
O senado Alvaro Dias (PSDB-PR) foi pego em um "deslize". Apesar de ser um dos mais atuantes dentro do Senado, referência na oposição ao governo do presidente Lula e um dos primeiros a cobrar transparência nas ações políticas, Alvaro deixou de informar à Justiça Eleitoral um patrimônio de cerca de R$ 6 milhões, referentes a saldos bancários e investimentos financeiros. O valor é quatro vezes maior que a soma das informações de bens apresentadas antes da eleição de 2006 pelo senador R$ 1,9 milhão. A notícia foi divulgada nesta semana pela revista Época.
A atitude não é ilegal, por uma questão técnica. A Justiça Eleitoral exige que os candidatos a cargos públicos declarem os "bens", ou seja, propriedades e objetos físicos, como carros. Porém não exige a declaração de "direitos" considerados como o patrimônio em instituições financeiras, como saldo de contas bancárias e investimentos financeiros. Apenas a Receita Federal exige a prestação de informações de "Bens e Direitos" para fins de cálculo do Imposto de Renda.
A reportagem da Época chegou ao patrimônio de Alvaro Dias depois de informações prestadas pelo próprio senador. O tucano atribui a informação da revista como uma retaliação por estar à frente da CPI da Petrobras, que pretende investigar irregularidades fiscais da empresa. "Estão usando a imprensa na tentativa de amedrontar. Querem calar a voz de quem critica, de quem denuncia", afirmou.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná, Renato Perissinotto, diz acreditar que quanto mais os políticos expuserem seus ganhos privados melhor. Já o professor da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas, declara que a situação (a não declaração dos investimentos de Alvaro) é reflexo do sistema político atual, em que a preocupação maior de quem é eleito será o financiamento da próxima campanha. O professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Oliveira, não acredita no direito à privacidade nesses casos. "Isso é para o cidadão comum. O político é um homem público e todas as informações dele devem ser públicas", salienta.
Os R$ 6 milhões não informados à Justiça Eleitoral pelo senador Alvaro Dias são provenientes da venda de uma fazenda de 36 hectares em Maringá, no Noroeste do Paraná. O imóvel foi comercializado por R$ 5,3 milhões em 2002. O dinheiro foi investido em aplicações até 2007. Desde então, Alvaro comprou um terreno em uma das áreas mais valorizadas de Brasília: o Setor de Mansões Dom Bosco. Lá, estão sendo construídas cinco casas, cada uma avaliada em cerca de R$ 3 milhões.
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