável", analisou José Vicente.

Para o cientista político João Trajano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, nenhuma das sugestões impediria a morte da soldado Fabiana. Para ele, a troca de comando da ocupação do Complexo do Alemão pode ter sido prematura. No início do mês, o Exército deixou a região.

"As blindagens reduziriam os riscos. Mas o que aconteceu foi um fato isolado, não previsto. Há uma ambição muito forte, muito grande, de inverter a lógica da guerra. As UPPs existem não para combater, mas para serem provedoras de segurança."

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