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Insondáveis razões levaram nesta quarta-feira (6) o governador Beto Richa a manter no cargo o secretário da Segurança, Fernando Francischini, apontado como principal responsável pela carnificina de 29 de abril no Centro Cívico. Até o meio-dia, dava-se como certa a sua demissão, mas Francischini dirigiu-se ao bunker do Chapéu Pensador, onde Richa se esconde, para fazer um apelo dramático: se fosse demitido, sua carreira política estaria destruída.

Não foram encontradas testemunhas que pudessem confirmar terem sido essas mesmo as razões que teriam feito Richa se compadecer do secretário-problema. Mas é no mínimo estranho que, para salvar a carreira de Francischini, o governador tenha optado pelo próprio suicídio político. Donde se conclui, considerando-se o elevado QI de Richa, que outras causas o tenham convencido a se imolar no precipício para salvar o histriônico auxiliar.

Pouco depois, porém, Beto Richa viu cair sobre sua mesa duas cartas de repúdio elaboradas na caserna – coisa absolutamente inédita e proibida pelos regulamentos da disciplina militar. Na primeira, o comandante da Polícia Militar, coronel César Kogut, protestava contra a covardia do secretário de tirar o corpo fora de qualquer responsabilidade pelo massacre, jogando-a exclusivamente nas costas da PM. A segunda carta, subscrita por 14 dos 19 coroneis da corporação, não só prestava apoio a Kogut como também informava que, tanto no planejamento da operação quanto durante a refrega (que durou mais de três horas), Francischini deu direta aprovação e orientação. Portanto, teriam sido mentirosas as desculpas que deu em entrevista à imprensa na última segunda-feira (4).

Tirar o corpo fora, aliás, é uma especialidade do secretário, como documentam os inúmeros vídeos que o mostram, em desespero, tentando se desvencilhar do agarrão que lhe deu o roliço professor que pretendia impedi-lo de abrir a porta do camburão para que os deputados desembarcassem naquele 12 de fevereiro. Aliás, correu para se esconder atrás da tropa, de modo não figurativo. Assim, não foi surpresa que, após a tragédia de 29 de abril, tenha adotado a mesma prática de fuga.

Mais estranhável – porém não surpreendente – foi a atitude do governador de manter Francischini na secretaria. Não é concebível que permaneça no posto alguém que perdeu a confiança, o respeito e a credibilidade perante os mais altos escalões da Polícia Militar, corporação que, pela cadeia hierárquica de comando, deve obediência ao secretário da Segurança. Ou será que Richa pensa em mandar para casa a elite do oficialato da corporação?

A condenação aos fatos ocorridos no Paraná foi ampla, geral e irrestrita, como se viu na manhã desta quarta quando a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos do Senado Federal ouviu parlamentares de vários estados e depoimentos emocionados de algumas das vítimas do massacre.

A importância que Richa deu à reunião teve a mesma dimensão do funcionário de oitavo escalão que mandou para representá-lo.

A manutenção de Francischini vai até mesmo contra o pragmatismo político que Richa sempre demonstrou. Ao longo da carreira, seu objetivo sempre foi o de ganhar a próxima eleição e fez dos cálculos pragmáticos a sua principal arma.

Foi esse mesmo pragmatismo que o levou a escolher para seu secretário um deputado integrante da “bancada da bala”. Com isso, acreditou atender certos segmentos da sociedade que consideram equivocadamente a violência policial remédio bom para combater a criminalidade. Foi aplaudido.

Só não foi aplaudido por experientes profissionais militares que logo perceberam que, ao chamar Francischini para a Segurança, Richa iria se arrepender no curto prazo. Nesse sentido, foi alertado pela Associação dos Militares da Ativa e Inativos do Paraná (Amai), preocupada com a “cultura da violência” que começava a dar os primeiros sinais em janeiro. A profecia da Amai foi confirmada quatro meses depois.

Nesta quarta, outra entidade, a recém-criada Associação dos Oficiais Militares e Bombeiros (Assofepar), também se manifestou publicamente na mesma linha de repúdio ao secretário e às ações do governo, incluindo uma condenação à lei que mudou a Paranaprevidência. O documento termina assim: “Superior não é proprietário, subordinado não é escravo e obediência não se confunde com subserviência”. Diga-se de passagem: nunca antes na história oficiais da ativa da PM se rebelaram contra seus superiores!

A descrição de tantos fatos assombrosos faz com que se imagine ser o governador uma centopeia dada a enorme quantidade de tiros que tem disparado contra os próprios pés.

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