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Gustavo Fruet pegou fama de inapto. O prefeito lento. O homem que governou só com um balde de tinta. Coisas da política: a construção da imagem não é feita só pela propaganda oficial, mas principalmente pelos opositores e pela população. No caso dele, deu nisso. Mas nem sempre a imagem é verdadeira: no caso de Fruet, por exemplo, se você senta pacientemente para ouvi-lo por meia hora, provavelmente sai convencido de que as coisas que ele fez eram as que tinham de ser feitas.

Não só por causa de uma dívida herdada – e também da crise econômica. Mas porque nem sempre a melhor opção para a cidade é cada prefeito ficar inventando de deixar uma “marca”, que às vezes custa milhões e se torna uma obra espantosamente feia e inútil como a ponte estaiada. Fruet escolheu fazer as coisas tecnicamente. Fez tudo meio na surdina. Não tentou aparecer. Tudo que sempre dizemos querer de um prefeito: e se deu exemplarmente mal.

Pegue o exemplo das vagas em creche. Em vez de gastar milhões com novas unidades, a prefeitura optou por aumentar as vagas nas que já existem. Não havia plaquinha para inaugurar, mas isso criou vagas suficientes para zerar a demanda acima de quatro anos. Pegue o trânsito: inaugurar viaduto dá manchete, mas diminuir a velocidade no Centro diminui o número de mortes (só com o proverbial balde de tinta). A prefeitura, de novo, fez a coisa certa.

Não que Fruet não seja mesmo às vezes irritantemente lento. Não que alguém mais criativo não pudesse fazer melhor. Não que essas fossem as únicas escolhas possíveis. Mas, em retrospecto, qualquer um que se debruce desapaixonadamente sobre a gestão terá de dizer que ela foi bem razoável. Mas quem disse que as pessoas se debruçam sobre algo? Ou que são desapaixonadas?

O discurso de Fruet – paciente e desapaixonado, culto e exigente – está longe de ser fácil. E ele preferiu tratar as pessoas como adultas: dizer que não havia dinheiro para fazer estripolias e que, mesmo se o elegessem de novo, não era possível prometer que o maná cairia dos céus, como fazem outros candidatos. Foi sóbrio até o fim. E evidentemente isso trouxe seu preço.

Basta ver a diferença para o discurso dos dois oponentes que passaram para o segundo turno: Greca, com seu estilo espalhafatoso, faz o papel do milagreiro, o técnico cuja sabedoria tudo permite, cujo amor não tem limites e que tratará pessoalmente de cada um de seus concidadãos. (Alguém viu Fruet falar em amor?)

Leprevost, evidentemente menos preparado do que os outros dois, que já estiveram à frente da prefeitura, sofre para saber mesmo os números mais elementares da cidade, mas não parece preocupado com isso. Sabe que tem um poder de comunicação com o cidadão mais simples, que consegue transmitir uma ideia de um sujeito bem intencionado. E, novamente, faz parecer que tudo é possível, que basta vontade política.

Os dois fazem as coisas parecerem mais simples do que são. Um, por dizer que tudo sabe. O outro, por negar as dificuldades. Ambos tratam o eleitor como ele parece querer: como um sujeito passivo que não quer saber das dificuldades de gerir uma cidade de quase 2 milhões de pessoas. Apenas prometam que ele vá às urnas uma vez a cada quatro anos escolher um prefeito que não venha falar que o impossível é realmente impossível.

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