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Na literatura fantástica, trolls são seres abjetos, rudes e violentos cujo destino preferencial é ser morto pelo herói da vez, que pode usar de capa, espada e magia para derrotar o inimigo. Trolls são conhecidos também por não serem muito espertos. Não é à toa que o termo passou a ser usado para rotular internautas cujo objetivo é baixar o nível das discussões em fóruns e redes sociais on-line. É a trolagem generalizada uma das responsáveis pela contaminação do debate político a ponto de uma parcela expressiva da população aceitar o discurso da volta da ditadura.

O debate público nas redes está péssimo. Sinal que a educação precisa melhorar mais rápido que a simpatia a golpes militares. É difícil hoje ter notícia de escola que se preocupe em capacitar os estudantes para o debate democrático. E mesmo quando isso ocorre, os efeitos são imperceptíveis no curto prazo.

Agora imagine que uma legião de “robôs” passe a propagar mensagens pró-democracia, em favor do respeitoso debate de ideias. “Robôs” são programas que replicam mensagens nas redes sociais mais rápido que mãos humanas teriam a capacidade de fazer. Poderiam eles induzir os internautas a um comportamento mais interessante nas redes sociais? Em outras palavras, seriam os robôs armas contra os trolls da ditadura?

Da ficção para a realidade

A questão pode até soar ficção científica. Mas há chances de ela funcionar. Na política tradicional, o uso de robôs se tornou comum nas eleições de 2014. Documento reservado do Palácio do Planalto que veio a público nesta semana mostra que tanto PT quanto PSDB gastaram milhões de reais durante a campanha eleitoral em ações on-line com uso de robôs.

Segundo o documento, a campanha de Aécio Neves teria usado cerca de 50 programas robôs nas redes sociais mesmo após a eleição a um custo de R$ 10 milhões. Os robôs do PT teriam deixado de ser usados logo após a vitória de Dilma Rousseff. De acordo com o documento, isso contribuiu para um resultado “avassalador”, engajando cerca de 20 milhões de manifestantes antigoverno, enquanto que as páginas de Dilma e do PT foram compartilhadas por 3 milhões de pessoas. Mensagens, textos e vídeos contrários à presidente foram expostos a 80 milhões de pessoas. As páginas governistas, a 22 milhões. A avaliação é que Dilma e o PT está perdendo por WO, ao não marcar presença nas redes.

O documento reservado do governo peca por acreditar que as manifestações são fruto de uma guerrilha virtual. Crise política, problemas na economia e escândalo de corrupção na Petrobras são os motivos reais das manifestações que estão ocorrendo. Mesmo assim, está claro que programas robôs agradam a petistas e tucanos.

Bombardeio

Quando até o mundo da política tradicional está dando atenção a métodos não ortodoxos de propaganda para o embate na guerrilha digital, é de, no mínimo, desconfiar que a estratégia com robôs funciona. A comunidade hacker pode transcender as fronteiras de sua atuação ao começar a projetar robôs que possam estimular a cultura política participativa, democrática e inclusiva.

O bombardeio de mensagens “do bem” pode gerar um ambiente de debate saudável e inibir a atuação de trolls, que podem vir a ser mais censurados que aplaudidos. As manifestações, legítimas, terão menos risco de ser contaminadas por grupos minoritários de indivíduos com desejos ditatoriais ou ações violentas, como já ocorreu em passado recente, com os black blocs.

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