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Ex-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, Henrique Hargreaves se tornou uma exceção ao decidir deixar o cargo temporariamente quando se tornou alvo de denúncias públicas | Maria Tereza Correia
Ex-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, Henrique Hargreaves se tornou uma exceção ao decidir deixar o cargo temporariamente quando se tornou alvo de denúncias públicas| Foto: Maria Tereza Correia

Entrevista

Henrique Hargreaves, ex-chefe da Casa Civil

Ex-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, Henrique Hargreaves (foto) se tornou uma exceção ao decidir deixar o cargo temporariamente quando se tornou alvo de denúncias públicas. Citado como possível envolvido em um escândalo de desvio de verbas do governo federal, investigado pela CPI do Orçamento, Hargreaves preferiu deixar o cargo – segundo ele, para não prejudicar o presidente.Depois de todas as investigações, nada foi concluído contra o ministro, que acabou retornando ao posto e ganhando elogios por ter se afastado durante o período de acusações. De Brasília, onde hoje chefia o Escritório de Representação Política do governo de Minas Gerais, Hargreaves evitou falar sobre as denúncias contra o atual ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, mas contou sobre seu afastamento na época em que ocupava o cargo.

O senhor preferiu se afastar para não prejudicar o presidente?

Lógico, não podia. Apesar de que na época não houve nenhuma acusação sobre a Casa Civil. Mas mesmo assim eu achei por bem me afastar. O que aconteceu foi que, na CPI do Orçamento [que apurou um esquema para desvio de verbas da União], disseram que, como funcionário da Câmara, eu devia saber que existia [o desvio], mesmo eu dizendo que não participava. Sendo assim, eu achei melhor sair.

Foi uma decisão difícil na época?

No meu caso, eu me aposentei do Senado e abri meus sigilos todos. Eu não podia deixar que isso prejudicasse o presidente. Na verdade, queriam atingir era ele.

Como isso poderia prejudicar o presidente?

A Casa Civil faz toda a coordenação do governo. Na minha época, o perfil do cargo era diferente. Hoje tem secretarias cuidando de relações políticas. No meu tempo, a Casa Civil englobava a coordenação política e administrativa do governo.

O senhor acompanhou as denúncias sobre o ministro Antonio Palocci?

Prefiro não opinar, até porque não conheço todos os fatos. E é uma questão muito pessoal.

Em 1994, após a eleição, o senhor deu conselhos para o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso sobre como deveria ser o perfil do chefe da Casa Civil. Quais foram seus palpites?

Conversando comigo na época ele me pediu uma opinião pessoal sobre isso. Eu disse que tinha que ser uma pessoa muito próxima ao presidente, sem filiação partidária, sem projeto político e conhecedor da administração.

Por que é importante não ter projeto político?

Você tendo um projeto político, sempre acaba sendo sombra de alguém. E tendo filiação partidária fica complicado fazer coordenação política, porque os membros de outros partidos sempre vão achar que você está tendo atuação partidária. (RWG)

A Casa Civil foi a responsável pelo primeiro escândalo do governo Lula, com Waldomiro Diniz. Também foi pivô da última grande crise da era lulista, com Erenice Guerra. E, mais do que isso, foi o epicentro da denúncia que chegou a ameaçar a própria permanência de Lula no cargo, quando o ministro José Dirceu terminou implicado no mensalão, em 2005.

O episódio foi o momento da virada no comando da Casa Civil. José Dirceu, acusado de comandar um esquema de distribuição de dinheiro para que congressistas votassem com o governo, acabou deixando o cargo. Era o terceiro ano do primeiro mandato de Lula. Antes disso, o ministério tinha sido alvo de denúncias quando o assessor Waldomiro Diniz foi flagrado cobrando propina de um empresário.

Para substituir Dirceu, Lula optou por uma tecnocrata – Dilma Rousseff saiu do ministério de Minas e Energia para o centro da coordenação política do governo. Foi com a saída de um político do cargo que os escândalos deram lugar a uma era de popularidade para Lula.

Mesmo assim, a gestão de Dilma não esteve livre de problemas. Sua assessora Erenice Guerra foi envolvida na montagem de um dossiê que teria finalidade eleitoral. E a secretária da Receita Federal Lina Vieira afirmou que Dilma pediu a ela para diminuir o ritmo das investigações contra a família Sarney.

O próximo grande escândalo, no entanto, viria com a saída de Dilma. Erenice Guerra, sua sucessora, se tornou o calcanhar de Aquiles dos petistas durante a campanha eleitoral de 2010 (leia mais nesta página). Segundo alguns especialistas,a denúncia acabou impedindo a vitória de Dilma Rousseff contra José Serra (PSDB) ainda no primeiro turno da eleição.

Avaliação - Scalco diz que FHC fez boa escolha

O presidente Fernando Henrique Cardoso teve bom resultado na Casa Civil durante seus dois mandatos por escolher para o cargo pessoas que não tinham atuação partidária forte ou projeto político pessoal. A opinião é de Euclides Scalco, que no governo FHC ocupou a presidência de Itaipu e a Secretaria-Geral da Presidência.

"Fernando Henrique preferiu chefes da Casa Civil que não eram homens de vida partidária intensa", disse. O primeiro ocupante do cargo na era FHC foi Clóvis Barros Carvalho. O segundo foi Pedro Parente. Cada um passou quatro anos no posto e, depois disso, não disputaram eleições. Parente hoje é CEO da Bunge, uma companhia produtora de alimentos. E Barros Carvalho esteve até recentemente como secretário de governo na prefeitura de São Paulo. "A Casa Civil é o coração do governo. Faz toda a coordenação. Um problema nesse ministério afeta todo o governo", diz Scalco.

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