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Cotas

No Dia da Consciência Negra, as bancadas do governo e da oposição na Câmara dos Deputados aprovaram o projeto de lei que estabelece cotas sociais e raciais (pode me chamar de cromáticas) para o preenchimento de vagas nas universidades públicas federais. O projeto foi mandado ao Senado.

Tramita no STF o julgamento da inconstitucionalidade das cotas do ProUni, argüida pelos donos de universidades privadas e pelo DEM. A iniciativa do governo já teve o voto favorável do relator, ministro Carlos Ayres Britto.

Nada melhor do que o encaminhamento dessa questão na rotina das instituições republicanas. Quando a Casa Grande falava sozinha e a senzala não votava, o Brasil tornou-se o último país livre das Américas a abolir a escravatura.

As políticas de ação afirmativa foram condenadas porque acordariam o gênio do racismo. Não acordaram. (Nada de novo. No século 19, o barão de Cotegipe avisava: "Brincam com fogo, os tais negrófilos".) As cotas criariam constrangimentos, levando alunos negros mal preparados para os cursos universitários. Não criaram. (Parolagem antiga. Em 1885, combatendo a libertação dos sexagenários, o deputado Olímpio Campos advertiu: "Não é humanitário, não é civilizador libertar escravos velhos".)

Entre 2001 e 2008, 52 mil vagas foram oferecidas em 48 escolas que adotaram políticas de ações afirmativas em benefício de alunos da rede pública, negros e índios. Passaram-se sete anos, e até hoje não apareceu um só episódio ou estudo relevante capaz de desqualificar essas políticas.

"Marolinha"

Durante os primeiros 18 dias de novembro, o consumo nacional de energia elétrica ficou praticamente estagnado. Na Região Sul, ele se contraiu 1%. O consumo de energia é um dos melhores indicadores do pulso da economia. Nas projeções oficiais, ao longo do ano ele deveria crescer 3,7%.

Em novembro de 2007, esse indicador registrou crescimento de uns 4% em relação ao consumo de 2006.

Quem acompanha a série diz que não vê coisa parecida há mais de dez anos.

Recordar é viver

Sérgio Figueiredo, memória elegante da vida nacional, lembra uma frase de Carlos Lacerda (1914–1977), um jornalista que sabia da vida:

"Só tem certeza de alguma coisa quem estiver muito mal informado".

Em 1941, o bruxo argentino Jorge Luis Borges escreveu A biblioteca de Babel e contou o mistério do Livro total. Seria "o compêndio perfeito de todos os demais", receptáculo de todo o conhecimento humano. O tesouro estaria perdido.

Pobre Borges. Não viveu o suficiente para ver que são inesgotáveis as horríveis imaginações da mente. Em Brasília e Goiânia existem bibliotecas muito mais cerebrinas. Burocratas da cultura associados a empreiteiros e governantes letrado$ criaram as bibliotecas sem livros, um desafio para filósofos e delegados de polícia.

Os dois templos do nada foram projetados por Oscar Niemeyer e inaugurados em 2006 (ano eleitoral). Deveriam custar algo mais que R$ 40 milhões cada uma. A Biblioteca Nacional de Brasília fica a 500 metros da catedral. Tem cinco andares e 14 funcionários, mas está fechada. Seu acervo de 50 mil livros ainda não foi catalogado. Os donatários esclarecem que o prédio tem capacidade para 250 mil volumes.

A biblioteca irmã tem três pisos, 1.200 metros quadrados e fica em Goiânia, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Está fechada porque o governo não pagou ao empreiteiro, que, por sua vez, apresentou contas que somam R$ 65 milhões. Ao contrário do que sucedeu em Brasília, tem acervo, mas os livros estão encaixotados, pois a instituição não tem funcionários.

Talvez o Livro total de Borges e a imaginação de Umberto Eco esclareçam o mistério. Tendo absorvido toda a sabedoria humana, o monge cego Jorge de Burgos, de O nome da rosa, percebeu a irrelevância do conhecimento e organizou bibliotecas sem livros.

Seriam a prova do compromisso dos governantes com a inteligência, sem dispersar esforços com objetos obsoletos. Burgos já fez isso na Bibliotheca Alexandrina, no Egito, que precisará de 80 anos para encher seu prédio de US$ 65 milhões, e na Megabiblioteca do México, inaugurada e fechada por defeitos na construção. Os empreiteiros ganharam seu dinheirinho, os governantes fizeram festas, os edifícios deslumbraram os transeuntes e, mais uma vez, a patuléia fez papel de boba.

A American Airlines não toma jeito

Ou a American Airlines aprende a tratar seus clientes brasileiros ou deve ser induzida a mudar sua quitanda para outro lugar.

Na semana passada, um comissário de vôo de nome Carlos Carrico insultou e agrediu o sambista Dudu Nobre, que viajava de Nova Iorque para São Paulo com a mulher, Adriana Bombom, e suas duas filhas. Pelo visto, a tripulação deixou de registrar o episódio nos livros de bordo. Diante disso, depois que o casal deu queixa à polícia e botou a boca no mundo, os doutores disseram que eles não haviam reclamado à empresa.

Besteira, eles reclamaram onde deviam e fizeram muito bem, porque a American desdenha as reclamações de seus passageiros.

No dia 14 de setembro, um casal foi maltratado por um comissário de nome Carlos num vôo de São Paulo para Nova Iorque. (Um lance parecido, que poderia ter acabado em agressão física.) O passageiro mandou uma carta à American e não recebeu o devido pedido de desculpas.

Limitaram-se a mandar algumas milhas de bonificação. Índio não quer milha, quer civilização. Se o Carlos de setembro é Carlos Carrico, a American manteve um desequilibrado no seu serviço de bordo.

Em 2004, um piloto da American debochou de agentes da Polícia Federal e foi detido em Guarulhos. Um ano antes, funcionários da American impediram o embarque e trataram grosseiramente o cineasta João Moreira Salles e seu irmão Pedro, que estavam em Nova Iorque e vinham ao Brasil para o funeral do pai. Na ocasião, Pedro recomendou que funcionários do Unibanco não entrassem em aviões da American. Se mais gente fizer isso, talvez tomem jeito.

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