Na guerra, a verdade é a primeira vítima, já advertia o grego Ésquilo há 3,5 mil anos. Na batalha pela conquista da opinião pública, a disseminação de factoides ganha força num ambiente de agitação política. Na semana passada ocorreu o episódio do habeas corpus (HC) preventivo impetrado em favor do ex-presidente Lula, bastante revelador dessa disputa pelo predomínio do discurso. Houve os que viram ali a confirmação de que seu desejo de ver Lula preso se realizaria em breve; outros aproveitaram para jogar no vento os ataques do autor do HC ao juiz Sergio Moro.
No Paraná, a investigação de corrupção na Receita Estadual fez surgir um blog dedicado a atacar os promotores e o juiz responsáveis pela Operação Publicano. “Essa disputa pelas mentes não é nova. O que mudou é que aumentou muito o número de produtores de conteúdos e a produção saiu do controle”, diz o cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A grande disponibilidade de informação nem sempre ajuda e pode até atrapalhar o debate, alerta Cervi. “O autor do HC do Lula é no mínimo um desequilibrado mental e a iniciativa dele foi usada nas redes sociais por pessoas ligadas ao partido Democratas. Em seguida os veículos tradicionais entraram nessa não-notícia, pois estão correndo atrás do que acontece na internet e então houve essa grande confusão por nada”, analisa.
O HC foi impetrado por um “consultor” de Campinas após uma bebedeira, sem o conhecimento de Lula. O juiz Sergio Moro divulgou nota esclarecendo que o petista não é está sendo investigado na Operação Lava Jato.
O advogado Guilherme Gonçalves faz coro com Cervi sobre o exagero na divulgação do habeas corpus preventivo em favor de Lula, que acabou sendo negado no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, com a justificativa de que não há o risco iminente de que o petista seja preso. “Ficou claro que o sujeito que impetrou o habeas tem problemas mentais. O problema não foi o HC ter sido impetrado, mas a lógica da radicalização política que levou a assessoria do senador Ronaldo Caiado a divulgar algo equivocado e tão forte que causou queda na Bolsa de Valores”, afirma.
Bastante comum nas redes sociais e blogs é a acusação a Moro de ser “tucano”. Em Londrina, o trabalho dos promotores do Gaeco também tem sido atacado na internet. “A internet é onde se prega para convertidos, o que também é importante. Eles estão lá para reforçar suas posições, não para debater”, observa Cervi.



