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Eduardo Cunha usou o jogo político para fazer aprovar o que realmente queria, diz especialista. | Ueslei Marcelino/Reuters
Eduardo Cunha usou o jogo político para fazer aprovar o que realmente queria, diz especialista.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A movimentação de quarta-feira (27), no Congresso Nacional comprova o poder individual do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que conseguiu se articular e “dar o troco” na questão que lhe era mais cara: o financiamento privado de campanhas. A avaliação é de Carlos Melo, cientista político do Insper. Para Melo, a votação do distritão, que foi a seu ver precipitadamente avaliada como uma derrota de Cunha, mas era apenas uma forma de o presidente da Câmara “colocar o bode na sala”, desviando a atenção e mantendo o foco no financiamento empresarial durante as negociações com os parlamentares.

“O objetivo de Eduardo Cunha era colocar na Constituição o financiamento privado. Sua arrogância e nepotismo na forma em que desmobilizou a comissão da Reforma Política fizeram com que ele perdesse o que mais buscava na votação de terça-feira [26], mas ele conseguiu dar o troco ontem [quarta]. De alguma forma, o que aconteceu não surpreende, pois foi a reação de um ator político que ainda tem a maior força individual no Congresso Nacional.”

Carlos Melo avalia que Cunha soube ter frieza aliada a uma grande “esperteza regimental”, pressionou os partidos pequenos, e conseguiu aprovar na noite de quarta-feira a emenda do líder do PRB, Celso Russomanno (SP). A proposta contornou o financiamento empresarial direto a candidatos, mas liberou a doação de pessoas jurídicas para partidos. “É uma mudança muito lateral, mas que piora o sistema, pois piora a transparência”, disse Melo ao explicar que a medida aumenta o peso do mecanismo de doação via partido, mesmo que esse dinheiro já seja destinado a um candidato específico. “Hoje, você tem a possibilidade de alguma transparência, com essa regra, acaba.”

PT

A emenda de Russomanno vai na contramão do que vem defendendo o partido da presidente Dilma Rousseff, que anunciou que não receberia mais doações empresariais nos diretórios mas não havia definido ainda como ficaria a doação para candidatos. Para Carlos Melo, se a PEC aprovadana quarta na Câmara passar no Senado, a tendência é o PT voltar atrás, pois não faz sentido a legenda se “auto-flagelar” quando o sistema escolhido por todos é outro. “Sempre há a possibilidade de o PT morder a língua. O partido pode dizer que defendeu, na reforma política, o fim do financiamento privado e que foi derrotado em manobra do Eduardo Cunha”, avalia.

Reeleição

Para o cientista política, a aprovação do fim da reeleição na Câmara foi mais uma forma de “fazer barulho”, enquanto se aprovava a matéria central para os parlamentares, que era o financiamento privado. Carlos Melo acredita que a medida deve cair quando chegar ao Senado. “Por que o fim da reeleição interessaria agora que a oposição está mais forte, quando PMDB e PSDB têm chances reais de chegarem ao governo em 2018?”

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