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A propósito de comentário publicado neste espaço na edição de domingo sobre a informação do secretário de Segurança de que a criminalidade no estado caiu 17% durante os quatro meses em que está à frente da pasta – experiente policial civil, já aposentado, escreve para a coluna para manifestar seu espanto. Por e-mail, ele mostra descrença de que eventuais quedas dos índices de violência no Paraná sejam fruto de políticas oficiais de segurança pública levadas à frente nos últimos dez anos – período que toma como referência porque nele que o crime cresceu exponencialmente no estado.

Memória 1

No domingo, esta coluna registrou errado o endereço do auditório em que o professor René Dotti autografará o livro “Memória da resistência civil – A liberdade de não ter medo”, e proferirá palestra sobre sua história de defesa da liberdade de expressão e pensamento. O lugar certo: auditório da Unicuritiba, à Rua Chile, 1.778. Será nesta quarta-feira, 22, a partir das 19 horas, com entrada franca.

Memória 2

O re-lançamento do livro e a palestra de Dotti chegam na hora certa: profissionais do Grpcom (RPCTV, Gazeta do Povo e Jornal de Londrina) estão sofrendo ameaças em razão de seu trabalho de investigação jornalística no caso das quadrilhas acusadas de propinagens na Receita Estadual. Autoridades também os pressionam para que revelem suas fontes – caso semelhante ao que ocorreu no Espírito Santo em 2003.

Calejado pelos 33 anos de atuação em algumas das mais importantes e violentas cidades do interior e também como titular de delegacias especializadas e postos de direção na Polícia Civil do Paraná, ele afirma que, se de fato houve diminuição da violência em alguns poucos momentos, deve-se buscar a razão em causas externas – nunca na atuação dos governos que se sucederam no período.

Segundo ele, nunca houve nenhuma mudança substancial nas políticas públicas de segurança no Paraná que pudessem justificar quedas mostradas vez ou outra pelas estatísticas – muito menos nestes meses iniciais da gestão do delegado Fernando Francischini. E, neste caso, numa tentativa tosca de querer comparar um momento de alta com um de baixa, sem considerar a série histórica (ver gráfico).

O ex-delegado (que pediu que seu nome não seja mencionado) diz conhecer o grupo de profissionais da secretaria de Segurança responsável pelos relatórios de criminalidade no Paraná. E que, por isso mesmo, não duvida da honestidade dos números, embora discorde de alguns métodos. Mas esta, diz ele, seria até a parte menos importante: se os secretários põem fé nos números, é sobre eles que se deve debater.

Se são verdadeiros, como explicar que mostrem queda da criminalidade exatamente nos períodos em que as polícias mais estavam despreparadas para combater a violência? As viaturas não andavam ora por falta de gasolina ora porque estavam na oficina. Os sistemas de comunicação são ainda praticamente os mesmos de 20 anos atrás. A “inteligência” quase nada evoluiu. Os contingentes policiais (civis e militares) cresceram apenas vegetativamente. A Polícia Científica continua enfrentando enorme insuficiência de profissionais, de equipamentos e laboratórios. A guarda de fronteira continua precária.

Logo, diz o ex-delegado, um secretário – qualquer que seja ele – querer se adonar de uma baixa eventual na estatística criminal é, para dizer o mínimo, uma irresponsabilidade. Ele cita o caso mais recente, em que o secretário comparou diretamente o primeiro trimestre de 2014 com o primeiro de 2015 e, ao encontrar uma diferença para menor de 17%, apropriou-se do índice como se fosse obra sua. “Esqueceu-se o secretário que o número de assassinatos em Curitiba neste trimestre foi igual ao dos dois últimos de 2014, quando ele ainda não era secretário. Portanto, o crime não caiu na sua gestão. Permanece igual nos últimos nove meses”.

O ex-delegado pergunta: “Se nos próximos trimestres o número subir, ele dirá que foi responsável pela alta?”

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