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O torniquete da Justiça sobre os envolvidos na Operação Quadro Negro está cada vez mais apertado – o que significa que deve estar ainda mais próximo o dia em que o dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, “abrirá o bico” em delação premiada. Ele não pensa apenas em si mesmo; pensa na família. Calado, condena a família para continuar protegendo gente muito poderosa no estado.

Eduardo, que recebeu R$ 20 milhões do governo para construir escolas e, em vez disso, ficou com uma parte e distribuiu outra para políticos e servidores públicos, está preventivamente preso em Piraquara. Já lhe fazem companhia no Complexo Penal o filho Ricardo Baruque e a irmã Viviane. E é possível que nas próximas semanas seja julgado um habeas corpus pedido por sua mulher, Patricia Baggio, atualmente em prisão domiciliar por estar amamentando um filho recém-nascido. Se negado, corre o risco de sair de casa e ir para o presídio.

Pode-se adaptar à situação o velho ditado: família presa unida, permanece unida para recorrer à Justiça. Mas seus esforços têm sido até agora em vão. O último caso de HC negado atingiu a irmã Viviane (aquela que teria tentado subornar funcionárias da Valor para que se mantivessem caladas), julgado no mérito na noite de quinta-feira pela 2.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Dias antes, o ministro Ribeiro Dantas, do STJ, também negou habeas corpus para o filho Baruque.

Pais e parentes próximos preocupam-se com este transe familiar e, na última semana, aumentaram a pressão sobre Eduardo para que ele desobedeça a orientação de seus advogados e ofereça logo uma delação premiada que – pelo peso do que tem a revelar – poderia resultar num desfecho favorável para ele e para a família – do tipo, por exemplo, do que alcançaram alguns colaboradores da Lava Jato, que voltaram para casa sofrendo apenas o incômodo de uma tornozeleira.

Entretanto, as consequências de uma eventual delação por parte do dono da Valor seria devastadora para setores importantes do governo ou muito próximos do Palácio Iguaçu. Por exemplo: encontra-se em liberdade o ex-diretor de Engenharia da Superintendência de Desenvolvimento da Educação (Sude), Maurício Fanini – pessoa cuja atuação, segundo o Gaeco, viabilizou o vultoso desvio de verbas da Educação.

Fanini, como se sabe, figura entre os mais próximos amigos do governador Beto Richa e seria por indicação dele que vários políticos e campanhas foram beneficiados. Logo, uma delação de Eduardo, seguida de provas cabais, terá o poder de complicar a vida de Fanini e de passar o rodo em muitos pisos de mármore que ainda dão ares nobres a alguns importantes gabinetes. Será o apocalipse.

Um brado de guerra

Neste domingo, multidões prometem ocupar as ruas do país em protesto contra o governo. Espera-se que não haja guerra, que os adversários se respeitem e que a violência seja evitada. Por isso, tome-se como figurado o brado que o jurista paranaense René Dotti – um dos mais respeitados criminalistas do país – lançou semana passada diante da plateia que assistia ao ato de filiação ao PV do senador Alvaro Dias. Disse Dotti em discurso: “Se um partido declara guerra, nós vamos à guerra!”

O professor René Dotti, aos 82 anos, dos quais mais de 50 dedicados à advocacia, detém experiência, sabedoria e autoridade moral para falar exatamente o que pensa, ainda que alguns ouvintes, que não conhecem sua história, possam ter se arrepiado com o que ouviram. Lembre-se: nos anos de chumbo da ditadura, enfrentou os militares para defender nos tribunais e na imprensa dezenas de trabalhadores e intelectuais, tidos na época como criminosos em razão da ideologia socialista que professavam.

Suas causas continuam sendo a liberdade e a justiça. E em nome delas apontou razões para a “guerra” que agora quer ver travada: triste é o país que depende de um solitário juiz de direito para impedir um golpe de estado praticado por uma organização criminosa; e em que um ex-presidente afasta o ministro da Justiça para impedir investigações por supostos crimes cometidos por ele.

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