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Laços de família 1

A 100 quilômetros da crise política que se concentra em Curitiba, Paranaguá também vive seus dias de agitação. Por enquanto, só nos bastidores. É que o MP está fazendo uma devassa na administração do prefeito Edson Kersten, cujas relações com a Câmara Municipal têm ido muito além do habitual trâmite burocrático, com o ir e vir de projetos, vetos e sanções.

Laços de família 2

Motivo: os extensos laços familiares entre o Executivo o Legislativo têm dado margem a suspeitas. O prefeito nomeou o genro Roberto Ramos como secretário de Governo, que por coincidência é filho do presidente da Câmara, Josias Ramos, que acumula também a função de líder do prefeito na Casa. O MP investiga indícios de que alguns atos oficiais teriam deixado marcas de possível influência das relações de parentesco que unem os dois poderes.

A “batalha do Centro Cívico” completa um mês nesta sexta-feira (29). Não é motivo de comemoração – ao contrário, permanece ainda vivo o trauma causado pela violência desproporcional que as forças policiais usaram para conter os milhares de servidores que, em 29 de abril, pretendiam impedir “na marra” a votação do projeto de mudanças no sistema previdenciário pela Assembleia. Mais de 200 pessoas ficaram feridas pelas balas de borracha, bombas de gás, spray de pimenta, cassetetes e mordidas de pitbulls.

O Paraná não mais é o mesmo desde então. As imagens da violência policial correram o mundo e corroeram o que restava da boa imagem que o governador Beto Richa empenhava-se em cultivar. Caiu-lhe sobre a cabeça unânime condenação por parte da opinião pública e de organizações de defesa dos direitos humanos, nacionais e estrangeiras.

Em meio à batalha, o governo pode contabilizar apenas uma vitória – a de ter conseguido aprovar o projeto da Paranáprevidência, feito que considerava vital para reequilibrar as depauperadas finanças públicas e para cumprir sem problemas a data-base de aumento do funcionalismo. Aliás, esse foi um dos mais poderosos argumentos brandidos pelo líder do governo na Assembleia, deputado Luiz Cláudio Romanelli, para convencer seus pares a aprovar as mudanças na previdência.

O desgaste não serviu de lição para o governador Beto Richa. Para agravar seu visível processo de derretimento, dias depois do massacre apresentou aos já revoltados servidores uma proposta de reajuste salarial aquém da corrosão inflacionária. Em vez de repor os 8,17% já comidos pela inflação do ano, ofereceu 5% divididos em duas parcelas.

Não poderia esperar outra reação senão a continuidade da greve do professorado e a extensão da paralisação de servidores de outros setores. O prejuízo é brutal e não pode ser traduzido em valores monetários, mas em perda do ano letivo, suspensão de vestibulares e precarização dos demais serviços públicos. A sociedade toda sofre.

O governo não tem como dar o reivindicado aumento integral ? Pode ser. Afinal, as finanças estão de tal modo desorganizadas e as dívidas acumuladas são de tal monta que, de fato, parece não haver fundos suficientes para aguentar a pancada única de 8,17%.

Mas aí está outra lição não aprendida: o governo se nega a dar transparência às dificuldades que enfrenta. Não apresenta números que indiquem com clareza o tamanho de suas receitas, despesas de dívidas. Fontes oficiais divergem sobre cifras; as extraoficiais não se arriscam a fazer projeções confiáveis.

Resultado: crescem a incompreensão e a desconfiança do funcionalismo, que já não vê motivos para acreditar na proposta feita nesta quarta-feira (27) pelo governo de repor em prestações todas as perdas inflacionárias até janeiro, condicionando-as, porém, ao comportamento do caixa até lá.

O problema é que o governo deixou de ser levado a sério. Tanto que talvez seja o primeiro, desde a redemocratização, a ver ameaçada a confortável maioria parlamentar que detinha no início da gestão. Já se contam nos dedos os deputados dispostos a obedecer cegamente às ordens palacianas. Na sessão desta quarta, à exceção de Romanelli e do presidente Ademar Traiano, nenhum deputado da base arriscou um pio em favor da proposta.

A questão do aumento do funcionalismo é, porém, apenas um capítulo de uma novela cujo enredo dificilmente poderia ser imaginado pelo mais competente roteirista da Globo. Tramas paralelas, como a corrupção na Receita Estadual, primos distantes, secretários patéticos e metas de arrecadação de cobertores completam o teatro do absurdo, cujo script conta a história de como um governante, sempre tão vitorioso e bem avaliado, consegue a façanha de gastar seu capital político em tão poucos meses.

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