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Eles têm direito a auxílio-moradia, saúde e alimentação. Ganham carro com motorista, desfrutam de um café da tarde gratuito e são presenteados com cestas de frutas frescas no gabinete. Tiram duas férias por ano, que perfazem 60 dias e não 30. Ao gozá-las, recebem 50% do salário como adicional em vez dos 33% pagos ao trabalhador comum. Somam 120 no total. Eles são os desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ), cujo salário médio é de R$ 36.562 − conforme levantamento da revista Época.

Os mimos e benesses concedidos a Vossas Excelências são possíveis graças ao aumento exponencial dos recursos dos cofres públicos estaduais absorvidos pelo Poder Judiciário. Nos últimos dez anos, de 2006 a 2015, o orçamento da Justiça paranaense saltou de R$ 605,2 milhões para R$ 1,95 bilhão. O aumento foi de 222,34%, contra uma inflação de 60,12% no mesmo período, medida pelo IPCA.

Uma década atrás, o Judiciário tinha um “custo” de R$ 58,52 por paranaense. Atualmente, o orçamento da Justiça estadual corresponde a R$ 174,74 per capita – um crescimento de 198,58%.

E se hoje o cidadão do Paraná paga mais para bancar toda essa estrutura, ele pode botar na conta dos vizinhos do TJ no Centro Cívico: governo do estado e Assembleia Legislativa. Nesses dez anos, o porcentual do orçamento – elaborado pelo Executivo e aprovado pelos deputados – disponível para o Judiciário cresceu de 8,5% para 9,5%.

O pulo do gato, porém, se deu a partir de 2011, quando o Fundo de Participação dos Estados (FPE) passou a fazer parte do cálculo para definir o volume do repasse anual aos poderes. Desde então, a manobra engordou os cofres da Justiça paranaense em R$ 953,7 milhões.

O natural, diante do atual rombo nas contas estaduais, seria retirar o FPE da conta – ou, na verdade, ele nunca ter entrado. Mas falta coragem ao governador e aos deputados. Oficialmente, a Casa Civil se diz aberta a debater o tema, desde que a iniciativa parta dos demais Poderes.

Já os deputados, nos bastidores, externam o pânico de afrontar os desembargadores. Segundo eles, não se pode brigar com quem “tem a caneta para te ferrar”. Os parlamentares contam que, sempre que um assunto de interesse do Judiciário tem de passar pelo crivo da Assembleia, eles têm a memória refrescada sobre os processos contra si que dormem nas gavetas do Palácio da Justiça.

Ou seja, é melhor para todos deixar como está. Mais fácil é mexer com a Defensoria Pública, que, aos trancos e barrancos, tenta prestar assessoria jurídica gratuita à população carente. Do orçamento do órgão neste ano, de R$ 140 milhões, o Executivo pretende destinar apenas R$ 45 milhões em 2016.

O mesmo medo que provoca nos políticos, o Judiciário também tenta causar na imprensa. O ex-presidente do TJ Clayton Camargo, por exemplo, dizia não ter de dar satisfações aos jornalistas. “Vai fazer perguntas pra tua mãe”, afirmou certa vez.

O atual comandante da Justiça estadual, desembargador Paulo Roberto Vasconcelos, usa de expediente diferente, mas com finalidade parecida. Ao tomar posse, em fevereiro, deixou isso bem claro: “Acredito que os senhores jornalistas devem ter cautela para chegar e exigir alguma coisa. Os jornalistas exigem, e não se pode exigir, tem que pedir”.

Em resumo, com os cofres cheios e a caneta do destino nas mãos, o Judiciário sabe – e usa – o poder que tem. Quem não concordar, que entre na Justiça!

O perseguido 1

O governador Beto Richa (PSDB) se disse perseguido pelo PT nacional no primeiro mandato. No segundo, com os professores em greve, argumentou que a APP-Sindicato é comandada por partidos adversários. Sobre supostas ligações de sua campanha de reeleição com o esquema fraudulento da Receita Estadual, insinuou que os promotores que comandam a investigação têm ligação com o senador Roberto Requião (PMDB).

O perseguido 2

Esse papel, no entanto, não combina com Richa. Prefeito de Curitiba por duas vezes, na segunda obteve a maior votação da história da cidade. Governador do estado também por duas oportunidades, em ambas derrotou no primeiro turno os maiores nomes da política paranaense. Apesar de um currículo como esse, o tucano tenta parecer que é sempre o Davi a enfrentar Golias e mais Golias a todo o momento. Age como se parecesse acreditar que, ocupando o maior posto do poder público estadual, só teria bônus, jamais ônus. Se as coisas fossem assim, quem não iria querer o cargo? Richa não foi empurrado para a cadeira de governador. Gostou tanto, que se reelegeu para ela.

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