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Algum sábio local poderia se inspirar no presidente da CPI da Petrobras, aquele que quer saber se José Janene realmente morreu, e pedir uma exumação da política paranaense. Não deste ou daquele defunto, mas do conjunto da obra. Porque algo cheira mal no estado e não é de hoje.

Desde antes da violenta repressão policial a professores, dia 29 de abril, a gestão Richa vem sendo encurralada pela opinião pública.

Desde a volta das eleições diretas para governador, em 1982, os sobrenomes Richa, Requião e Dias estiveram em todas as nove disputas pelo Palácio Iguaçu ou por vagas no Senado. Fora os dois mandatos de Jaime Lerner (1995-2002), as famílias mantêm um extenuante revezamento. Que independe de partidos ou ideologias.

Alvaro Dias foi governador pelo PMDB, teve uma passagem pelo PDT e agora está no PSDB. Richa já foi do PTB antes de ser tucano. Requião sempre foi peemedebista, mas só faz o que lhe dá na telha, de citações à Carta de Puebla à tentativa frustrada de coligação com o PSDB em 2006.

Quando a política vira uma guerra entre clãs, e não uma batalha de ideias, o resultado são gestões voltadas para algo que pode ser descrito como “demeritocracia”. Vale contemplar, pela ordem, os interesses dos parentes, seguidos pelos interesses dos parentes dos parentes (como primos distantes, sogras fantasmas, etc.) e, por último, dos parentes dos aliados. Em resumo, quem manda mesmo é o PP, não o Partido Progressista, herdeiro da velha Arena, mas o Partido da Parentada.

Símbolo máximo do nepotismo no Paraná, Requião costuma dizer que a ligação de sangue não pode ser uma cláusula impeditiva para a nomeação de gente competente. Quando governador, a regra valia para o caso dos irmãos, como Eduardo Requião. Após sair da Secretaria de Transportes, Eduardo foi transferido para o Escritório de Representação do Paraná em Brasília, transformado em órgão de primeiro escalão para driblar a súmula antinepotismo editada pelo Supremo Tribunal Federal em 2007.

O que uma área tem a ver com a outra? Boa pergunta.

Na semana passada, Beto Richa fez uma apaixonada defesa da esposa, Fernanda Richa, em entrevista ao portal UOL. Disse, entre outras coisas, que ela tinha “berço” e que “nem sabia o que era um auditor fiscal”. A segunda declaração foi desmentida por publicações do próprio sindicato da categoria, que elogiavam o “empenho” da primeira-dama para a promoção de auditores.

O que a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social tem a ver com as carreiras da Receita Estadual? Boa pergunta (2).

Desde antes da violenta repressão policial a professores, dia 29 de abril, a gestão Richa vem sendo encurralada pela opinião pública. Cresce o coro do “Fora Beto”. Digamos que ele deixe o governo.

Vai mudar alguma coisa? Boa pergunta (3). Mas essa resposta não é tão óbvia.

Richa foi eleito democraticamente, no primeiro turno. O segundo colocado foi Requião. Se uma nova eleição fosse disputada hoje, sem Beto, pode apostar que a corrida seria vencida novamente por um Requião ou Dias.

O dilema da política paranaense é andar em círculos. Uma família assume no lugar da outra, coloca a crise na conta do antecessor, e o estado não vai para frente. O desgaste provocado por esse processo é enorme. Nos anos 1980, com Alvaro, o Paraná investia em obras 22% do que gastava, hoje sofre para chegar a 5%.

Seria cômodo falar que a culpa é do eleitor, mas não é. São os partidos que patrocinam esse modelo, que reduz cada vez mais o oxigênio para o surgimento de novas lideranças. A política paranaense morreu de velha, falta saber se há algum caminho para ressuscitá-la.

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