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Vamos direto ao que interessa: essa história de terceiro mandato é toda um horror. E essa opinião não tem nada a ver com a qualidade do governo Lula. Bom ou ruim, um governo não tem o direito (moralmente falando) de mudar a regra no meio do jogo simplesmente para ganhar mais poder, ou mais tempo no poder.

A história política do Brasil nos últimos cem anos foi uma bagunça. Dificilmente você tem um período de quatro mandatos presidenciais seguidos em que o país tenha vivido sob as mesmas regras político-eleitorais. Sempre aparece algum espertinho no meio caminho para mudar tudo. Sempre em seu benefício, é claro.

Em 1930 tivemos uma revolução, feita em parte contra as fraudes vigentes na República Velha. Em 1937, Getúlio cancelou a eleição presidencial alegando temor de um golpe comunista que nunca havia nem mesmo sido planejado – e se tornou ditador. Em 1961, com a renúncia de Jânio, impuseram a criação do parlamentarismo. Três anos depois, a ruptura mais violenta: um golpe de estado. Em 1968, o AI-5, o golpe dentro do golpe.

Depois da volta da democracia, nos anos 1980, a baderna continuou. Sarney negociou para ficar cinco anos em vez de quatro. Collor não teve tempo de mudar as regras do jogo: caiu antes. Mas Fernando Henrique caiu em tentação e conseguiu dar a si mesmo a chance de disputar mais quatro anos de poder – com regras eleitorais que francamente favoreciam sua candidatura.

Lula tem a chance de ser um caso raro em nossa história recente de um governante que aceitou as regras do jogo. Que se contentou em ficar no poder exatamente pelo tempo que a Constituição prevê. Tem a chance também de cair na esparrela armada por amigos do rei que não querem perder o poder.

É evidente que a história do terceiro mandato só foi aventada por um grupo de irresponsáveis porque existe a chance – bastante grande – de o atual grupo não conseguir se manter no poder. A candidatura de Dilma Rousseff tem crescido, mas até o momento parece difícil que ela consiga ganhar de Serra.

(Aliás, quando a ministra da Casa Civil percorreu o país inaugurando obras, o PSDB inteiro chiou que ela estava fazendo campanha antecipada. Serra agora está fazendo o mesmo. Sem contar que está pagando propaganda do estado de São Paulo em veículos de outros estados. E, ao contrário de Dilma, seu mandato se restringe a São Paulo. Curioso como a regra muda de acordo com o interesse.)

O fato é que, por dever cívico, Lula tem de entregar o cargo em 1º de janeiro de 2011. Se fizer qualquer coisa diferente, estará caindo no mesmo erro de seus antecessores e alongando ainda mais a nossa história de bagunça eleitoral.

Ao PT, se não conseguir emplacar seu candidato, restará esperar 2014. Aí, sim, Lula pode disputar a eleição. Se quiser, nisso poderá imitar Getúlio. Pedir para pôr o retrato do velho no mesmo lugar. Isso está dentro da lei.

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