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Delcídio, sem saber que estava sendo gravado, falou de tudo e de todos. | José Cruz - Abr
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Delcídio, sem saber que estava sendo gravado, falou de tudo e de todos.| Foto: José Cruz - Abr /José Cruz - Abr

Além de comprometer diretamente o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o banqueiro André Esteves, o áudio da reunião com o parlamentar, gravada pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, traz diversas especulações dos presentes sobre a Operação Lava Jato e outros assuntos. Na conversa, estão presentes, além de Delcídio e Bernardo, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, e o assessor do senador, Diogo Ferreira.

Já no início da gravação, que dura 1h30, os presentes relatam um possível acordo do senador Romário (PSB-RJ) com o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PMDB) que trocaria um “acerto” não definido sobre contas na Suíça por apoio político. Eles especulam ainda sobre quem teria vazado informações da Lava Jato, tratam da empresa que faria a fuga de Cerveró, e conversam sobre a atual situação da Petrobras, entre outros assuntos. Confira alguns trechos da conversa extraídos da gravação:

Acordo com Romário

Delcídio cita que ouviu do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), um acordo para que o senador Romário (PSB) apoie a candidatura de Pedro Paulo de Carvalho (PMDB) à prefeitura, no ano que vem. Edson Ribeiro e o filho de Cerveró, Bernardo, perguntam então se realmente Romário tinha alguma conta na Suíça. Delcídio responde que “em função disso fizeram acordo”. O advogado completa: “Seu amigo, então, foi comprado. Tira porque senão você vai preso”. Na quinta-feira (26), Paes confirmou à imprensa a existência de acordo em torno da candidatura, mas negou a negociação sobre a conta na Suíça. O suposta existência de uma conta de Romário na Suíça foi relatada pela revista Veja em julho, mas negada posteriormente. Romário nega o acordo com Paes e a existência da conta no exterior.

Nova fase?

Os presentes no encontro especulam sobre uma nova fase da Operação Lava Jato. Edson Ribeiro diz acreditar na prisão de “uns 50” nesta nova fase. Delcídio pergunta então se o pecuarista José Carlos Bumlai estaria na lista e Edson afirma que “acha que sim”. O advogado cita ainda que acredita que, nesta fase, deve ser presa uma pessoa de nome “Moreira”. Mais adiante na gravação, Delcídio cita que, a parte da delação premiada de Fernando Baiano a que teve acesso, “fala do Bumlai, do Lula, que é basicamente o roteiro”. A 21ª fase da Operação Lava Jato, com a prisão de Bumlai, ocorreu 20 dias após o encontro.

Fuga com empresa aérea

No trecho em que combinam uma possível fuga de Nestor Cerveró para a Espanha, Edson Ribeiro cita a empresa Rico Linhas Aéreas, que seria de propriedade de um amigo de quem é advogado “há trinta e tantos anos”. Delcídio conta então que já viajou com a empresa citada. Eles comentam então os nomes dos familiares que comandam a Rico: “Era o dono, Munur Yutsever, era conhecido como Mickey, o dono, e os filhos hoje é o Átila e o Metin, e tem o tio que é o Omar, Omar Yutsever, é, Átila Yutsever”, cita Edson Ribeiro.

Conversa com o ministro da Justiça

Além de relatar encontros com ministros do Supremo Tribunal Federal, Delcídio diz que conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo sobre um ministro do Superior Tribunal de Justiça recém-empossado da Corte. Eles conversavam sobre um habeas corpus para Cerveró e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, também preso, dando a entender que ele daria uma decisão favorável à liberdade deles. “Sobre o STJ, ontem eu conversei com o Zé Eduardo, muito possivelmente o Marcelo na turma vai sair”, disse o senador.

Vazamento

Os presentes no encontro especulam sobre quem teria vazado parte das informações prestadas por Nestor Cerveró que chegaram às mãos do banqueiro André Esteves, que acabou preso juntamente com Delcídio. Primeiro, eles citam o nome do doleiro Alberto Youssef, que dividia cela com o ex-diretor. Depois, eles especulam sobre “um japonês bonzinho” que controlaria a cela e venderia informação para revistas. “É o japonês. Se for alguém, é o japonês”, afirma Edson Ribeiro. Eles citam ainda o nome de Sérgio Riera, advogado de Fernando Baiano. “Só pode ter saído, do escritório da Alessi, Polícia Federal ou Sergio Riera”, diz Ribeiro. Alessi pode ser Alessi Brandão, advogada em Curitiba e que atuava em parceria com Ribeiro na defesa de Cerveró.

