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A estratégia para gerar prosperidade nas cidades passa necessariamente por promover talentos, tecnologias e tolerância. O capitalismo está completando sua transição do modelo industrial para um novo, no qual o conhecimento e a criatividade tornaram-se fatores-chave para o desenvolvimento econômico. E num país como o Brasil – em que União, estados e municípios dividem competências administrativas – isso gera uma série de implicações nas políticas públicas. Embora cada ente da federação vá ter suas atribuições, as cidades, entretanto, detêm papel central, já que é nelas que as pessoas vivem, trocam informações, criam novas ideias, produtos e serviços.

Há um conjunto de medidas que alavancam os municípios como espaços férteis para a criatividade e inovação. Segundo o pesquisador Richard Florida, no artigo “O novo paradigma do Capitalismo Criativo”, publicado na HSM deste mês, ambientes propícios para fazer emergir a criatividade são caracterizados por locais em que há capital humano qualificado, constante evolução tecnológica e abertura e respeito às diferenças de gênero e de culturas.

Para se ter capital humano qualificado não basta ter boas universidades, escolas especializadas ou think tanks. É necessário que a cidade seja atraente aos melhores talentos. Isso se faz não só com urbanismo, mas principalmente criando uma cena cultural vibrante, em que as artes, a música e a literatura prosperem e ocupem o espaço público.

O desenvolvimento tecnológico requer pesados investimentos de governos e do setor privado. Mas nem só de dinheiro se faz tecnologia. Há aspectos sociais que são condição para a escalada do conhecimento. Os profissionais criativos precisam ter espaços, no mundo real e no mundo virtual, que os conectem e que facilite a troca de informações, a possibilidade de parcerias e de criação conjunta. Uma cidade que pretenda ser um polo criativo precisa reunir condições para alinhar os diversos atores e estimular o compartilhamento de ideias e projetos.

A abertura ao novo e à tolerância às diferenças são fatores que facilitam a geração de novas ideias. Por essa razão, é necessário um esforço considerável para criar ambientes em que as pessoas se sintam incluídas, independentemente de gênero e nacionalidade. Então novamente o papel das cidades é fundamental. Não só do ponto de vista de um governo que valorize as diferenças e as concilie para a construção de um projeto de prosperidade local. É essencial que o setor produtivo entenda essa dinâmica. E nesse sentido, as “companhias 2.5”, cujo modelo de negócio tem a finalidade de transformar a realidade social, possuem papel central. Veja o caso da Linyon, empresa que capacita e conecta imigrantes no setor produtivo de Curitiba e cujo propósito é trabalhar para que a diversidade seja fonte de inspiração e união entre as pessoas.

A originalidade e a inovação assumiram tal relevância na produção de riqueza que Richard Florida vem ano a ano publicando o Índice de Criatividade Global (ICG). O Brasil melhorou sua colocação de forma significativa, saltando da 46ª posição em 2011, para a 29ª em 2015. Segundo o pesquisador, um ICG alto está correlacionado com a competitividade das economias, mas apresenta uma relação ainda maior com o empreendedorismo – mais criatividade, mais empreendedores de sucesso.

Em seu artigo, Florida afirma ainda que a densidade populacional e a urbanização são peças-chave para a inovação e o desenvolvimento da economia. Diz também que a relação entre o índice e a desigualdade de renda mostram o benefício do capitalismo criativo para poder aquisitivo da população, desmentindo o argumento de que as transformações em curso reduzem a igualdade econômica. Então, se quanto mais criatividade, menos desigualdade, há razões de sobra para que as cidades congreguem esforços do setor público, do setor privado e das empresas de impacto, assim como do terceiro setor, para construir cidades de originalidade exuberante.

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