Em depoimentos nesta segunda-feira (04), na Justiça Federal de Curitiba, dois dirigentes da Camargo Corrêa confirmaram o pagamento de R$ 110 milhões em propina para abastecer o esquema na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato. O presidente Dalton Avancini e o vice-presidente da companhia Eduardo Leite detalharam também como ocorriam os acordos entre as empresas que formavam o “cartel” para licitação de obras.
A propina, segundo os depoimentos, foi paga sobre dois contratos, entre 2008 e 2013: da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar, no Paraná) e Refinaria Abreu e Lima (Rnest, em Pernambuco). Assim como já havia sido detalhado por outros réus da operação, 1% do valor de cada obra era destinado à Diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque e Pedro Barusco, e outro 1% era repassado à Diretoria de Abastecimento, cujo diretor era Paulo Roberto Costa.
No total, a diretoria de Serviços teria recebido R$ 63 milhões, por intermédio principalmente do executivo da Toyo-Setal Julio Camargo, e a de Abastecimento, R$ 47 milhões, negociados pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010. Avancini e Leite, que firmaram acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), afirmaram ainda que tinham conhecimento de que o dinheiro era destinado ao PT e ao PP.
Questionado sobre esses pagamentos, Leite e Avancini afirmaram que “herdaram” uma prática que já era comum na empresa e também entre as demais citadas na Operação Lava Jato. A recusa sobre o repasse da verba, segundo Leite, culminaria em “dificuldades na gestão contratual”. “Isso [o pagamento de propina] havia sido pactuado, eu herdei [...]. Eu diria que se não pagasse, haveria muita dificuldade na gestão contratual junto a Petrobras”, disse Leite.
Cartel
Presidente da empresa, Avancini afirmou que participou de algumas reuniões do chamado cartel de empresas para obtenção de contratos com a Petrobras. Ele disse ter participado ativamente das negociações em torno de um pacote de obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que, a princípio, ficaria com a Camargo Corrêa. Mas informou que, posteriormente, as negociações com a Petrobras não prosperaram.
Já Eduardo Leite detalhou como foi seu encontro com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que, segundo o delator, o teria procurado em 2010 para negociar pagamentos atrasados de propina por parte da Camargo Corrêa. O vice-presidente afirmou que Vaccari propôs o acerto da verba por meio de doações ao PT, o que acabou não ocorrendo. “A gente tinha uma distância muito grande dos partidos políticos”, afirmou no depoimento.