Cunhado de José Serra

Citando termos da delação de Fernando Baiano, Delcídio diz que o operador “é matreiro” porque poupou nomes nos depoimentos. “Na delação, quando ele conta quando me conheceu, quando eu era diretor e o Nestor [Cerveró] era gerente, ele diz que foi apresentado a mim por um amigo. Ele poupou ao Gregório Marin Preciado”, relata Delcídio. Preciado é um empresário espanhol, cunhado do senador José Serra (PSDB). A companhia Iberbras, citada por Baiano como receptora de parte da propina da Refinaria de Pasadena (EUA), está registrada no nome da filha e do genro de Preciado. “Ou seja, o Fernando tá na frente das coisas, mas atrás quem organiza é o Gregório Marin”, diz Delcídio.

Kakay “complicado”

Edson Ribeiro cita um encontro com o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, em que ele teria pedido uma cópia do habeas corpus que Ribeiro elaborou. “Eu não mandei a cópia pra ele, tá!? Eu esperei falar com vocês (...). Porque eu tenho medo”, diz Ribeiro. Delcídio concorda e afirma que Kakay iria “usar o HC dizendo ser dele”. Edson questiona então se o advogado “atrapalha ou ajuda”. “É, o problema é esse, porque o Kakay, pelo estilo que ele tem, é complicado”, avalia Delcídio. “É, é vaidade pura ali”, complementa Ribeiro.

Material copiado

Em outro trecho, Delcídio pergunta se o operador do esquema Fernando Baiano “pegou o material que o Nestor [Cerveró] tinha feito”. Edson Ribeiro responde que sim e diz então que o advogado de Baiano, Sergio Riera, “se atravessou na história” e, para ajudar, acabou “fazendo uma sacanagem”. Não fica claro do que se trata o material. Posteriormente, Delcídio conta que conseguiu acesso a parte da delação de Baiano que diz respeito a ele próprio.

O misterioso Eduardo

Delcídio critica Fernando Baiano, delator da Lava Jato, e diz que o que operador fez com Nestor Cerveró foi uma “calhordice”. “É uma vergonha o que ele fez, bicho! Para as oportunidades que o Nestor deu”, diz. O senador afirma ainda que Baiano não teria citado na delação o nome de “Eduardo”. “Inclusive no texto tem diálogos dele com o Eduardo com relação a outras pessoas”, diz o senador, que não dá mais detalhes sobre quem seria Eduardo.

Conversa inexistente e consulta a Sarney

Citando a delação de Fernando Baiano, Delcídio diz que, nos termos do acordo com a força-tarefa da Lava Jato, constam relatos de conversas do senador, “junto com o Silas”, com Nestor Cerveró. O ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau foi citado na delação de Baiano. O senador diz então que “revirou” sua agenda e não encontrou registros dessa conversa. “O período que ele fala eu não tive contato com esse pessoal”, diz Delcídio. Depois, o senador relata que Silas o procurou dizendo que esteve com o ex-presidente José Sarney afirmando que não esteve reunido com Delcídio. “Aí, fala que ele ia viajar e estava apavorado dele ser preso e eu falei: Silas, se manda, vai viajar com tua família, esqueça”, relata o senador.

Acordo na Suíça

Delcídio, citando o trecho da delação premiada de Nestor Cerveró a qual teve acesso, cita um acordo com a procuradoria da Suíça. “Mas ele chegou a fazer algum acordo com aquele procurador suíço”, pergunta o senador. “Foi. Fez. Pagou”, diz Edson Ribeiro. “Mas a título de que ele fez?”, retruca Delcídio. “Pagou. Pra não ser processado”, responde Ribeiro. “Pra não ser processado lá”, complementa Bernardo.

Petrobras

Delcídio cita o nome do desembargador aposentado Armando Toledo, que atualmente é consultor do presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. “Ele me detalhou que esse negócio de advogado está dando um bode (...) lá dentro da Petrobras. Tem rolo pra tudo quanto é lado (...). Então ele disse pra mim que ia te ligar. Tá?”, diz Delcídio ao advogado Edson Ribeiro, relatando um possível caso de “abuso” de seguradoras sobre pagamento de ex-funcionários da estatal afetados pela Lava Jato.

Bendine, a rainha da Inglaterra

Sobre a situação atual da Petrobras, Delcídio do Amaral comenta que, hoje, “quem manda” na estatal são Jorge Celestino, diretor de Abastecimento, e Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção. “O [Aldemir] Bendini [atual presidente da Petrobras] tá numa situação difícil”, relata Delcídio, descrevendo um possível rebaixamento do presidente da estatal. Depois, o senador fala que, na verdade, quem está no comando da Petrobras é a presidente Dilma Rousseff. Edson Ribeiro compara então Bendine à rainha da Inglaterra e o senador ri.

Ajudinha no Iphan

Já no final da conversa gravada, o advogado Edson Ribeiro pede uma ajuda do senador Delcídio no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele relata que uma amiga tem um hotel na praia de Joatinga (RJ) e que o instituto “está criando caso” em um projeto dela. Delcídio pede então para seu assessor anotar o número do processo e diz que vai conversar com Jurema de Sousa Machado, presidente do Iphan, para resolver a situação.

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