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Michel Temer (PMDB) | Beto Barata/PR
Michel Temer (PMDB)| Foto: Beto Barata/PR

Guindado ao poder com o respaldo das ruas, o apoio do empresariado e a retaguarda de uma ampla maioria no Congresso, o governo Michel Temer (PMDB) chega ao final de 2016 com a crise batendo à porta. A projeção de retomada do crescimento da economia não se concretizou e tem sido revista para baixo. Nenhuma das reformas consideradas fundamentais foi aprovada pelo Parlamento. Além disso, velhos demônios têm tirado de campo ministros e aliados importantes para Temer – o mais recente deles é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Apoiador de todos os governos desde a redemocratização em 1985, o PMDB nunca foi vidraça. Sempre se aproveitou do fato de ter as maiores bancadas na Câmara e no Senado para conquistar espaço no Planalto e na Esplanada dos Ministérios. Com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), porém, o partido trocou a sombra do bastidor pela linha de frente no comando do país, prometendo colocar a economia nos trilhos.

Temer convive com um “inimigo íntimo”: seu próprio partido, o PMDB

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Na prática, porém, Temer sofre para promover alguma mudança significativa. No mês passado, o governo anunciou a redução da projeção de crescimento do PIB em 2017, de 1,6% para 1%. Para 2016, a projeção, que era queda de 3%, piorou, passando para uma contração de 3,5% da economia. Já os índices de desemprego não cedem, enquanto os números da população ocupada apresentam queda.

No Congresso, o primeiro grande passo da União no rumo das reformas econômicas pode ficar para o ano que vem. A PEC do teto de gastos − que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos, usando a inflação do ano anterior como parâmetro de reajuste – corre riscos de ficar engavetada se Renan não se mantiver na Presidência do Senado. Já a reforma da Previdência, que começou a tramitar somente nesta semana, terá um longo caminho ao longo de 2017 até ser aprovada e certamente sofrerá mudanças em relação ao texto original.

Aliados abatidos

Em quase sete meses na Presidência da República – contando o período de interinidade −, o governo Temer passa a imagem de que gasta a maior parte do tempo apagando incêndios e tendo se explicar pelo seu passado. Nesse curto período, seis ministros já deixaram a Esplanada, entre eles dois peemedebistas fieis ao presidente.

O senador Romero Jucá (RR) saiu do Ministério do Planejamento menos de duas semanas depois de tomar posse, após ser flagrado em conversas com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, sugerindo “estancar a sangria” causada pela Operação Lava Jato. Já o ex-presidente da Câmara Henrique Alves (RN) foi citado por Machado como beneficiário de R$ 1,55 milhão em propina do petrolão e acabou saindo da pasta do Turismo.

Mais recentemente, Marcelo Calero pediu demissão do comando da Cultura por conta de pressões que diz ter sofrido do então ministro da Secretaria Geral de Governo, Geddel Vieira Lima, por um parecer favorável do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que liberasse a construção do empreendimento na capital baiana. Dono de uma unidade no edifício, Geddel também deixou a Esplanada na sequência na tentativa de conter a crise política.

Nesse meio tempo, também ficou pelo caminho o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Peça-chave para que Temer chegasse ao poder por meio do impeachment de Dilma, ele foi cassado pelos colegas parlamentares e, logo depois, preso pela Lava Jato. Agora, a bola da vez é Renan Calheiros, que está afastado liminarmente da Presidência do Senado depois de virar réu por crime de peculato (desvio de dinheiro público) em uma investigação de 2007.

“Temer não governou até agora”, avalia cientista político

Cientista político da UFPR, Emerson Cervi é taxativo ao afirmar que o governo Temer “não governou até agora”. Na avaliação dele, o peemedebista prometeu em meio ao impeachment que reaqueceria a economia por meio das reformas. Até agora, porém, não há nenhum sinal de que isso vá se concretizar e já se projeta um 2017 quase que perdido.

“O governo está encurralado pela economia e pelo próprio governo, com o envolvimento de ministros na Lava Jato, tráfico de influência na alta cúpula”, afirma. “O Temer chegou ao poder acreditando que teria apoio irrestrito da sociedade, mas temos o país claramente dividido.”

Para Cervi, os apoiadores de Temer na sociedade – sobretudo o empresariado – caiu na realidade de que esse é um governo de transição, que não tem a autoridade necessária para fazer mudanças estruturais no país. “Quem o convenceu de que seria um governo de salvação agora está com o pé atrás. O apoio do empresariado que não viu resultado prático até aqui na economia começa a esfriar. Na melhor das hipóteses, o entendimento é de que ele leve o país até 2018.”

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