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Deputada paulista Luiza Erundina é uma das líderes do novo partido | Brizza Cavalcante
Deputada paulista Luiza Erundina é uma das líderes do novo partido| Foto: Brizza Cavalcante

Insatisfeito com o apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno das eleições presidenciais do ano passado, um grupo abandonou a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, e articula a criação da Raiz Movimento Cidadanista, que se define como um “partido-movimento”, junção entre movimento social e partido político. O ato de fundação ocorreu na última sexta-feira (22), paralelamente ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O próximo passo é a coleta de assinaturas para a obtenção do registro. Na linha de frente está a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), ex-prefeita da cidade de São Paulo.

A apresentação da Raiz, na “Carta Cidadanista”, é estruturada no formato de uma árvore: seus valores, princípios e objetivos são definidos como raízes, seiva, tronco, ramos, folhas, flores e frutos. O partido tem como “raízes” a ética Ubuntu, conceito africano de “rompimento com o individualismo”; a filosofia Teko Porã, que significa “bem viver” em guarani, e, nesse caso, “viver em aprendizado e convivência com a natureza”; e o ecossocialismo, convergência entre reflexão ecológica, socialista e marxista.

“A partir dessas três éticas (Ubuntu, Teko Porã e ecossocialismo), a gente compõe o conceito de cidadanismo, o poder para o cidadão, que se traduz na recuperação da ideia do bem comum”, afirma o historiador Célio Turino, ex-porta-voz da Rede em São Paulo e um dos organizadores da Raiz.

Os organizadores produziram um guia de sete páginas com sugestões de práticas para alcançar o consenso progressivo, método adotado por eles para tomar decisões. Segundo o manual, esse processo deve durar de três a 15 dias. “Deve-se iniciar um tópico com a apresentação de uma preocupação e não com uma proposta pré-formulada”, diz trecho do guia.

Segundo Turino, a Raiz tem 237 fundadores, aproximadamente mil ativistas e está presente em todas as unidades da federação. A influência do “partido-movimento” vai desde o sindicato de pescadores do Amazonas até grupos veganos. Entre as inspirações estão o Syriza na Grécia e o Podemos da Espanha.

“Nos propomos pensar o Brasil de baixo pra cima, pela radicalização dos processos horizontais e interativos, garantindo o efetivo empoderamento das pessoas, numa nova concepção do fazer político”, diz um vídeo de apresentação da Raiz.

O grupo está arrecadando dinheiro pela internet. Segundo prestação de contas divulgada pela Raiz, foram levantados R$ 5.529 de 18 de dezembro até 15 de janeiro. Nesse quesito, a linguagem é bem direta. “O fato é que a fundação e formalização da Raiz demandará custos, e precisamos de dinheiro para isso. Sobretudo para as despesas de cartório e da publicação dos documentos no Diário Oficial da União, assim como para a coleta das 493 mil assinaturas de apoio. Se esse dinheiro não vier do esforço de nossa própria mobilização e das pessoas que acreditam ser possível e necessária uma nova forma de fazer político, ele não virá de lugar nenhum”, diz texto publicado em um site de financiamento coletivo.

O “partido-movimento” é constituído por “círculos” temáticos, territoriais e identitários (LGBT, indígenas, jovens), que são instâncias de debate. Há também os grupos de trabalho, entre eles o de “polinização”, que trata de comunicação, e o “seiva”, de formação e capacitação.

“Não é só o nome que é diferente, é a própria concepção de “partido-movimento”. Quem participa, se quiser permanecer e não se filiar ao partido, pode fazê-lo, mas com os mesmos direitos. A estrutura é completamente democrática, plural, horizontal. E o poder de organização se dá a partir das bases do partido. São os círculos temáticos, pessoas que se juntam em cada cidade, local e passam a discutir um tema, passam a se articular”, diz a deputada Luiza Erundina, líder da Raiz.

Erundina, que assumiu a coordenação da campanha presidencial de Marina Silva após a morte de Eduardo Campos, afirma que a Raiz tem diferenças ideológicas com a Rede, como valores comportamentais, entre eles a defesa dos direitos LGBT.

“Pretendemos ser uma proposta socialista de fato, de esquerda, defendemos o ecossocialismo. E não nos afirmarmos como sendo a proposta, a verdade, o novo. A Rede foi uma tentativa de mudança que não se viabilizou”, afirma Erundina.

Ela também se diz decepcionada com seu partido, o PSB, e defende a realização de uma reforma política para corrigir distorções do sistema partidário. “Não sinto o PSB fiel às suas origens. O partido tem adotado política de alianças de A a Z. Não concordo”, diz.

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