• Carregando...

Quem leu uma entrevista do secretário da Segurança, Fernando Francischini, publicada nesta Gazeta na última quinta-feira (16), deve ter exultado com o êxito que declarou ter obtido em quatro meses de gestão à frente da pasta. Segundo ele, o número de homicídios registrados em Curitiba no primeiro trimestre deste ano foi 17% inferior ao do mesmo período anterior. Isto é, graças à sua dura política de “lei e ordem”, comparados os dois períodos a criminalidade foi drasticamente reduzida.

Os números contidos nos relatórios da Sesp, se contabilizados corretamente, realmente demonstram a diminuição: de janeiro a março de 2014, ocorreram 157 homicídios na capital, ao passo que nos primeiros três meses de 2015 foram contados 131 – ou seja, 26 mortes violentas a menos, o que equivale aos 17% referidos pelo secretário.

Agenda 1

Os últimos dias têm evidenciado o esforço do Palácio Iguaçu para descolar a imagem do governador Beto Richa das posturas e episódios negativos que causaram assombrosa queda na popularidade de sua gestão. Dentre os compromissos bem divulgados que o governador cumpriu estiveram, por exemplo, a audiência que manteve em Brasília com o vice-presidente da República, Michel Temer.

Agenda 2

Destaque-se, em primeiro lugar, a raridade de uma viagem a Brasília e, em segundo, o fato de ter procurado Temer – feito agora coordenador político de Dilma – para pedir mais proximidade do governo federal com o Paraná, de modo a carrear mais recursos da União para o estado. Nos primeiros quatro anos de gestão, Richa foi poucas vezes a Brasília, teve dificuldades para agendar audiências com a presidente e, como regra, punha a culpa dos fracassos no PT e nos paranaenses que ocupavam ministérios.

Agenda 3

Também pouco se valeu da disposição da bancada federal do Paraná no Congresso. Foram raros os contatos com deputados e senadores, mas, na semana passada, recebeu no Palácio Iguaçu uma comitiva de deputados federais liderada pelo coordenador da bancada, João Arruda, do PMDB, sobrinho do senador Roberto Requião. Prometeram-se, reciprocamente, a batalhar em favor de pleitos e projetos que beneficiem o estado.

Agenda 4

Richa participou, também, de reunião dos governadores do Codesul – evento de rotina, durante o qual, porém, aproveitou para defender teses de maior grandeza, como a da necessidade de um novo pacto federativo. Além disso, também apareceu em fotos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB. Tudo isto serve para o governador manter distância cada vez maior do primo que só lhe trouxe complicações.

Memória

“Memória da resistência civil – A liberdade de não ter medo”, título apropriado para contar a história de um advogado que fez história no Paraná e no país defendendo a liberdade de expressão e de imprensa. O advogado é o professor René Dotti, que no próximo dia 22, a partir das 19 horas, autografa sua obra e faz palestra sobre o tema no auditório do Centro de Estudos da Contemporaneidade (Av. Cândido de Abreu, 776, 8.º andar). No livro, Dotti lembra que a ditadura militar foi instalada em 1º de abril de 1964 e já no dia 2 “eu já tentava tirar da cadeia um oficial detido”.

Mas calma lá! Se o leitor recorrer à íntegra do relatório estatístico de 2014, verificará que no último trimestre do ano passado ocorreram 132 homicídios – apenas 1 a mais do que no primeiro de 2015. Ou seja, a criminalidade do último trimestre de 2014 já tinha diminuído os mesmos 17%.

Em resumo, os quatro meses da gestão Francischini mostram que se manteve estagnado o índice de criminalidade de Curitiba – cidade que tomou como exemplo da eficácia da nova política de segurança. Ainda que a população tenha aumentado de um ano para o outro, o crescimento certamente não foi suficiente para alterar a taxa de 32 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Lembrando: a taxa média de homicídios no Brasil, de 29 a cada 100 habitantes, é considerada por órgãos da ONU como “epidêmica”, já que a “tolerável” seria de no máximo 10. Curitiba continua, portanto, sendo três vezes mais violenta do que seria “tolerável”. Dados de 2012 apontavam Curitiba como a 6.ª capital mais violenta – mais violenta que São Paulo e Rio de Janeiro.

Dito isto, ninguém deve ainda se impressionar com a suposta eficiência da nova direção da Segurança Pública. É melhor esperar.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]