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Presidente Dilma Rousseff tenta recompor base aliada com distribuição de cargos no governo. | IsaacAmorim/AG.MJ /
Presidente Dilma Rousseff tenta recompor base aliada com distribuição de cargos no governo.| Foto: IsaacAmorim/AG.MJ /

Um dia após o PMDB desembarcar do governo e apostar todas as fichas no impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Planalto contra-atacou na quarta-feira (30), abrindo um verdadeiro “balcão de negócios” no esforço para manter a petista no poder.

A estratégia é aproveitar a “caneta cheia” de Dilma, que tem o poder de nomear quem quiser para cargos de primeiro e segundo escalão no governo, para recompor a base governista no Congresso. Partidos aliados, como PP, PR e PSD, devem ganhar espaço no vácuo deixado pela legenda do vice-presidente Michel Temer.

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Na distribuição de cargos públicos para angariar apoio contra o impeachment, o Planalto admite inclusive reduzir o tamanho do PT no governo. Impedido de assumir oficialmente o comando da Casa Civil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal articulador do governo nas negociações de cargos com deputados, senadores e dirigentes de todos os partidos aliados.

A intenção é anunciar os novos nomes até sexta-feira (1º). “Vamos construir uma nova maioria, com um pedaço de lá e outro de cá”, afirmou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PT-PA).

“O cenário em Brasília muda a cada momento, há uma construção nova do governo, muito boa, trazendo gente que estava afastada”, declarou o deputado paranaense Ênio Verri (PT-PR).

Nesse cenário, o PP, hoje no comando do Ministério da Integração Nacional, e o PR, na pasta de Transportes, tendem a ser os novos partidos fortes da coalizão pró-Dilma, depois do PT. Na mesa de negociações, estariam as pastas da Saúde e Minas e Energia, sem contar o comando de empresas estatais e bancos públicos. Embora negue, o deputado paranaense Ricardo Barros (PP) está cotado para ser o novo ministro da Saúde.

Sinas dúbios

Apesar disso, lideranças do PP e do PR ainda não dão sinais concretos de que se manterão fiéis na balança de Dilma. O PR votou com o governo em 80% dos projetos no Congresso, segundo levantamento do Estadão Dados. O PP, em 62%. Ambos os partidos declararam nesta quarta, porém, que só tomarão decisões após a Comissão Especial do Impeachment na Câmara apresentar o seu relatório – o que deve ocorrer só daqui a duas semanas.

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Na contabilidade do Planalto, Dilma tem, hoje, entre 130 e 150 votos para barrar o impeachment, número inferior aos 171 necessários.

Faxinados

As legendas buscadas pelo governo hoje são as mesmas atingidas pela “faxina” promovida pela presidente Dilma Rousseff (PT) logo no início do seu primeiro mandato, em 2011. Na ocasião, a petista demitiu sete ministros envolvidos em suspeita de corrupção – entre eles, Alfredo Nascimento (PR), do Transportes, e Mario Negromonte (PP), do Ministério das Cidades. Mesmo com as mudanças, os partidos foram mantidos com assentos no primeiro escalão.

A procura pelo PP gera outra polêmica, já que a legenda é uma das que mais possui políticos envolvidos em denúncias na operação Lava Jato. Nesta quarta, em meio às negociações com o governo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra cinco deputados do partido: Mario Negromonte Junior (BA), Luiz Fernando Faria (MG), João Otávio Germano (RS), Roberto Brito (RS) e Arthur Lira (AL). Também foram denunciados os ex-deputados Mario Negromonte e João Pizzolatti, também do PP.

“Distribuição de cargos não se transforma em apoio no Congresso”, diz analista

A busca de Dilma Rousseff (PT) pela “salvação” com o apoio de aliados no Congresso coloca em evidência uma característica própria do presidencialismo de coalização: o loteamento de cargos no governo. O deputado federal paranaense Ênio Verri (PT) declarou na quarta-feira (30) que o modelo “pode até estar falido, mas se dá naturalmente no atual cenário”.

O cientista político Márcio Coimbra, coordenador do MBA Relações Institucionais do Ibmec, aponta que a estratégia mostra que o governo vai usar de “todas as armas” para barrar o impeachment da presidente. Para ele, o método é arriscado, pois Dilma já se mostrou “incapaz de construir consenso e maioria no parlamento”.

“A distribuição de cargos para partidos aliados não consegue se transformar em apoio no Congresso. Há outras formas de construir maioria. Também é importante ressaltar que, mesmo que a presidente consiga se livrar do impeachment, a possibilidade de ela conseguir governar posteriormente é muito pequena, o que é ruim para o país a longo prazo”, diz.

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