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O professor Dimas Floriani passou boa parte da vida na UFPR. Chegou a hora de se aposentar e ele cumpriu toda a burocracia. Quer dizer, quase toda. Como tinha ficado um tempo em um cargo de chefia, ele precisou comprovar que tudo aquilo que tinha aprovado tinha realmente sido comprado e estava na universidade. Acharam tudo, exceto uma mesa e uma cadeira.

O problema é que o cargo de chefia já tinha ficado para trás havia alguns anos – e vá saber o que aconteceu com a bendita mesa? Como achar uma cadeira numa universidade espalhada pelo estado inteiro? O fato é que decidiu-se que sem isso ele não se aposentava. E começa aí uma busca que revira cada câmpus, cada sala, vendo as etiquetas de patrimônio para poder dar baixa no material. Antes disso, Dimas estaria preso à universidade. Refém da burocracia.

Por sorte tudo foi encontrado. Mas nem por isso a burocracia universitária deixou de existir. Pelo contrário. Exemplo: se um aluno se graduou da UFPR e quer fazer mestrado na mesma universidade, precisa levar o diploma de graduação; quando termina o mestrado, precisa levar o mesmo documento; e se quiser começar o doutorado, tem que provar que terminou o mestrado – curiosamente a prova precisa ser entregue para as mesmas pessoas que têm como produzir o documento.

Esse tipo de coisa acontece, em grande parte, devido a sistemas de informática que não se conversam. Se uma coisa acontece num prédio, ninguém fica sabendo no outro. Se um departamento carimbou, o outro acha que não vale. Se o endereço é informado a um computador, os demais podem não ter acesso. E o aluno, o professor, o funcionário que se virem para achar o que for necessário e levar aonde lhe pediram.

Pode parecer bobagem discutir isso quando há tanta coisa grave ocorrendo no país. Não é. Esse tipo de coisa trava a educação, a pesquisa científica, a produção de tecnologia de ponta. Mata horas dos melhores cérebros da universidade. E por isso tira horas que deviam ser dedicadas a preparar aulas, fazer projetos de extensão, refletir.

A pauta da diminuição da burocracia entrou na eleição da reitoria da UFPR. É uma boa notícia para um país que nos acostumou com a ideia de que você precisa passar por um cartório para confirmar que sua assinatura é realmente sua. Um país em que achamos normal você ter de provar sempre que não é culpado, achando todas as declarações de “nada consta” para poder participar de algum concurso.

Os dois candidatos prometem rever processos kafkianos, como o dos professores que precisam labutar meses caçando documentos a cada vez que pretendem passar de nível. Se vão cumprir o que estão prometendo, é outra história. Mas pelo menos estão falando de algo realmente prático, o que é sempre um bom caminho numa eleição.

Está na hora de candidatos a outros cargos também pensarem em coisas práticas como essa – ao invés de ficarem martelando as mesmas teclas de sempre, poderiam bolar jeitos de facilitar a vida do cidadão, sem necessariamente recriar o absurdo Ministério da Desburocratização do governo militar.

Quando este país começar a questionar tudo o que precisamos fazer em cartórios, estaremos caminhando para um país melhor.

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