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Em seu discurso, a presidente Dilma Rousseff reforçou que o Brasil é um país democrático | UESLEI MARCELINO/REUTERS
Em seu discurso, a presidente Dilma Rousseff reforçou que o Brasil é um país democrático| Foto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Pela primeira vez após as manifestações realizadas em todo o país a favor e contra o governo, a presidente Dilma Rousseff (PT) fez pessoalmente a defesa de seu governo e, seguindo o discurso já apresentado pelos seus ministros, afirmou nesta segunda-feira (16) que está disposta a levar um “diálogo humilde” com todos os setores da sociedade.

aqui no legislativo, não

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que a corrupção está no Executivo, e não no Legislativo. “Se eventualmente alguém no Poder Legislativo se aproveitou da situação para dar suporte político em troca de benefícios indevidos é porque esses benefícios existiram pela falta de governança do Poder Executivo, que permitiu que a corrupção avançasse.”

Dilma disse ainda que o Brasil é um país democrático que se torna cada vez mais “impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso”.

Qual seria a saída para Dilma?

Presidente prometeu “humildade” e “diálogo”, mas tem pouca margem de manobra para dar respostas de curto prazo às manifestações

  • Brasília

Um dia depois de ser alvo de manifestações, Dilma Rousseff (PT) prometeu mais “humildade” e “diálogo”. O posicionamento, anunciado após reunião da presidente com o vice, Michel Temer, e 11 ministros, está distante de se transformar em respostas práticas à onda de descontentamento contra a gestão petista. Governistas e oposicionistas veem pouca margem de manobra para Dilma.

“A grandiosidade do movimento foi com certeza muito superior à força do governo para superar esse impasse”, diz o líder da oposição no Senado, Alvaro Dias (PSDB). Para ele, toda e qualquer proposta que não dependa apenas do governo não terá apelo para a população. “Ninguém vai cair na história de apresentar projetos para o Congresso aprovar, até porque a presidente não tem controle sobre sua base.”

Ainda assim, o tucano acredita que há uma saída de curto prazo – uma ampla reforma administrativa. “Dá para Dilma, sozinha, cortar pela metade o número de ministérios e remontar toda a equipe. É só deixar de lado a relação promíscua com os aliados no Congresso e nomeando pessoas competentes, independentemente dos partidos.”

Reduzir os 39 ministérios, no entanto, vai retirar espaços de partidos que já estão descontentes com o modelo atual, como o PMDB. No sentido contrário, o presidente do PT no Paraná e deputado federal, Ênio Verri, diz que um dos caminhos é dar mais espaço aos peemedebistas. “Melhorar a representação do PMDB é melhorar a relação com o Congresso”, ressalta.

A leitura de Verri é de que o país não passa por uma crise econômica, mas política. “A essência da crítica está na sensação da população de que não é representada pelo nosso atual sistema político”, diz o petista. Para ele, a resposta imediata à demanda por mais combate à corrupção é a adoção de alternativas mais rígidas de transparência no gasto público, que não dependem de aval do Congresso.

No campo econômico, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ontem a empresários de São Paulo, onde as manifestações levaram mais gente às ruas, que a situação das contas públicas impede novos estímulos à economia – o que indica que não haverá medidas de curto prazo. Segundo ele, é momento de superar o “medo”. “É importante termos coragem para dar certo no tempo certo”, declarou.

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado paranaense Ricardo Barros (PP) opina que a crise com o Congresso, que tem travado o pacote de ajuste econômico, pode ser solucionada com um “redirecionamento” de Dilma. “Ela pode trocar os atuais interlocutores ou fazer com que eles atuem de uma outra maneira”, cita Barros. “O lado bom é que acompanhamos manifestações ordeiras, pacíficas, que abrem margem para o governo mudar. É só querer.”

“Um país que, diante de convites a aventuras e a rupturas da normalidade política, escolhe o caminho da democracia, do respeito de todos os princípios constitucionais; um país que, amparado na independência e separação dos poderes, na democracia representativa, na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas, se torna cada vez mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso”, afirmou Dilma em discurso durante cerimônia no Palácio do Planalto.

A presidente destacou que ouviu com muita atenção as demandas apresentadas nos protestos e está disposta a dialogar com todos os setores da sociedade. “Vamos dialogar com todos, com humildade mas com firmeza. [...] Ouvir é a palavra, dialogar é a ação e o sentimento tem de ser de humildade e firmeza”, disse.

Dilma comemorou ainda que as manifestações em todo o país foram pacíficas e sem casos de violência. “No dia em que celebrávamos 30 anos do retorno à democratização, tivemos nesse dia e na sexta-feira uma inequívoca demonstração de que o país de agora é um país democrático que convive para pacificamente com manifestações, ao contrário de muitos países no resto do mundo”, disse.

Medidas

Ainda durante o discurso, Dilma confirmou que apresentará nesta semana um pacote de medidas de combate à corrupção e à impunidade, no entanto, ela não detalhou quais serão as medidas apresentadas. Em entrevista após a cerimônia, Dilma afirmou apenas que as propostas são as mesmas que ela já apresentou durante a campanha eleitoral à sua reeleição, em outubro.

“Nós temos todos aqui absoluta concordância com essa demanda popular de combate à corrupção. [...] Sei que o protagonista dessa reforma é toda a população brasileira mas também sei que o espaço adequado para ela é o Congresso Nacional. Por isso acredito que um amplo debate entre todos os órgãos é crucial”, disse.

Beco sem saída

Dilma depende mais do Congresso do que de si para aplacar os ânimos:

Combate à corrupção

O governo está finalizando um pacote de propostas legislativas que incluem punição aos corruptos com mais rapidez, criminalização do enriquecimento ilícito de servidores públicos e agilização de processos contra desvios de recursos públicos.

Será que cola?

As medidas dependem do Congresso, com quem Dilma também tem dificuldades de negociação. O que pode ser mais efetivo é a adoção de propostas de transparência, que independem do aval dos parlamentares. Nada que amenize os desdobramentos da Lava Jato.

Crise econômica

O remédio de Dilma é o amargo ajuste econômico proposto por Joaquim Levy, que já chegou ao Congresso – e que também tem batido na trave por falta de apoio parlamentar. A contenção momentânea da alta do dólar está praticamente descartada.

Será que cola?

Uma das argumentações de boa parte dos manifestantes é que Dilma mentiu sobre o estado da economia na campanha. Dificilmente haverá paciência para esperar que o pacote emplaque. Enquanto isso, o dólar elevado prejudica o consumo.

Administração

Dilma pode dar sinais de que deseja mudar o perfil da sua gestão, trocando ministros e anunciando cortes de gastos. Também pode cacifar programas em áreas sensíveis aos protestos de 2013, como saúde e educação.

Será que cola?

O Mais Médicos foi anunciado depois das manifestações de 2013 e colou. Dilma tem se demonstrado avessa, porém, a cortes no número de ministérios e nos critérios de escolha.

Negociação política

A equipe montada por Dilma para negociar com os aliados perdeu credibilidade. A petista deu sinais de que deve modificá-la.

Será que cola?

Qualquer mudança dificilmente vai conseguir satisfazer os 11 partidos “aliados” que estão representados na Esplanada. A solução de apelar para o PMDB pode ser boa na relação com o Congresso, mas atrai a impopularidade de nomes como Renan Calheiros para o Planalto.

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