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A intensidade das manifestações do próximo domingo será medida com muita atenção pelo Congresso Nacional e pelo Palácio do Planalto. Se irrelevantes, o desmantelamento das medidas contra a corrupção, iniciado malandramente na Câmara dos Deputados na calada da madrugada de quarta-feira, será completado sem maiores atropelos no Senado. Se volumosos, as principais lideranças nacionais saberão que a farsa da coletiva convocada pelo presidente Michel Temer, no domingo passado, não foi aceita pela população brasileira.

Motivos para protestar há de sobra. Foi muita ousadia o presidente Michel Temer convocar entrevista ao lado dos chefes do Legislativo Federal, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fim de assegurar que não haveria anistia do caixa dois, para, na mesma semana, o país ver as 10 Medidas contra a Corrupção serem completamente desfiguradas. O que parecia ser um pedido de confiança no domingo se tornou uma dissimulação, mal disfarçada, diante dos acontecimentos que se sucederam durante a semana.

Aproveitando-se de um momento de comoção nacional, em que a sociedade chorava os mortos da tragédia da Chapecoense na Colômbia, a Câmara aprovou medidas que na prática ameaçam a independência de membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, além de enterrar modificações que iriam melhorar o combate à corrupção no país.

Por pouco o projeto, desfigurado, não passou em votação relâmpago também no Senado — Calheiros tentou aprovar um pedido de urgência para votar as medidas, mas foi derrotado em plenário. Dada a falta de comprometimento de Maia e Renan com o endurecimento do cerco aos crimes de colarinho branco, é de se questionar o que faria o presidente se as medidas fossem aprovadas nas duas casas.

Temer tem se demonstrado bastante ambíguo no apoio à Lava Jato e no combate à corrupção. Um de seus principais auxiliares, o líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), foi apanhado em interceptações telefônicas garantindo que um “grande acordo nacional” seria realizado sob sua presidência. E agora o presidente convocou coletiva para declarar que iria impedir uma forma de impunidade — a anistia ao caixa dois —, mas nada disse sobre como se comportaria a respeito de outras tramas, muito piores, que já vinham sendo articuladas nos bastidores do Congresso e que, dada sua experiência política, é difícil crer que ele ignorava.

Neste momento é preciso saber, afinal, para qual lado pende o pulso do presidente: em favor de um Congresso preocupado em salvar parte de seus membros de crimes cometidos, ou da sociedade e do Estado Democrático de Direito, ao qual se comprometeu em salvaguardar?

Ao dizer uma coisa, mas deixar a realidade dos fatos indicar outra, Temer comporta-se como um governante fraco e pode ter o mesmo destino da ex-presidente Dilma Rousseff. O mercado, que não é bobo, já percebeu os passos vacilantes do presidente e ontem deu o seu recado na alta do dólar e na queda da bolsa. O entendimento é de que a crise política, dessa vez realimentada pelo triunvirato Temer-Calheiros-Maia, pode tornar a situação do governo insustentável.

Se havia um grande acordo para esvaziar a Lava Jato e, ao mesmo tempo, aprovar o ajuste fiscal necessário para fazer o país crescer, essa estratégia terá de ser revista pela elite política. Embora seja difícil saber a magnitude das manifestações do próximo dia 4, nas redes sociais e na mídia o Congresso já perdeu. E, certamente, irá perder ainda mais se não mudar sua conduta. O que ainda é uma incógnita é a real grandeza que Temer possui. Está na hora de o presidente mostrar a que veio e quem o seu governo serve.

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