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Márcio Adriano Anselmo, delegado da PF | Antônio More/Gazeta do Povo/Arquivo
Márcio Adriano Anselmo, delegado da PF| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo/Arquivo

Em sua mais difícil fase, a Operação Lava Jato perdeu nesta semana o delegado da Polícia Federal que iniciou, em 2013, as investigações de lavagem de dinheiro que revelaram o escândalo na Petrobras. Aos 39 anos, Márcio Adriano Anselmo está de mudança para Vitória, onde vai assumir a Corregedoria da PF no Espírito Santo.

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Na quinta-feira (23), foi publicada a ordem de remoção de Anselmo, que deixa a equipe da Lava Jato, em Curitiba, depois de três anos de investigações ostensivas e 38 operações deflagradas. “De nada adiantará a Operação Lava Jato se os políticos envolvidos não forem punidos”, disse ao Estado. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

A Lava Jato completa hoje 3 anos de fase ostensiva. Há o que comemorar?

Certamente. A Lava Jato é reconhecida nacional e internacionalmente como a maior operação de combate à corrupção da história.

A Lava Jato está acabando?

Acredito que não. Creio que o trabalho da primeira instância, ao menos no Paraná, está próximo da sua conclusão, mas ainda há uma imensidão de trabalho nas investigações que envolvem autoridades com prerrogativa de foro, bem como vários trabalhos em andamento em outros Estados, muitos deles “filhotes” da Lava Jato.

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O Supremo Tribunal Federal recebeu a maior carga de pedidos de investigação da Procuradoria-Geral da República contra alvos com foro privilegiado da Lava Jato. A Corte está preparada para julgar esses processos?

Não, de forma alguma. O Supremo não tem estrutura, seja para a fase de investigação ou para a fase das ações penais. Veja o tempo que a pauta do STF ficou trancada para o julgamento do mensalão, que era um único processo. Quase todos os casos de ações penais que lá tramitam acabam prescrevendo. O problema é estrutural. Tudo no Brasil termina no STF e isso precisa ser revisto. A quantidade de autoridades no Brasil com foro por prerrogativa colabora com esse estado de caos e funciona como garantia de impunidade.

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A punição de políticos que participaram do esquema de corrupção na Petrobras é essencial para que a Lava Jato seja efetiva?

De nada adiantará a operação se os políticos envolvidos não forem punidos. Os demais envolvidos, como corruptores, agentes públicos e operadores financeiros, sempre atuaram na certeza de serem blindados.

Uma anistia geral para os alvos políticos não poderia representar um retrocesso?

Uma anistia dessa forma, como já foi cogitado, seria o fim da Lava Jato. Seria a prova irrefutável de que o crime compensa no Brasil.

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O sr. deixa a equipe da Lava Jato com um pedido feito um ano atrás, em que se declarou esgotado. Seu estresse e cansaço têm relação com pressões sofridas ou ameaças de processos?

Poucos conhecem o ritmo de trabalho da equipe da Lava Jato, seja na PF, Receita, Ministério Público Federal ou Justiça Federal. Antes da deflagração da primeira fase, por falta de pessoal, levava trabalho todo dia para casa para garantir o cumprimento dos prazos rígidos das interceptações. Cuidava do monitoramento de mais de uma dezena de e-mails. O cansaço físico e mental é inevitável. Já tinha manifestado meu desejo de sair. Trabalho na área de crimes financeiros e desvio de recursos públicos há mais de dez anos. É uma área que exige muito e às vezes é preciso parar e retomar o caminho.

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