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Presidente de sindicato diz que a prática é comum

Empresa séria não bate de porta em porta para vender serviço de segurança. "Quem fizer isso deve ser denunciado à Polícia Federal", diz o presidente da Federação de Vigilantes do Paraná e do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região (Sindivigilantes), João Soares. Segundo ele, instalar o caos em determinada região para depois oferecer esses serviços é uma prática mais freqüente do que se imagina. A conclusão vem também de quem se dedica a pesquisar as causas e as conseqüências da criminalidade.

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PM não pode prestar serviço de segurança privada

O policial militar não pode fazer bico de segurança no horário de folga nem receber benefícios em troca de rondas mais freqüentes. A proibição parte dos mais altos escalões da corporação, embora a Gazeta do Povo tenha ouvido quem contrate militares para ambos os casos. "Se um policial trabalha nas horas do contraturno, isso é ilegal, o caso deve ser denunciado e o policial punido. Já no caso em que policiais favorecem determinadas regiões, comércios ou moradores, a situação é ainda mais grave, implica em corrupção, é desvio de conduta", diz o Secretário da Segurança Pública do Paraná (Sesp), Luiz Fernando Delazari.

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"O policial tem de estar 100% dedicado"

As denúncias contra policiais que exercem atividades paralelas são imediatamente apuradas, garante o chefe do Estado-Maior do Comando de Policiamento da Capital, tenente-coronel Jorge Costa Filho. Há 33 anos na Polícia Militar, Costa Filho defende a dedicação exclusiva como forma de melhorar a segurança.

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Uma onda de violência fabricada vem atingindo pequenos e médios comerciantes da periferia de Curitiba, alvos de marginais que não têm como único propósito o furto ou roubo. Vândalos estão sendo contratados para depredar residências e arrombar lojas para que, em seguida, empresas clandestinas visitem as vítimas para oferecer serviços de segurança. Quem se recusa a contratá-las volta a sofrer ataques. Os serviços variam entre R$ 300 e R$ 1 mil por mês, conforme o tamanho da empresa. Alguns lojistas encontraram uma alternativa igualmente irregular para se proteger: contrataram policiais para trabalhar no horário de folga.

A Gazeta do Povo entrevistou seis comerciantes e três moradores de diferentes regiões, vítimas do golpe. Com medo, só contam detalhes por meio de nomes fictícios, pois qualquer identificação de pessoas ou lugares resultaria em represálias. Os métodos dessas empresas de fundo de quintal são idênticos. O microempresário João, por exemplo, teve a loja arrombada duas vezes. Na primeira, os gatunos entraram pelo telhado e fizeram uma limpa no material de pesca e outros pequenos objetos da loja. No dia seguinte, o representante de uma empresa clandestina batia à porta para oferecer os serviços de vigilância.

João ignorou a oferta, fez seguro, instalou alarme e reforçou a tranca da pantográfica. Passados dois meses, se deparou com a porta arrombada. Nem houve tempo de a notícia correr a vizinhança e já recebeu a mesma visita. "Na primeira vez até podia parecer uma coincidência, mas na segunda ficou evidente que se tratava de um golpe", diz João. O mesmo aconteceu com o vizinho, que um dia após cada uma das duas invasões da loja, ocorridas no intervalo de um mês, foi procurado pela mesma empresa de segurança. "É tudo piazada. E o pior é que eu conheço todos eles, mas não posso fazer nada, senão é pior", lamenta João.

Num bairro da zona Leste, dois microempresários ouvidos pela reportagem admitem ter cedido às pressões. "Foram três arrombamentos em um mês", diz um deles. "No começo eu não entendi porque não levavam praticamente nada de dentro da loja, mas me dei conta do que se tratava quando vieram pela segunda vez oferecer os serviços de segurança", conta. "Eu tive que fazer, porque senão sairia mais caro consertar a porta toda vez". Dois quarteirões adiante, um comerciante diz sentir-se coagido. "Nos tornamos reféns dessa gente. Eles criam o problema e se aproveitam da nossa fragilidade para vender a solução".

Não só empresários são alvos desse negócio. Em três bairros, encontramos casos de residências alvejadas por pedras durante a noite, aparentemente sem nenhum motivo. Um ou dois dias depois os moradores tinham à porta um sujeito oferecendo segurança privada. Ele próprio faz o serviço, soprando o apito toda vez que passa em frente da casa. Numa residência foram três depredações até que alguém aparecesse. "Foi só contratar a empresa e colocar o adesivo dela na porta que os nossos problemas acabaram", diz um morador. Nas outras duas casas, a solução apareceu já na primeira ocorrência. O serviço varia entre R$ 50 e R$ 100 por mês.

Em outro bairro, um empresário confessa ter contratado um policial para fazer a segurança da loja no horário de folga, o que não é permitido pelo regimento da PM. "Eu sei que é um erro. Mas entre tantos erros que tem, não é o pior", pondera. Há quem faz pior. Dois vizinhos de parede se cotizam para atender aos policiais militares que cobram R$ 70 por dia para fazer rondas mais freqüentes em frente das lojas. Um dos comerciantes negou, mas o outro confirmou a propina sem saber que estava falando com a imprensa.

Um vigilante ouvido pela reportagem conhece muitos policiais dispostos a aceitar serviços particulares. "A maioria dos que eu conheço aceita. Eu mesmo atendo um posto de gasolina que me paga R$ 50 por 15 minutos de serviço, é só o tempo de levar o dono com o malote de dinheiro até o banco. Quando eu não posso, chamo um policial militar e ele faz o serviço pra mim por R$ 25". Em outros casos, são os próprios policiais que fazem o assédio, conforme revela uma empresária que preferiu contratar uma empresa de segurança a pagar por fora para os policiais.

A loja vinha sendo assaltada semana sim, semana não. Num dos registros da ocorrência, um policial esperou que os colegas se retirassem para fazer a proposta à empresária. "Sei que outros fazem isso, mas eu não poderia", diz. "Ele já é pago com dinheiro público para nos dar segurança, então seria como pagar duas vezes", argumenta. Alguns comerciantes preferem o meio-termo. Não entregam dinheiro, mas fazem agrados aos policiais para terem a viatura com mais freqüência na porta da loja. Tem açougue que dá carne, lanchonete que fornece lanche, supermercado que doa alimentos. "Cada um oferece o que pode", diz ela.

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Serviço

Para informações sobre empresas de segurança privada: Polícia Federal, no 3251-7500 ou www.dpf.gov.br; Sindesp-PR, no 3233-6787 ou www.sindesp-pr.org.br; Sindivigilantes, no 3332-9293 ou www.vigilantescuritiba.org.br. Para denúncias de policias militares atuando em segurança privada: 0800-6437090.

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