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 | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Moradora desde 2001 do Pequeno Cotolengo, instituição que abriga pessoas com deficiências múltiplas abandonadas pela família ou em situação de risco, Adriana Alves dos Santos é considerada um “modelo” na instituição e um exemplo de superação para os colegas. Adriana nasceu com uma deficiência intelectual leve, por isso mora em uma das casas lares da instituição, que divide com outras cinco moradoras.

No quarto, impecavelmente arrumado, Adriana coleciona ursos de pelúcia e uma série de medalhas conquistadas ao longo dos anos. A maioria das premiações são nas modalidades de dança, basquete e golfe sete - modalidade adaptada para pessoas com deficiência.

Dentro da instituição, além da prática de esportes, a moradora também participa de aulas de artesanato, informática e de cursos profissionalizantes. Ela também atua no projeto Coro Cênico, que leva peças de teatro estreladas por moradores do Pequeno Cotolengo a diversos palcos por toda a cidade gratuitamente. Adriana é a atriz principal da peça.

“Ela tinha um papel de destaque, com muitas falas e ela deu conta dessas falas”, diz a diretora auxiliar da escola do Pequeno Cotolengo Magali Espinosa da Silva. Adriana conta que tem uma tática para decorar todas as suas falas na peça. “Eu ficava falando sozinha”, diz.

Modelo

Além das atividades extracurriculares, Adriana frequenta a escola duas vezes por dia. De manhã, tem aulas do reforço pedagógico, que auxiliam no desempenho dela na escola regular, que frequenta à noite com outros 14 moradores do Pequeno Cotolengo. Os moradores com capacidade intelectual mais desenvolvida estudam em escola regular nas modalidades da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA). No primeiro caso, que é o de Adriana, os alunos estudam desde a alfabetização até o 5º ano.

Foi no ensino regular que Adriana trouxe um prêmio inesperado para a instituição, que serve de inspiração para os demais moradores. Ela foi vencedora de um concurso cultural promovido pela Prefeitura de Curitiba. O concurso premiou a melhor frase com o tema “Brincar e Ser Criança em Curitiba” no aniversário de 322 anos da cidade.

“Foi uma grata surpresa, porque ela concorreu junto com todos, ela não estava na categoria especial e até o pessoal da Prefeitura quando soube que ela era nossa ficou muito feliz com essa realização”, conta Magali. Além de um passeio pelos pontos turísticos da cidade, Adriana recebeu um certificado, que ganhou uma moldura e decora o quarto.

Profissionalização

Durante à tarde, Adriana participa de um curso de profissionalização na panificadora montada dentro do Pequeno Cotolengo para estimular os moradores a se desenvolverem para o mercado de trabalho. Ela já participa do projeto há dois anos. “Sei fazer pão, bolo, pastel, coxinha”, conta orgulhosa.

O trabalho na panificadora, que é remunerado, já permitiu que a moradora guardasse dinheiro para ir às compras. Entre os produtos adquiridos está um celular, mas o aparelho não é usado para acesso a redes sociais, não. A função, segundo a moradora, é ouvir músicas. A playlist repleta de sucessos sertanejos é abastecida com a ajuda dos profissionais que trabalham no marketing da instituição. O próximo produto na lista de compras, segundo Adriana, é um tablet. “Eu tinha um tablet, mas eu levei para o Beto Carreiro e quebrou”, conta.

Personalidade

Adriana divide o quarto com outra moradora, e garante que é a mais organizada da dupla. O quarto, além de impecavelmente arrumado, também tem um cheiro especial – Adriana é apaixonada por perfumes. “A Adri é a pessoa mais cheirosa desse lugar”, diz uma funcionária.

Doçura e proatividade também são adjetivos que descrevem a moradora, segundo funcionários da instituição. “Ela gosta muito de ajudar, gosta muito de ser auxiliar dos professores”, conta a mãe social Katia Lopes. “Ela sempre defende as meninas. Quando mexem com as meninas aqui ela vira uma vespa, é uma mãezona”, diz a mãe sobre a relação da Adriana com as outras cinco meninas da casa.

“Acho a Adriana muito focada. A gente quando vê a Adriana, sempre vê ela séria, mas essa seriedade é o foco dela em todas as atividades que ela vai fazer”, diz a pedagoga da escola da instituição Walderez Mikos.

Evolução

“Ela é extremamente prestativa, tem iniciativa”, conta a diretora auxiliar da escola. Mas nem sempre foi assim, segundo Magali. “A Adriana já foi muito tímida, muito quieta, com algumas dificuldade em aceitar alguma correção”, diz a diretora da escola. “Hoje em dia ela é aberta às novidades. Às vezes ela precisa de um tempinho para trabalhar isso nela e aí passar a realizar as atividades propostas”, conta.

As dificuldades, segundo a diretora auxiliar, são reflexo das condições em que todos os moradores chegam à instituição. “Todos que chegam para nós vêm de uma história que é delicada, uma história muitas vezes com grandes marcas. E ela vem para nós muito resistente. A Adri no início não acreditava que ela dava conta da alfabetização. Ela não achava possível que ela conseguisse. Ela resistia muito a tudo que você corrigisse. Se você queria apagar uma palavra, ela arrancava a folha inteira”, conta Magali.

Atualmente, assim como os demais moradores, Adriana tem consciência do seu potencial e de como evoluiu com o passar dos anos. “Ela tem essa consciência hoje, do tanto que ela evoluiu, do tanto que ela desenvolveu e o principal: o quanto ainda pode desenvolver. Porque ela tem um potencial maravilhoso”, diz Magali.

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